A unidade dos trabalhadores, ou seja, a unidade na luta, é uma questão chave da política. Tanto é assim, que o marxismo faz um chamado no seu primeiro documento histórico à unidade geral dos trabalhadores: “Proletários de todo o mundo, uni-vos”, concluíam Marx e Engels no seu Manifesto do Partido Comunista.
Mas a conquista de uma unidade real por parte dos trabalhadores e de suas organizações não é algo simples. Em geral, a esquerda substitui uma unidade real por uma abstração.
A conquista da unidade exige uma política correta. Primeiro, deve-se buscar uma unidade da classe trabalhadora e depois uma unidade da classe trabalhadora com outras classes.
A unidade dos trabalhadores é complexa porque o próprio capitalismo coloca os trabalhadores em competição. Kautsky, quando era revolucionário, afirmou que, se no capitalismo não existisse desemprego, a revolução seria quase automática.
Uma unidade precisa se dar entre pessoas e grupos que tenham o mesmo interesse. Nesse sentido, a unidade da frente ampla, por exemplo, é uma armadilha, uma arapuca para os trabalhadores. Primeiro porque ela não tem o objetivo de tirar Bolsonaro do governo. A direita que integra a frente ampla não apenas foi a responsável por Bolsonaro ter chegado à presidência como procura sustentar o governo. Não há, portanto, a possibilidade de uma unidade entre os que querem e os que não querem tirar Bolsonaro. O problema então é saber em que situação é possível unificar esta ou aquela organização política.
A esquerda nesse momento discute o problema da unidade de maneira abstrata, inclusive nas eleições. Desconsidera a situação política nacional e internacional e seu desenvolvimento concreto para traçar uma política eleitoral. A unidade eleitoral não procura estabelecer um programa de luta e mobilização real, que enfrente a situação política. A esquerda pequeno-burguesa, ébria com as eleições, faz seus planos baseados em determinadas apostas eleitorais que não são sequer viáveis.
O caso de São Paulo é bastante claro nesse sentido, o grande debate é se Guilherme Boulos (PSOL) tem mais o menos chances de ganhar as eleições do que Jilmar Tatto (PT). E com base nessa ilusão, começam a aparecer alianças, apoios, debates sobre quem tem o melhor programa administrativo para a cidade. Enquanto isso, os golpista aprofundam seu domínio no regime político, incluindo, é claro, a manipulação das próprias eleições.
Em primeiro lugar é preciso ter claro que a política que unifica é a derrota do golpe. Não simplesmente porque há o interesse comum da esquerda em lutar contra o golpe – o que não é verdade -, mas porque sem a derrota do golpe as condições de atuação da esquerda são as piores possíveis.
Nesse sentido, a única política eleitoral possível, mesmo para os partidos que têm nas eleições sua atividade central, é a luta contra o golpe que se materializa na palavra de ordem de fora Bolsonaro e de um ponto de vista de uma política para as eleições, uma campanha desde já pela candidatura de Lula. Essa campanha é a única capaz de mobilizar e unificar amplos setores dos trabalhadores e toda a esquerda, incluisve para as eleições.





