A crise do governo Bolsonaro expressa de forma retumbante no carnaval recém encerrado, onde ecoou de norte a sul do país o grito de guerra “Ei Bolsonaro vai tomar no c*”, acendeu o sinal de alerta em setores da burguesia golpista, seus políticos e partidos, que já aventam com a possibilidade da retirada de cena do presidente através de um impeachment.
Além de várias notas de articulistas dos jornais burgueses criticando o destempero de Bolsonaro durante o carnaval, particularmente as suas postagens no twitter, o jurista de extema-direita, Miguel Reale Júnior, um dos autores do pedido de impeachment fraudulento da presidenta Dilma Rousseff, foi categórico ao afirmar que a divulgação pelo presidente de um video pornográfico configura crime de responsabilidade, o que pode levar à abertura de um processo de impeachment.
Na esquerda, o deputado pelo PT, Paulo Teixeira, informou que entrará com representação junto à Procuradoria Geral da República contra Bolsonaro por atitude criminosa, também pela divulgação do mesmo vídeo obsceno. Segundo Teixeira, caso a PGR aceite a sua representação, pedirá licença ao Congresso Nacional para processar Bolsonaro.
A crise do governo Bolsonaro é a crise do próprio golpe, nesse sentido, como temos visto praticamente desde a derrubada da presidenta Dilma, o golpe está cada vez mais a fazer água, mesmo que tenha tido algumas vitórias parciais nesses quase três anos. Não é por outro motivo que o governo Bolsonaro, com apenas dois meses, aparenta ser um governo tão velho.
Um problema crucial que se coloca é com qual política a esquerda vai ser organizar para enfrentar o golpe e colocar para fora o presidente ilegítimo. A direita, bem sabemos como atua.
Um acontecimento relativamente recente da nossa história pode servir de ilustração, até porque as situações guardam muitas semelhanças. Em 1989 foi eleito presidente do Brasil um político de direita chamado Fernando Collor de Mello. Naquela época, o candidato do povo, Luiz Inácio Lula da Silva, foi derrotado pelas manobras, manipulações e fraudes impostas pelos donos do regime político, a burguesia. A diferença para os dias de hoje é que eles derrotaram o então candidato Lula, mesmo com a fraude, eleitoralmente, e no ano de 2018, tiveram que impedir sua vitória mantendo-o preso e fora da disputa eleitoral através da fraude jurídico-policial.
Collor, assim como Bolsonaro tinha por objetivo atender aos interesses do grande capital nacional e internacional e os banqueiros a eles associados, com uma política de esmagamento da população. Pouco mais de dois anos após a posse, a mesma burguesia que tinha levado Collor ao poder, promoveu a sua derrubada através de um processo de impeachment. Moral da história: a crise no país era grande, a juventude já estava nas ruas defendendo o “fora Collor” e era iminente a entrada em cena do movimento operário. A fim de evitar que as massas derrubassem Collor e se transformassem no polo ativo da situação política, a burguesia, com os préstimos de todo um setor da esquerda, tomou a iniciativa e ela mesma promoveu a derrubada de Collor e colocou um governo seu para substituí-lo.
No Brasil de 2019 não dá para dizer que Bolsonaro já está prestes a cair, mas a dimensão da crise é muito profunda e a tendência para que as amplas massas entrem em uma grande mobilização contra o governo e o golpe que ele representa, são muito grandes.
Essa é a questão crucial da situação política. Uma intervenção independente dos setores que lutam contra o golpe, os sindicatos e o movimento popular abrirão, fatalmente, uma ampla perspectiva popular para derrotar o golpe. Aliás, esse caminho já foi apontado pelo próprio povo, como assistimos no carnaval. Portanto, basta ter uma política correta, para fazer o movimento se desenvolver com base no que o povo mesmo já apontou: o fora Bolsonaro e a liberdade para Lula.
Na contramão dessa política está a busca pela conciliação de classes. É ver nos inimigos da população, aqueles mesmos que derrubaram a presidenta Dilma e prenderam Lula e promovem um brutal ataque às condições de vida das amplas massas, uma saída em comum. Uma saída por meio das instituições responsáveis pelo golpe, como o Congresso Nacional e o Judiciário.
Caso essa alternativa venha a se desenvolver pelas mãos das direções dos movimentos de massa, representará uma profunda traição aos trabalhadores. Assim como em 1992, diante da queda de Collor, significará deixar nas mãos da burguesia a iniciativa política. Será a substituição de um político golpista da extrema-direita, por um outro igualmente golpista e da extrema-direita.
Os trabalhadores devem lutar pela derrubada de Bolsonaro pela base, não por cima (pela burguesia). Por isso, a esquerda que realmente luta contra o golpe deve materializar todo o descontentamento popular em uma política de mobilização, que tenha como base além do fora Bolsonaro, a liberdade de Lula, para isso e como carro-chefe da mobilização a questão da greve geral deve ser colocada na ordem do dia.