O maior problema não são as ilusões eleitorais da esquerda pequeno-burguesa, mas os efeitos políticos dessas ilusões. O primeiro é a paralisia do movimento de luta. Em troca de um campanha eleitoral sacrifica-se qualquer movimento real de luta. Sacrifica-se também os princípios.
O dirigente da corrente Resistência, do PSOL, Valério Arcary, publicou duas matérias procurando provar que a esquerda, em particular a candidatura de Guilherme Boulos, tem chances de ganhar as eleições em São Paulo.
Uma delas, publica no dia 11 no sítio do Esquerda Online, intitulada “A esquerda nunca foi maioria em São Paulo?”, procura mostrar que a esquerda, embora seja uma minoria ideológica na cidade, tem condições de ganhar as eleições se unificar forças contra a direita. Na segunda, publica no Brasil 247 no último dia 6, Arcary quer “Impedir a extrema-direita de chegar ao segundo turno em São Paulo”.
Ambas as matérias foram publicadas antes da divulgação, pelo El Pais, de uma pesquisa apontando Guilherme Boulos como segundo colocado em São Paulo. Provavelmente, se tivesse conhecimento da pesquisa, Arcary, como está acontecendo com vários setores da esquerda, teria exalado ainda mais otimismo eleitoral em suas colunas.
A grande questão é saber o que significam tais análises eleitorais. Para mostrar que é possível, Arcary levanta um punhado de números eleitorais desde os anos 80. Para ele, tais resultados provam que a esquerda pode ganhar se se unificar. Tal unificação, obviamente, deveria se dar em torno do candidato de Arcary, Boulos.
Mas os números por si só não dizem absolutamente nada. Os resultados eleitorais e mesmo a apresentação da correlação de forças que teria levado aos resultados das eleições anteriores não resolvem o problema da atual situação política.
Um elemento fundamental é ocultado por Arcary em ambas as colunas: o golpe de Estado e, mais ainda, o aprofundamento da decomposição do regime político no sentido de uma cada vez maior ditadura. Esse ocultamento da situação não é exclusividade de Arcary. A esquerda pequeno-burguesa tem, de modo geral, uma política que procura trocar uma análise da situação real por um otimismo eleitoral sem fundamento.
Quanto maior é a ilusão eleitoral, maior é o abandono de uma análise real da situação. As eleições provavelmente serão as mais manipuladas desde 2016. Talvez só não sejam mais fraudulentas do que a de 2018, que prendeu o candidato com mais votos para garantir a vitória da direita.
Mesmo para a esquerda eleitoral,, que é o caso de Boulos, a única política realista é a de denúncia dessa situação. É chamar a uma mobilização contra o golpe, contra Bolsonaro e denunciando a própria fraude eleitoral.
Arcary, no entanto, propõe esperança. Chama a esquerda a crer que é possível derrotar a extrema-direita pela via eleitoral. Isso, por meio de um candidato que está muito distante de ser um porta-voz de uma mobilização real.
O que se tem visto muito claramente no PSOL e em Guilherme Boulos é que quanto mais a burguesia promove sua candidatura, quanto mais eles acreditam que podem ser eleitos, mais a candidatura do PSOL parte para o abandono de qualquer princípio político. A divulgação da pesquisa pelo El Pais deve ter como resultado imediato esse problema.
Não passa pelas candidaturas da esquerda, a não ser em frases vazias e muito diluídas, uma política de usar as eleições como uma tribuna para denunciar a situação. Boulos faz promessas, afirma que “é hora da virada” em São Paulo e todos os jargões de candidato burguês que se possa imaginar.
Enquanto a esquerda, como Valério Arcary, se afunda na ilusão eleitoral, a direita está preparando o aprofundamento do golpe, inclusive usando as eleições.