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América Latina

Reagir ao cerco da extrema-direita!

Em todo o continente, os trabalhadores estão sendo massacrados pela política neoliberal. É preciso derrotar a direita antes que a burguesia organize uma ofensiva ainda mais dura.

Ao menos três manifestantes que participaram da greve geral contra o governo de Iván Duque, na última quinta-feira (21), foram assassinados pelo Estado colombiano. O protesto contra contou com mais de um milhão de pessoas e colocou o país caribenho no eixo de países convulsionados na América Latina.

O enfrentamento das massas colombianas à política neoliberal do governo de Iván Duque dá sequência aos protestos que vêm ocorrendo no Chile, na Bolívia, no Equador e no Haiti. Tais eventos, no entanto, não são acidentais: o continente inteiro se encontra em estado de ebulição, e levantes em todos os países devem ser esperados para o próximo período.

A crise profunda e irreversível em que o capitalismo se encontra está levando a burguesia internacional, isto é, o imperialismo, a desenvolver uma política de pilhagem em toda a América Latina. Afinal, a única maneira de dar uma sobrevida aos grandes capitalistas, que se encontram a beira da falência, é por meio do saque generalizado de todos os povos. Essa política, por sua vez, que visa arrancar todas as riquezas e todo o patrimônio dos trabalhadores, causará uma miséria inimaginável, de modo que a revolta contra a direita se tornará inevitável.

Se, por um lado, a política extremamente impopular e agressiva da burguesia coloca todos os países da América Latina na esteira de uma onda de levantes populares, por outro, põe em marcha um esforço por parte da burguesia de tornar os regimes sob seu controle ainda mais antidemocráticos. Como a revolta contra a direita é inevitável, e a revolta, por sua vez, pode dar lugar a uma revolução, a burguesia está se preparando para impedir que a mobilização avance. E só há uma maneira de tentar impedir: por meio da repressão do Estado.

Neste momento decisivo da luta de classes na América Latina, as duas faces da situação política podem ser vistas de maneira muito claro. Tanto há tendências cada vez mais explosivas dos povos contra os grilhões do imperialismo, quanto há iniciativas por parte do regime político em se antecipar à mobilização e reprimir duramente o movimento popular e operário.

Honduras

Polícia militar hondurenha

No final do mês de outubro, vários protestos ocorreram no país de Honduras, localizado na América Central. Embora a imprensa burguesa e setores da esquerda pequeno-burguesa tentassem vincular os protestos com uma suposta revolta com a ligação do presidente hondurenho ao narcotráfico, o fato é que o povo saiu às ruas para pedir a queda do ditador Juan Orlando Hernández, um capacho do imperialismo que está levando Honduras para a completa miséria.

Até o momento, a mobilização em Honduras ainda não se desenvolveu a ponto de se transformar em uma revolta generalizada. No entanto, cabe destacar que a burguesia do país centro-americano já tomou várias iniciativas para reprimir o povo. Em 2009, um golpe militar depôs o presidente eleito Manoel Zelaya, que é uma liderança nacionalista de Honduras. Desde então, o regime vem se fechando cada vez mais, de modo que o governo hondurenho já pode ser considerado uma ditadura.

As eleições que reelegeram Hernández, em 2017, foram uma demonstração de que a burguesia está passando por cima de todos os direitos democráticos no país. A condução de Hernández ao cargo se deu após uma intervenção direta das Forças Armadas, que garantiu que a fraude eleitoral tivesse sucesso. Segundo levantamentos recentes da Rede contra a Violência Anti-sindical, Honduras já é o terceiro país na América Latina com mais agressões aos sindicalistas. Já foram contabilizados mais de 40 casos de violência contra os sindicalistas, entre ameaças de morte, sequestros e assassinatos. A Rede também denunciou que há uma perseguição volumosa de sindicalistas por parte do Poder Judiciário hondurenho, controlado pela direita golpista.

