O que já era esperado, começa a ser registrado pelos institutos de economia, cuja pesquisa demonstra queda inédita de consumo no mês de março,e no poder aquisitivo das famílias brasileiras, de acordo com dados do Monitor PIB, indicador do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
Isto foi resultado da retração econômica no patamar inédito de 5,3% no primeiro mês de distanciamento social do país, em comparação a fevereiro, com queda de 6,5% no consumo das famílias, e que representa dois terços do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Segundo a FGV, a economia já vinha com resultados fracos em janeiro (+0,6%) e em fevereiro ( 0,2%). Com isso, no primeiro trimestre do ano, o indicador teve queda de 1%, pior resultado desde o terceiro trimestre de 2015, auge da recessão mais recente no país.
Isso também é indicativo de que a crise é anterior à pandemia e que se agrava com ela, o que tem sido objeto de constantes informes deste Diário. Não só por um problema estrutural, mas também das bolhas financeiras que são recorrentes, e que, a exemplo de 2008, quando estouram, levam consigo investidores do mundo inteiro, causando um problema na recuperação da crise no mercado pelas empresas e investidores, que é o que tem sido enfrentado em todo lugar, também no Brasil.
Com a perda do poder aquisitivo, seja pelo desemprego seja pelo achatamento do salário, que não consegue acompanhar a inflação e o aumento de todas as coisas, o consumo cai e com ele a economia sofre, porque passa a haver um descompasso com a produção e seu custo, fazendo com que as empresas ou quebrem ou tenham que diminuir o seu custo fixo, que também quer dizer demissão.
Os dados do monitor também apontam para uma mudança no perfil de consumo das famílias. Todas as modalidades tiveram queda em março, com exceção dos bens não duráveis (principalmente produtos alimentares e farmacêuticos). Os produtos semiduráveis, como vestuário e calçados, e os duráveis, que dependem de crédito (como automóveis, elétricos e eletrônicos, entre outros), tiveram queda superior a 20%. Os serviços tiveram retração de 5%.
Mesmo os produtos alimentares e farmacêuticos que vem sendo consumido sem queda também tiveram aumento. Esse é o efeito da economia globalizada. Por exemplo, com a privatização das refinarias de petróleos, e o controle deles pelo dólar, que é a referência do mercado internacional, o preço do combustível também aumenta, e tudo o que precisa ser transportado, como os produtos alimentícios, também ficam mais caros. Com o coronavírus, a dificuldade de comercialização aumenta ainda mais os altos custos, principalmente quando um produto é valorizado pela grande procura. Que é o caso dos produtos farmacêuticos, e acessórios como máscaras, álcool em gel, etc. Uma coisa leva à outra, e tudo vai se complicando. Como a crise já existia, com a pandemia piorou muito.
Assim como aconteceu com a crise de 2008, hoje também a mídia esconde isso da população sempre tentando mostrar um cenário melhor do que realmente é, com o objetivo de frear uma possível revolta que leve a classe trabalhadora a questionar o poder, o que seria muito grave para quem está no controle e não quer ver seus atos questionados.
O golpe de Estado vivido no Brasil em 2016, mais não fez do que mascarar esta situação culpando os altos custos dos encargos sociais devidos pelas empresas e pelo governo, sugerindo que o Estado brasileiro deixar de custear programas sociais e deveria reformular seus gastos e equacionar os problemas das dívidas públicas privatizando suas estatais, para poder suportar o custo dos próximos anos. Com isso pensou em reduzir salários, dificultar a aposentadoria, cortar as benécies da previdência social, e fazer a reforma trabalhista para conseguir mais empregos. Mas, os reais motivos escondia um ataque à classe trabalhadora e uma enorme transferência de dinheiro para o bolso do imperialismo para que ele pudesse suportar a crise por mais tempo. Até porque, nenhuma das metas foi conseguida com as medidas tomadas, muito pelo contrário só piorou a vida do trabalhador.
A insatisfação do trabalhador é problema que não tardará a exigir do governo um cuidado maior daqui para frente, quando pretender pisar nela novamente. A população já não aguenta mais tanta pressão com o poder aquisitivo diminuindo e sem nenhuma compensação. Tudo isso acaba por gerar uma grande revolta que já pode ser percebida pelas reclamações das famílias e pelos trabalhadores nas portas das fábricas, o que sugere que essa revolta tarda mas não falha.