A burguesia é uma classe em franca decadência. E isso se expressa em tudo, desde ao estrangulamento do desenvolvimento científico até mesmo à produção cultural. Alguns setores procuram camuflar essa decadência com um ar de suposta seriedade e formalidade, embora sua política real seja podre e desprezível. Já outros setores igualmente decadentes não conseguem se conter na mais exacerbada defesa da selvageria da política neoliberal, colocando a nu toda a breguice e bizarrice da classe dominante.
É esse o caso, por exemplo, da mais nova capa da revista IstoÉ, apelidada por seus desafetos de Quanto É?, tamanha sua falta de escrúpulos. Na edição desta semana, a revista apresenta João Doria, governador golpista de São Paulo, como o maior herói da vacinação contra o coronavírus:
É ridículo. Mas o que mais chama a atenção é: por que a Quanto é? se sentiria tão à vontade para colocar, como principal destaque de sua revista, uma mentira tão absurda? Porque as condições permitem que tal barbaridade seja feita.
João Doria é um típico representante da burguesia e, portanto, um verdadeiro inimigo de qualquer progresso. Capacho dos banqueiros, fez tudo o que estava a seu alcance para cortar o investimento do Estado em pesquisa, de modo a sobrar mais dinheiro para a farra de seus patrões. O servilismo de Doria é tamanho que impôs um duríssimo ajuste fiscal em plena pandemia, liberou a polícia para matar ainda mais do que já matava e está tentando, há meses, roubar mais uma fatia da Previdência dos servidores. Por que um indivíduo como esses poderia ser aplaudido como o herói da nação?
Porque a esquerda pequeno-burguesa, desde o início da pandemia, resolveu entregar toda a iniciativa contra o governo Bolsonaro e contra o coronavírus nas mãos da direita. A esquerda, que não vê as ruas há quase um ano, decidiu, em vez de defender um programa de combate à crise econômica e à crise sanitária que assola o País, elogiar o “empenho” de Doria, Caiado e todos os demais governadores direitistas que apoiaram o golpe de 2016 e a eleição fraudada de Bolsonaro.
A capa da Quanto é? coloca a questão ainda mais claramente. O interesse em promover Doria como o salvador do País vem dos mesmos setores que caluniaram, difamaram e tanto atacaram a esquerda durante a preparação para o golpe. Não merecem, portanto, qualquer confiança. Até porque a própria vacinação é, em si, uma farsa: Doria já voltou atrás de seu plano de vacinação e suspendeu o calendário. A vacina, por sua vez, se mostrou como a mais cara entre as opções, em um País em que o presidente ilegítimo afirmou não ter sequer seringas…
O pleno apoio da direita a Doria apenas comprova que se trata de uma operação para reanimar a direita nacional, que saiu profundamente desmoralizada com o golpe. É preciso contrapor essa política com a luta pelo Fora Bolsonaro, Doria e todos os golpistas, por eleições gerais e por Lula presidente.