Equador

Mobilização contra Lenín Moreno

Se em Honduras foi necessários colocar os tanques nas ruas, explicitando o golpe de Estado contra Zelaya, no Equador, o imperialismo conseguiu tomar o controle do regime político de uma maneira muito mais sutil. A direita trouxe para o seu lado o presidente Lenín Moreno, que era apoiado pelo movimento popular equatoriano e que decidiu trair todos os trabalhadores e seguir a política neoliberal. Moreno se voltou contra seu “padrinho político”, o líder popular Rafael Correa, ordenando, inclusive, sua prisão.

A política escancaradamente neoliberal de Moreno acabou por provocar uma reação generalizada no Equador, que foi encabeçada sobretudo pelo movimento indígena e pelos trabalhadores do transporte. No entanto, algumas lideranças do movimento, sobretudo ligadas ao movimento indígena, decidiram fazer um acordo com o governo Moreno, o que acarretou no arrefecimento da mobilização.

Tão logo feito o acordo, o regime político equatoriano adotou uma série de medidas que aumentaram ainda mais a repressão contra o povo. Ainda durante os protestos, o presidente traidor havia mudado a capital para Guayaquil, onde julgava estar menos vulnerável aos protestos, e decretou estado de sítio.

Chile

Manifestantes que perderam a visão no Chile.

Em vários aspectos, a mobilização no Chile se assemelha à do Equador. O pais é governado pelo direitista Sebastián Piñera, que é um capacho do imperialismo e está atacando o povo chileno por todos os lados. Os primeiros protestos ocorreram por causa do aumento do preço da tarifa do transporte público, mas logo se transformaram em uma gigantesca mobilização contra a direita.

Acuado pelas manifestações, Piñera decretou estado de emergência, autorizando as Forças Armadas a reprimir violentamente a população. Desde o início dos protestos, mais de 200 pessoas perderam a visão, vítimas de balas de borracha disparadas pela repressão do Estado.

A grande diferença entre o caso equatoriano e o caso chileno é que o último mostra uma mobilização mais decidida e mais desenvolvida do povo contra a direita. Os partidos da esquerda chilena estão procurando chegar a algum acordo com o regime político, como a realização de uma assembleia constituinte com a permanência de Piñera, mas esta política está sendo rejeitada pela mobilização. Os manifestantes querem, corretamente, o fim do governo, que é quem organiza todos os ataques contra a população.

Manter Piñera no governo é uma prioridade da burguesia. Enquanto estiver no poder, mesmo que acuado, Piñera é uma peça fundamental para elevar a capacidade de repressão do regime chileno. Segundo relatos recentes, o governo chileno está até mesmo sequestrando militantes chilenos dentro de suas próprias casas, o que mostra uma disposição para estabelecer uma verdadeira ditadura sob a base do terror.

Uruguai

Marcha contra plebiscito em favor dos militares no Uruguai.

O Uruguai, diferentemente de vários de seus vizinhos, não sofreu nenhum golpe de Estado recentemente. Nos últimos três governos, que totalizaram 15 anos, a direita conseguiu controlar aspectos fundamentais do regime político através da imposição da frente ampla uruguaia, que une a esquerda do país a setores da burguesia. Embora reúna lideranças da esquerda uruguaia, a frente ampla adotou uma série de medidas direitistas, como privatizações de estatais e o apoio à tentativa de golpe na Venezuela.

Mesmo que o imperialismo ainda não tenha atacado de maneira escancarada o regime político uruguaio, várias demonstrações de que a situação deve mudar rapidamente no país já foram dadas. Recentemente, a extrema-direita tentou aprovar um pacote de medidas em prol das Forças Armadas, que incluía até mesmo a prisão perpétua e a criação de uma guarda especial. Ao que tudo indica, a burguesia uruguaia também está se preparando para um grande enfrentamento, visto que, muito provavelmente, o candidato neoliberal Lacalle Poe deverá vencer as eleições presidenciais, que ocorrem amanhã (24).

Bolívia

Bolivianos marcham até La Paz carregando caixões de mortos pela direita.

