A deputada federal Luiza Erundina, que foi lançada à presidência da Câmara pelo PSOL na última segunda-feira (18) criticou o “fisiologismo” de alguns membros de seu partido nas negociações para a eleição da Casa.
Erundina, que foi candidata a vice-prefeitura de São Paulo junto com Guilherme Boulos afirmou em sua conta no Twitter que
“É lamentável que o PSOL negocie suas convicções e compromissos políticos históricos ao aderir ao fisiologismo e à barganha por cargos na Mesa da Câmara. Essa é uma prática dos partidos de direita com a qual eu não compactuo.”
A declaração de Erundina na rede social foi feita nessa sexta-feira, dia 22, e é uma indireta aos membros do seu partido que defendem apoiar o candidato do bloco de Rodrigo Maia (DEM), Baleia Rossi (MDB), para a presidência da Câmara.
A declaração de Erundina é muito revladora do próprio caráter do PSOL, não apenas pelo conteúdo do que ela afirma, mas pelo cinismo de sua colocação.
A mais fisiológica do PSOL acusa os outros de fisiológicos
Algum desavisado da esquerda poderia acreditar que a declaração de Erundina é prova de sua justeza moral e de caráter. Nada poderia estar mais longe da realidade.
Na verdade, Luiza Erundina pratica algo que é muito comum entre os políticos burgueses que é acusar os outros de fazerem ou serem exatamente aquilo que são. Vimos muito isso no golpe de 2016 quando a direita mais corrupta da história do País acusou o PT de ser corrupto. Na esquerda pequeno-burguesa é comum esse tipo de prática: recentemente o PSOL e Guilherme Boulos passaram a dizer que eles foram os que mais lutaram contra o golpe e contra a prisão de Lula, inclusive afirmando que o PCO não tinha participado dessa luta, invertendo totalmente a realidade. Qualquer um que participou minimamente do movimento de luta contra o golpe sabe que o PSOL foi o partido que gerou mais confusão no movimento.
Erundina, que acusa alguns de seus correligionários de serem fisiológicos, é talvez a política mais fisiológica dentro do PSOL. Basta levantar alguns aspectos de sua trajetória política que ficará bem claro que sua autoridade para criticar qualquer fisiologismo é nenhuma. Erundina foi prefeita de São Paulo pelo PT, rompeu com o partido para assumir um cargo ministerial no governo Itamar Franco, vice de Collor. Anos depois disso, Erundina saiu do PT para entrar em um partido burguês, o PSB. Foi por anos deputado pelo PSB, tendo sido candidata a prefeitura de São Paulo em 2004 com Michel Temer, do PMDB, como vice em sua chapa.
Participou na campanha de Marina Silva, que disputou a presidência da República em 2014, após a morte de Eduardo Campos.
Somente após o impeachment de Dilma, Erundina ingressa no PSOL. Mesmo sua entrada no partido revela o seu nível de fisiologismo. A entrada no PSOL vem após a tentativa de formar um novo partido, chamado Raiz, e abertamente com a intenção de fortalecer esse partido que Erundina decide entrar no PSOL.
Usando a linguagem do PSOL, quando Erundina fala em fisiologismo, ela tem “lugar de fala”, ela sabe bem do que está falando.
PSOL é um partido fisiológico
Essa trajetória de Luiza Erundina não é única no PSOL. O partido é constituído por elementos independentes que em geral possuem autoridade por sua posição no Estado burguês, ou seja, por serem parlaentares.
Por isso, deputados como Marcelo Freixo, Sâmia Bonfim, David Miranda e Fernanda Melchiona passam por cima da decisão do partido e defendem o apoio a Baleia Rossi já no primeiro turno. O funcionamento do PSOL é como o de qualquer partido burguês, em que os parlamentares falam e fazem o que bem entenderem, mesmo que isso vá totalmente contra o que diz defender o programa do partido.
Aliás, a própria candidatura de Erundina mostra um oportunismo bastante claramente. Sua candidatura foi uma manobra oportunista para disfarçar o apoio a Baleia. Ela foi lançada apenas como uma ponte para o apoio ao candidato golpista no segundo turno, segundo afirma a nota do PSOL.
Manobra mais oportunista e fisiológica que essa está difícil de encontrar.
PSOL, um partido dissimulado
Mas não é apenas Erundina a dissimulada nessa história toda. A declaração no Twitter levou a que alguns membros do PSOL a atacassem publicamente.
A deputada pelo Rio Grande do Sul, Fernanda Melchiona, que defende o apoio a Baleia Rossi já no primeiro turno, atacou Erundina levantando seus podres anteriores.
A lavagem de roupa suja pública mostra que o PSOL é o partido dos dissimulados. Bastou uma primeira desavença interna para que aparecessem os podres de Erundina.
Mas a grande pergunta é: Erundina não era a grande combatente, exemplo de mulher íntegra etc? Pelo menos foi assim que ele foi apresentada aos incautos quando foi candidata a vice de Boulos nas últimas eleições.
Pelo jeito, os membros do PSOL em busca de votos e de cargos, também funcionam como todo político burguês. Dissimulam os debates e escondem a realidade para promover o seu candidato.