O boletim elaborado pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), divulgado neste domingo (03), apontou que as comunidades quilombolas já registram treze mortes em seis estados e uma morte suspeita sem confirmação por covid-19. Não há nenhum caso de cura entre eles.
São no total 37 casos confirmados em tratamento e 36 suspeitos em observação. A Conaq relata a dificuldade de acesso a remédios e exames como um dos motivos para a alta taxa de letalidade do covid-19 entre as comunidades quilombolas. A pandemia tende a agravar a situação que já era precária dos quilombolas, que vivenciavam falta de alimentos e dificuldades no acesso à água. Essas condições tornam praticamente inviabilizam as medidas de proteção.
As mortes estão distribuídas da seguinte forma: 4 no Amapá, 3 no Pará, 2 em Pernambuco, 1 em Goiás, 1 no Rio de Janeiro, 1 na Bahia. Há uma morte sem causa confirmada na Bahia e casos de contaminação no Maranhão. Há de se ter em consideração o quadro de subnotificação dos dados, que costumam ser muito superiores.
Verifica-se maior letalidade do covid-19 sobre os negros, o mesmo que acontece nos grandes centros urbanos. De acordo com análises de dados divulgados sobre as mortes no município de São Paulo, os negros têm 62% mais possibilidades de morrer pelo coronavírus do que os brancos. Os pardos apresentam 23% maior risco.
As condições sociais e econômicas – isto é, a pobreza – são a causa da maior letalidade entre os negros. Dados do Ministério da Saúde, divulgados na última semana de Abril, também demonstravam a maior mortalidade entre os negros.
As comunidades quilombolas são particularmente atacadas pela extrema-direita e pelas forças de repressão do Estado. Em geral, os quilombolas possuem pouca ou nenhuma atenção do poder público e faltam todos os serviços essenciais, como água, saúde, renda, moradias, assistência social e acesso às escolas e universidades. O problema ainda se agrava com as sistemáticas tentativas da direita de tomas as terras quilombolas e negar que seus direitos históricos, que advém do fato de serem descendentes dos escravos que se rebelavam contra o regime escravocrata.
O governo Jair Bolsonaro nomeou o capitão do mato Sérgio Camargo para a presidência da Fundação Palmares. Este tem como função combater a mobilização do movimento negro, negar a existência do racismo na sociedade brasileira, apagar a história e a memória da resistência negra a partir da difamação dos seus ícones históricos e negar os direitos das comunidades quilombolas. Quando Camargo afirma que os quilombolas não existem, isso indica para a intenção de promover a tomada das terras reservadas aos quilombolas e a destruição de sua cultura e história.