Assim como no caso do Uruguai, os bolivianos assistiram os governos populares do Paraguai, do Brasil, da Argentina e do Equador caírem, sem sentir na própria pele a ofensiva do imperialismo. Evo Morales, liderança cocaleira, estava há mais de uma década no poder e conseguiu conquistar sua reeleição para o quarto mandato no dia 20 de outubro. No entanto, em três semanas, a burguesia colocou a extrema-direita nas ruas e forçou, por meio de um golpe militar, Morales a renunciar.

O golpe militar foi efetivado após uma série de capitulações de Evo Morales. O líder cocaleiro acreditava que um “acordo” com a burguesia poderia permitir que seu governo tivesse continuidade – no entanto, a direita aproveitou os “acordos” para avançar sobre o regime. As Forças Armadas se encontram completamente controladas pelo imperialismo e as instituições, controladas pela burguesia, se mostram incapazes de reagir ao golpe.

A reação do povo boliviano tem sido bastante intensas, com mobilizações praticamente todos os dias. No entanto, a direita está se aproveitando do fato de que Evo Morales não preparou as massas para enfrentar os golpistas para aterrorizar a população. Desarmado, o povo boliviano está morrendo nas ruas pela polícia fascista, que atua para a direita e detém o monopólio da força armada.

Venezuela

Presidente golpista Juan Guaidó com representantes do imperialismo norte-americano.

O presidente venezuelano Nicolás Maduro é o último líder nacionalista a permanecer de pé na América do Sul. A isso, no entanto, não se deve um “acordo” feito com a burguesia: os chavistas, apoiados pela população, têm resistido diariamente ao assédio do imperialismo e preparado, apesar das limitações de um movimento sem a direção de um partido revolucionário, o enfrentamento com a direita.

As tentativas de golpe de Estado na Venezuela foram muitas, incluindo algumas tentativas de assassinato de seus chefes de Estado. Algumas, inclusive, colocaram o imperialismo em uma posição de desmoralização retumbante, como no caso do dia em que as forças comandadas por Juan Guaidó tentaram invadir a Venezuela e fracassaram miseravelmente.

Mesmo colecionando uma série de fracassos em relação à Venezuela, o imperialismo continua disposto a invadir o país. Diante da crise do capitalismo, as riquezas venezuelanas, sobretudo o petróleo, não podem ser desperdiçadas pelos banqueiros. Por isso, cada vez mais, a direita irá procurar aumentar a pressão sobre o país caribenho, estando disposta, inclusive, a deflagrar uma guerra aberta dos países imperialistas contra o regime chavista.

Colômbia

Paramilitares de extrema-direita da Colômbia, aliados do uribismo.

Dado o fato de que as mobilizações na Colômbia começaram a tomar corpo nessa semana, é preciso aguardar para ver como que irão se desenvolver. No entanto, é preciso já deixar registrado o fato de que, ao contrário da Bolívia, em que a burguesia instaurar um governo improvisado, às pressas, para reprimir a população, ou do Uruguai, em que a participação dos militares ainda está sendo introduzida de maneira cautelosa no regime político, a Colômbia já se encontra em um estado muito avançado da repressão estatal.

Uma vez anunciada a greve geral, o presidente golpista Iván Duque lançou decretos e circulares internas para deixar governadores, prefeitos e as forças repressivas em alerta, prontas para intervir sob um estado de emergência. Iván Duque também tomou a providência de fechar as fronteiras, como se estivesse se preparando para uma guerra.

O governo Duque já é, por sua vez, uma continuação dos governos de Álvaro Uribe, capacho do imperialismo norte-americano e ligado aos paramilitares da extrema-direita que reprimem com especial brutalidade os trabalhadores do campo. O chamado uribismo já controla a Colômbia há muito tempo e já vem preparando o terreno para uma repressão monstruosa contra o próprio povo.

Há alguns anos, o governo colombiano propôs um “acordo de paz” com as lideranças das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Esse “acordo”, no entanto, não passa de uma farsa. Desarmados, os membros das FARC passaram a ser ainda mais perseguidos pelo governo, bem como a população em geral. Até agora, mais de 170 líderes populares e 100 membros das FARC foram assassinados pelo governo colombiano, que pode ser tranquilamente caracterizado como uma ditadura.

