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Só se a burguesia quiser

Quando pedir a saída de um governo?

Não era correto chamar o fora Bolsonaro antes, mas é correto agora, porque a direita teria se colocado contra o governo

No último dia 24 de abril, Valério Arcary, dirigente da corrente Resistência do Psol e ex-dirigente do PSTU, publicou uma coluna no sítio de sua organização, Esquerda Online, com o título “Fora Bolsonaro é um giro tático necessário. Um 1º de Maio com a presença de FHC e Maia é um desastre”.

Segundo o colunista, os setores da esquerda que agora pedem “fora Bolsonaro” mas não pediam antes estão certos. Isso porque teria ocorrido uma mudança na conjuntura política que agora favoreceria o chamado à queda do governo. Mas que mudança seria essa? “O fator chave nesta mudança na relação política de forças foi o choque da pandemia. A posição de Bolsonaro contra a quarentena foi um gatilho para uma divisão na classe dominante que diminuiu a força do governo.” Arcary explica, portanto que a mudança foi a posição da burguesia diante da crise.

Para Valerio Arcary, não era correto convocar o “fora Bolsonaro” antes porque, nas palavras dele, não estavam “reunidas as condições para, efetivamente, mobilizar pela derrubada do governo”. Disso, poderíamos concluir que o autor acha que agora as condições de mobilização estão melhores; mas não é isso que ele mesmo explica: “Enquanto estivermos limitados pelas condições de confinamento da quarentena, a esquerda não tem como se apoiar na força social de choque de ações de rua. Romper com a quarentena seria um grave erro. O que podemos fazer é agitação e propaganda nas redes sociais.”

A lógica, então, é que a melhor medida para se pedir ou não a queda do governo seria saber se a burguesia adotou tal posição. Não tinha condições antes, não tem condições de mobilizar agora; portanto, a mobilização do povo não importa, o que importa é que a burguesia teria decidido derrubar o governo.

Vamos aos fatos. Em primeiro lugar é uma falsificação dizer que as condições para pedir a derrubada do governo não estavam dadas anteriormente. A impopularidade de Bolsonaro só piora e, em 2019, uma série de atos de massa ocorreram no País contra o governo. Isso sem contar as manifestações espontâneas no carnaval e em todas as oportunidades em que se reuniram pequenas multidões.

Ainda sobre isso, é preciso dizer que mesmo se a maioria da população não defendesse a derrubada de Bolsonaro seria obrigação da esquerda defendê-la. Trata-se de uma questão de sobrevivência do povo. Se não há condições, elas deveriam ser criadas por meio de uma agitação política em torno da derrubada do governo.

A palavra de ordem de “fora Bolsonaro” continua prevalecendo, mas fato é que, com a quarentena, ao menos do ponto de vista da mobilização de rua, as condições na realidade pioraram.

Arcary, no entanto, acha que só agora seria correto pedir o “fora Bolsonaro”, e por quê? Porque a burguesia, ou setores da burguesia, sinalizaram no sentido da derrubada do governo. Uma política que se coloca completamente a reboque da burguesia e da direita tradicional. O “giro tático” defendido por Arcary é na verdade uma adaptação ao que defende setores da direita.

Tudo isso, é claro, se acreditássemos, como acredita Arcary, que a burguesia teria se decidido a derrubar Bolsonaro. Isso, pelo menos até o momento, não se mostra uma realidade. Tudo indica, e isso pode mudar, que, por enquanto, não há uma decisão da maior parte da burguesia de se livrar de Bolsonaro, embora seja fato que a crise tenha se aprofundado com a queda do ministro Sergio Moro.

Valerio Arcary faz uma analogia com um episódio da Revolução Russa para explicar que não se deveria chamar o fora Bolsonaro antes. Explica ele que “As Teses de Abril não propunham a palavra de ordem ‘Abaixo o governo provisório’. Lenin defendia uma exigência a Kerensky: ‘Pão, paz e Terra’ e ‘Fora os ministros capitalistas, todo o poder aos soviets’. Lembrando que os soviets tinham maioria menchevique e esserista até setembro. Os bolcheviques só passaram a defender ‘Abaixo Kerensky’ depois da derrota da tentativa de golpe de Kornilov”. Arcary está confuso sobre os personagens dessa historia em sua analogia.

Para provar a tese dele, Bolsonaro, um elemento de extrema-direita que está mais para o general Kornilov, é transformado em um elemento da esquerda burguesa, Kerensky. Segundo esse raciocínio, antes de pedir o “fora Bolsonaro”, deveríamos pedir que Bolsonaro trocasse seus “ministros burgueses” por ministros socialistas. Uma inversão completa da história.

Toda essa maçaroca de argumentos serve para justificar a política de adaptação à burguesia seguida por toda a esquerda pequeno-burguesa. Em resumo, só se pode pedir a derrubada do governo se a burguesia quiser. Está decretada a morte da independência de classe dos trabalhadores.

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