Os protocolos de formalidade são cumpridos para esconder as atrocidades de um governo que sobrevive da violência, da censura e do cinismo. Demite-se Roberto Alvim, admite-se Regina Duarte. Descrevendo as coisas como elas são, o mais correto seria dizer: demite-se um nazista, admite-se uma fascista. Não precisaríamos ir muito longe para lembrar como regimes totalitários se encastelavam na arte para promover suas ideologias. Nem mesmo fazer grandes análises históricas das proibições e restrições das mulheres no teatro, principalmente no Brasil, para entender a quem serve mulheres como Regina: uma bolsonarista, que diz abertamente que não é feminista e foi e ainda continua sendo conservadora.
Após a queda de Alvim, a atriz passa a comandar a Secretaria da Cultura. Fingir espanto ou surpresa seria hipocrisia de quem conhece sua trajetória. Ela apoiou pessoas como o Collor e FHC; aderiu a campanhas simpatizantes da ditadura como o “Fora STF”; sempre foi anti-petista e na campanha de Jair Bolsonaro já havia declarado preferência por ele.
Ao contrário das declarações feitas por artistas como Lobão ao dizer que ela “vai desempenhar o papel de inocente útil”, diríamos que Regina fará bem mais que isso: ela, como disse o Pedro Cardoso, “empresta sua biografia e fama para dar ares de maior simpatia ao cargo” enquanto move o ecossistema de autoritarismo que tem dominado os ministérios brasileiros. Bolsonaro já fez o pedido: que ela não libere verbas para projetos de esquerda; ela já propôs ideias como um evento da família ao lado de cada baile funk do país. Essas são as pistas do nazifascismo na cultura brasileira, que só reconhece como legítimo os corpos colonizados que movem a colonização: o corpo hétero, conservador, de família tradicional – como a dela, que é filha de militar – e de preferência branca, sem feministas – coisa que ela “nunca quis ser”.
As polêmicas dela com a Lei Rouanet, à qual ela critica e ao mesmo tempo tem uma dívida de mais R$ 300 mil, ou a pensão que recebe há mais de 20 anos por ser filha de tenente, é parte do cinismo de quem se utiliza do Estado que quer destruir, ainda que pela via da cultura. “Para o sim, para o não, para o talvez”, Regina Duarte precise encenar melhor quando declarar defesa ao Estado mínimo ou, quem sabe, estudar um pouco mais antes de falar de ideologia de esquerda na indústria cultural ou marxismo cultural, já que nos seus textos de novela – como disse seu colega, José de Abreu – ela não fazia muito bem.