Brasil

Operação de “Garantia da Lei e da Ordem” no Rio de Janeiro.

No dia 21 de novembro, o presidente ilegítimo do Brasil Jair Bolsonaro enviou para o Congresso Nacional um projeto de lei que tem como objetivo ampliar o conceito de excludente de ilicitude. Na prática, a extrema-direita está propondo que o Código Penal seja alterado para que militares e agentes de segurança possam ser isentados de punição ao cometer qualquer crime. Trata-se de uma carta branca para que o aparato de repressão do Estado possa matar livremente.

Os levantes na América Latina deixaram a burguesia brasileira muito cautelosa. Afinal, o Brasil é o Estado mais importante da América do Sul, de modo que a instabilidade política no país poderia levar a um desastre de enormes proporções para o mundo como um todo. Devido a isso, a direita aceitou libertar o ex-presidente Lula, tendo em vista tentar esfriar o movimento cada vez mais forte por “Lula Livre”.

Embora haja essa cautela, a direita segue a todo vapor procurando estabelecer um regime cada vez mais ditatorial contra a população, e o projeto de lei proposto por Bolsonaro vai justamente nesse sentido. Assim, ao mesmo tempo em que a esquerda parece ter tido uma vitória parcial com a soltura de Lula, a direita continua sua investida para constituir uma ditadura no país. No dia de ontem (22), o ex-governador de Minas Gerais Fernando Pimentel, perseguido pelo regime, foi condenado a dez anos de prisão.

Organizar a reação

Manifestantes sobrem em tanque de guerra na Bolívia.

Em todos os casos analisados, há um padrão inegável. O imperialismo segue obstinado em estabelecer governos lacaios, completamente entreguistas, e que estejam dispostos a roubar todo o patrimônio de seu próprio povo para servir de bandeja a seus patrões. A essa ofensiva, a população reage, de maneira natural, com mobilizações cada vez mais radicais.

Na medida em que a luta de classes se torna explícita, a política do “acordo” se mostra sempre como a favorita por parte da esquerda pequeno-burguesa – mas eis aí o motivo pelo qual as mobilizações não estão alcançando a vitória. Ao passo que as direções da esquerda procuram desarmar a população, tirar os manifestantes da rua e dar espaço a seus inimigos no governo, o imperialismo, em um jogo de cena, finge estar disposto a assinar algum “acordo”, mas segue armando as polícias, colocando os bandos fascistas nas ruas e dando golpes de Estado.

Para a burguesia, já está claro que a única maneira de levar adiante o seu programa é fechando o cerco contra toda a população. Os estados de emergência, os tiros de borracha, os assassinatos, os incêndios e, em último caso, a guerra civil estão todos no cardápio do imperialismo para alcançar seus objetivos. É preciso, para a esquerda, desenvolver essa mesma clareza. A única maneira de levar adiante o seu programa de reivindicações, a luta pela redução da jornada de trabalho, pela estatização de todo o patrimônio, pelo pleno emprego, por moradia, por saúde, por educação e tudo o mais é por meio de um enfrentamento decidido contra seus algozes.

A hora de reagir ao cerco da extrema-direita é agora. É preciso seguir o exemplo do povo boliviano, que subiu no tanque de guerra, mostrando disposição de enfrentar as forças da repressão. É preciso seguir o exemplo do povo brasileiro, que expulsou os golpistas que invadiram a Embaixada da Venezuela no Brasil. É preciso seguir o exemplo do povo chileno, que está nas ruas rejeitando os acordos cretinos pela permanência de Sebastián Piñera.

Nenhuma ajuda humanitária virá dos países imperialistas, que são os grandes promotores da miséria mundial. É necessário, portanto, fazer como “nossas mãos tudo o que a nós nos diz respeito”, enfrentando a direita em todas as suas manifestações e reagindo à altura todas as suas provocações. Fora Bolsonaro e todos os golpistas! Fora imperialismo na América Latina!

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