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40 anos de London Calling

Quando o punk se tornou socialista…

Disco antológico e que marcou a música internacional foi lançado em 1979

Henrique Áreas

No último dia 14 de dezembro de 2019, um dos discos mais importantes da história do rock´n´roll completou 40 anos de seu lançamento. Trata-se do aniversário de London Calling, terceiro disco da banda de punk rock inglesa The Clash.

Muito se fala sobre este disco histórico da banda. Mas há um ângulo específico, não muito explorado, que gostaria de levantar nesta coluna. A importância do disco, da musicalidade até o conteúdo das letras, não é produto do acaso, nem mesmo resultado de uma iniciativa individual dos membros da banda e produtores. London Calling expressa, ao menos no caso específico da indústria musical, o ápice de desenvolvimento social e político da época.

O chamado movimento punk é um movimento cultural que está diretamente relacionado à crise social e política que se generalizou a partir da metade dos anos 70, impulsionada pela crise capitalista cujo marco foi a crise do petróleo 1974.

Grosso modo, o punk foi um movimento das camadas mais baixas da classe operária, em particular a juventude, norte-americana e britânica (que rapidamente se espalhou para grande parte dos países do mundo). Em alguns casos, essa juventude se confundia inclusive com setores do lupemproletariado, principalmente nos Estados Unidos. Na Inglaterra, o que se convencionou chamar de punk tem origens principalmente na juventude operária e jovens imigrantes jamaicanos. Dito mais claramente, o que houve naquele momento foi uma interrelação cultural entre esses imigrantes e os filhos de operários britânicos, temperado ainda com a estética do que se fazia nos Estados Unidos. Vem justamente desse conteúdo social a origem fundamental da sonoridade encontrada em London Calling.

Os movimentos culturais são determinados pelos movimentos políticos de sua época, que por sua vez estão determinados pelos profundas modificações econômicas sofridas pela sociedade. Como dissemos, o punk é um produto direto do movimento político e social que foi impulsionado pela crise capitalista do final dos anos 70 e que ganhou ainda mais força nos anos 80.

Como é comum nos movimentos culturais, o punk nasce como uma explosão anárquica de uma juventude cada vez mais oprimida e atingida pela crise. É comum que os primeiros artistas de qualquer movimento de cultura expressem de maneira confusa as questões políticas e sociais de sua época. Mais precisamente, a manifestação artística é, em grande medida, uma expressão distorcida, na superfície, dos profundos movimentos sociais e políticos.

Essa primeira revolta em geral aparece principalmente nas questões formais. Uma defesa formal contra o que o novo movimento considera velho e conservador. Um movimento artístico, normalmente se desenvolve no sentido de que as mudanças formais acabam se refletindo de maneira mais acabada também no conteúdo. A relação forma-conteúdo se torna mais profunda e mais consciente.

As bandas e artistas pioneiros do punk – do qual The Clash pode ser incluído – apresentavam tal revolta no terreno formal. Principalmente através de uma estética suja e agressiva e de uma música que não seria exagerado qualificar de uma “anti-música”. Essa “anti-música” era também a maneira que aqueles jovens que se encontravam no rodapé da sociedade entendiam como revolta contra o que se fazia no rock antes daquele período. Nesse sentido, eles acreditavam que deveriam se distanciar do rock predominante dos anos 70, dos grandes e milionários concertos musicais que eles atribuíam estarem relacionados a uma qualidade sonora muito complexa. Em uma palavra, aqueles jovens consideravam o que estava sendo feito no rock naquele momento como algo que não servia para eles. A rejeição de classe aparece na superfície como uma rejeição na forma como a música era feita.

Nesse sentido, como solução para a música e o rock, aqueles jovens acreditavam que se deveria retornar ao rock original dos anos 50 e 60.

A evolução do movimento político na Inglaterra e no mundo, com a ascensão de Margareth Tatcher justamente no ano de 1979 e o ascenso do movimento operário como resultado do recrudescimento da política neoliberal. É nesse marco político que deve ser compreendido London Calling.

O disco representa a evolução do punk-rock de um movimento de conteúdo anárquico e confuso para uma expressão mais consciente tanto estética como politicamente. The Clash trocava a simples agressividade pela ostentação dos símbolos comunistas. Trocava o “A” de anarquia pela bandeira do Movimento Sandinista de Libertação Nacional da Nicarágua e pela RAF Alemão (Fração do Exército Vermelho). Joe Strummer, Mike Jones e cia eram os socialistas do punk.

Sem compreender essa evolução política é difícil compreender o que significa London Calling. A evolução política, impulsionada pela ascensão de Margaret Tatcher e o neoliberalismo feroz na Inglaterra, acabou por se refletir numa evolução musical e estética. London Calling é um disco eclético. Ali se ouve punk rock em todas as faixas, mas também se ouve jazz, ska, reggae, dub, folk, blues e muito mais. Clash pegou o punk e retirou-o do gueto musical, elevando as possibilidades de se fazer não apenas punk rock, mas o rock em geral. E é por isso que é tarefa quase impossível encontrar uma banda sequer que não tenha sido influenciada por The Clash depois dele, direta ou indiretamente.

Nesse sentido, quando cogitou-se colocar o nome do álbum de “O último testamento”, não podemos dizer que eles estavam errados, a pretensão é uma marca permitida a certos artistas. A bela foto de capa com o baixista Paul Simonon batendo seu instrumento no palco e a disposição das letras imitando o primeiro álbum de Elvis Presley de 1956, no qual o cantor empunhava seu violão, é uma referência ao fato de que London Calling seria uma espécie de história final do rock’n’roll.

London Calling inovou no estilo de suas músicas, harmonias e melodias. London Calling, contrariando o que até então havia sido feito no punk, é um disco duplo. Menos de um ano depois, a banda lançava seu disco triplo, chamado Sandinista, defendendo abertamente a revolução em curso na Nicarágua.

Não falamos aqui sobre as letras das canções do disco, mas vale uma palavra. Seu conteúdo apresenta uma crítica social e política, crônicas da cidade, violência policial. Em suma, as letras do disco estão em consonância com a inovação, a consciência política da banda e principalmente com a situação política da época.

 

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