O governo do Mato Grosso decretou estado de emergência em todo o Estado por conta dos recentes focos de incêndio no Pantanal. No último sábado (25) a nuvem de fumaça chegou à capital Cuiabá, o que forçou o governo estadual a reagir.
De acordo com o corpo de bombeiros de Mato Grosso, apenas nos últimos cinco dias foram queimados 26 mil hectares (260 km²) de vegetação, uma área maior que o município do Recife e duas vezes maior que a mancha urbana de Cuiabá. Os incêndios ocorrem na região de Poconé (102 km de Cuiabá).
De janeiro a julho deste ano, foram registrados no Pantanal 2.534 focos de incêndio, um número superior em 158% ao registrado no mesmo período no ano passado (981). Este número é o recorde histórico do Programa de Queimadas do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) para o Pantanal.
No dia 16 de julho, por conta de pressões internacionais, sobretudo de grandes bancos e fundos de investimento, o governo de Jair Bolsonaro assinou um decreto proibindo queimadas na Amazônia legal e no Pantanal por 120 dias.
Diante desse fato, é importante frisar que a origem de grande parte dos focos de incêndio não é espontânea, mas sim causada pela ação dos grandes latifundiários mato-grossenses, tanto em relação ao Pantanal, quanto em relação à Amazônia, ambos biomas presentes no estado.
Prova disso, além do que nos diz o órgão técnico (INPE), é o fato do Governo Federal tentar apelar para um decreto para controlar a situação, uma vez que a natureza não obedece decretos, mas somente seres humanos, como é o caso dos latifundiários. No caso do governo do Mato Grosso, dirigido por Reinaldo Azambuja (PSDB), o controle da situação está sendo negociado com a Famato (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso). Ou seja, quem destrói a Amazônia e o Pantanal é o latifúndio.
A destruição dos biomas brasileiros (Pantanal, Amazônia, Cerrado) através de queimadas e da agricultura extensiva tem sido uma questão constante do governo Bolsonaro. No dia 19 de agosto de 2019 o tema ganhou uma ampla repercussão nacional após uma imensa nuvem de fumaça com origem em queimadas no Mato Grosso atingir a cidade de São Paulo, que ficou com o céu escurecido às 15h da tarde. O fato causou uma ampla apreensão pela extensão que poderiam estar tomando as queimadas no país. Três dias depois, o diretor do INPE, Ricardo Galvão, foi demitido após o instituto anunciar a detecção de mais de 74.000 focos de incêndio na Amazônia legal.
Novamente, registra-se um grande surto de incêndios durante o inverno, desta vez em número muito maior que em 2019. A conclusão que se pode tirar é que o governo Bolsonaro não só é incapaz de impedir a destruição dos biomas brasileiros, com seu inócuo combate ao desmatamento através de decretos, como na verdade é o grande responsável por essa situação, seja pelo ataque ao IBAMA e ao INPE, seja pela apologia da destruição ambiental levada a cabo tanto pelo ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, quanto pelo próprio presidente.
Neste momento, a situação se agrava ainda mais, pois em meio à pandemia da Covid-19, uma doença respiratória, e em meio ao inverno, uma estação seca em que a qualidade do ar é naturalmente comprometida, as queimadas pioram de forma aguda o quadro respiratório de toda a população do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em Cuiabá, há décadas a cidade é sujeita a nuvens de fumaça no inverno, mas agora, com o aumento vertiginoso dos focos de incêndio, a situação atinge um novo patamar de gravidade.
Enquanto no MT, onde ocorrem as maiores queimadas, há quase 45.000 casos da Covid-19, com a sexta maior taxa de letalidade no país (3,6%), no MS a situação ainda é incipiente, com 21.000 casos e uma taxa de letalidade bem mais baixa, de 1,42%.
Por tudo isso, a situação no Mato Grosso é realmente uma situação crítica, e isso pelo descaso dos governos federal e estadual, tanto com a destruição do patrimônio biológico do país quanto com a saúde pública. Enquanto o Pantanal e a Amazônia ardem em chamas, num verdadeiro “inferno tropical”, a Covid-19 se alastra como o fogo. Não há um verdadeiro combate à pandemia, com isolamento dos casos ativos e rastreamento e testagem dos casos suspeitos, mas apenas uma “quarentena” de fachada, com um isolamento social em que a maioria da população não está isolada de nada, e a política de “use máscara”, em que cada um é responsabilizado por si mesmo, sem uma política pública de fato.