A esquerda brasileira justifica a sua paralisia dizendo que não há as condições para lutar contra o governo Bolsonaro, que a correlação de forças não é favorável, a população oprimida ainda não experimentou as consequências dos ataques do Bolsonaro e até transformou a palavra resistir em uma maneira de não fazer absolutamente nada.
Acontecimentos políticos recentes evidenciam a capitulação da esquerda e o completo erro sobre a correlação de forças e as condições para barrar o avanço da direita. As mobilizações da população oprimida e dos trabalhadores em toda a América Latina demonstraram uma enorme mudança na situação política.
América Latina em convulsão social
No Equador, apesar de um período de refluxo dos protestos, as manifestações continuam e a reação da direita e do traidor Lenin Moreno mostram que a população não está disposta a entrar em um acordo com a direita golpista e pedem o fora Moreno.
No Chile há mais de um mês, a população está nas ruas e impõe sucessivas derrotas para o governo neoliberal de Sebastian Piñera. Apesar de setores da Frente Ampla formada por partidos de esquerda entrarem em acordo com o direitista Piñera sobre uma constituinte, os trabalhadores não aceitam e estão nas ruas pedindo o fora Piñera.
A Bolívia sofreu um golpe de Estado que derrubou Evo Morales e a população saiu às ruas para garantir o mandato de Morales e contra a ofensiva dos fascistas e do imperialismo. Os trabalhadores da cidade e do campo estão lutando de maneira sangrenta para derrotar o golpe e exigindo a volta de Evo Morales e a renúncia da autoproclamada presidente da Bolívia, a golpista Jeanine Áñez.
Outro bom exemplo é o Haiti onde a população está há mais de 40 dias em protestos e greve pedindo o fora Möise, presidente neoliberal e capacho do imperialismo.
Recuo do governo Bolsonaro
Essas mobilizações e as mobilizações, mesmo que parciais, da população brasileira que ocorreram no último período assustaram a burguesia latino-americana, e em especial, a burguesia brasileira.
Um sinal desse recuo de Bolsonaro é o adiamento das reformas que estavam previstas ainda para esse ano com medo das mobilizações populares da América Latina e a possibilidade desses grandes movimentos contaminarem os trabalhadores brasileiros. A reforma do funcionalismo público, que colocaria em luta um amplo setor dos trabalhadores brasileiros, sendo adiada revela essa política. O próprio jornal porta-voz da burguesia, O Globo, em editorial disse de maneira literal que Bolsonaro havia recuado por causa das manifestações que ocorrem na Bolívia e no Chile.
Erro da esquerda é não mobilizar
A esquerda procurou arrumar diversas justificativas para não mobilizar. A principal delas é que o povo não está preparado para lutar contra a direita e contra o governo Bolsonaro. Uma parcela dessa confusão política é que setores da esquerda não querem a ruptura do regime político, como na Bolívia e no Chile, e buscam acordos com a direita que tomou o poder, para manter o regime político e tentar eleger parlamentares, que não possuem nenhuma ligação com a luta dos trabalhadores, nas próximas eleições.
O que está acontecendo na América Latina e o recuo de Bolsonaro em algumas reformas mostra que a população está disposta a lutar contra a direita e contra Bolsonaro. Neste momento, o que está faltando é a decisão das lideranças de partidos de esquerda e de movimentos sociais em mobilizar suas bases e a população para derrotar o governo Bolsonaro.