Assim como o clã Bolsonaro, o novo Ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo também está disposto a bater continência à bandeira estadunidense. Em entrevista à Folha de S. Paulo, a assessoria do PSL convidou Araújo por indicação de Olavo de Carvalho.
Araújo é um funcionário do Itamaraty que não tem, em seu currículo, feitos políticos relevantes, a não ser um blog que mistura ideais direitistas-cristãos e ódio à esquerda.
Segundo ele, o Partido dos Trabalhadores, por exemplo, está tentando “reinstaurar um regime de terror”, um “império do crime” na América Latina, sob os auspícios da “China maoísta.” Na campanha contra o movimento operário e revolucionário, Araújo procura retratar um “marxismo cultural” que dominou o Brasil desde sempre, e está criando um mundo com pessoas de “gênero fluido” e sem sentimento nacional. O problema não é apenas a compreensão rasa que o novo ministro tem dos movimentos populares, mas a absoluta falta de interesse em dialogar com a esquerda.
Autodefinindo-se “humanista”, Araújo procura cativar os cristãos para a direita, usando linguagem sofisticada para embelezar ideias confusas e distorcidas. Num de seus diálogos com setores religiosos, Araújo afirma que os amantes da transcendência são predominantemente de direita. Nada mais falso. A não ser que estivesse se referindo às seitas que acreditam na Terra Plana e na Arca de Noé. Finalmente, para este funcionário de alto-escalão rico e bem-alimentado, o empobrecimento humano se deve à falta de um “desenvolvimento espiritual”.
Mas comandando as relações do Brasil com o Exterior, o que torna este ministro um fenômeno preocupante, é sua visão política internacional. Em seu artigo “Trump e o Ocidente“, Araújo demonstra toda sua admiração ao presidente dos EUA. Trump é retratado como um dos maiores estrategistas da atualidade, um “presidente-terapeuta” que está ajudando a curar seu povo.
Ele defende o Ocidente contra forças “globalistas,” formadas pelo mundo islâmico, pelo eixo Rússia-China, e pelo comunismo. De fato, são três forças que se chocam contra o imperialismo, hoje arruinado economicamente e sustentado pela força das armas. E Araújo quer alinhar o Brasil a este último.
Não se trata de um Ocidente unificado, mas sim de um que mantenha suas fronteiras. Aliás, a abertura de fronteiras para imigrantes, para Araújo, é resultado de uma negação da própria personalidade de um povo, que parte para um impulso de autodestruição. A unificação do Ocidente não deve ser geográfica, mas cultural.
Segundo Araújo, esta união ocidental viria pelo culto a Deus e aos símbolos culturais ocidentais. Com um certo cinismo, Araújo usa uma fala de Trump – chefe do maior arsenal nuclear do mundo – para afirmar que o orgulho ocidental é mais poderoso do que os arsenais militares.
É um discurso que visa aprofundar a subordinação brasileira aos EUA. Durante os governos petistas, nosso País ampliou laços políticos e econômicos com os BRICS, Mercosul e países árabes. Ganhou espaço na geopolítica mundial. São relações como estas que o imperialismo quer minar, para aprofundar a situação de dependência brasileira e reforçar a condição da América Latina como quintal dos norte-americanos.