Poucos instantes após a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro em 2018, o candidato concorrente, Fernando Haddad (PT), veio a público desejar-lhe “boa sorte”. O líder do Movimento de Trabalhadores sem Teto (MTST) e também concorrente ao primeiro turno das eleições de 2018 Guilherme Boulos deixou claro que Bolsonaro era o vencedor legítimo da disputa. Nessas condições, pedir a anulação das eleições seria, portanto, impensável para os “sábios” da esquerda pequeno-burguesa.
Veio o ano de 2019. E com ele, veio também o início do mandato do fascista Jair Bolsonaro. Logo no seu discurso de posse, Bolsonaro afirmou que iria acabar com o socialismo. Para a esquerda pequeno-burguesa, ainda não era hora de pedir a derrubada do governo, pois esse contaria com enorme apoio popular.
Em março de 2019, veio o carnaval. E, na maior festa popular do país, o que mais se ouviu não foram declarações de amor a Bolsonaro, mas sim gritos de ódio contra um governo que mal chegara a seu 50º dia: “ei, Bolsonaro, vai tomar no c*” e “ai, ai, ai, Bolsonaro é o c*”. No entanto, para a esquerda pequeno-burguesa, isso não dizia muita coisa: o carnaval seria apenas uma festa e xingar Bolsonaro não seria o mesmo que querer sua derrubada.
Em maio do mesmo ano, vieram os maiores protestos que o país já viu nos últimos anos. Os protestos, catalisados pelos ataques à Educação, eram diretamente contra a política neoliberal do governo Bolsonaro. O Fora Bolsonaro aparecia cada vez mais nos cartazes e nos gritos dos manifestantes, mas.., ainda não seria a hora.
A partir desse período, abriu-se uma série de discussões inócuas no interior da intelectualidade pequeno-burguesa. Alguns, mais abertamente tucanófilos, falavam sem pudores que seria falta de Educação e, até, um indício de despolitização, xingar Bolsonaro. Outros, pretensamente mais comprometidos com a Revoulução Socialista, chegaram ao absurdo de dizer que, se o povo russo estivesse gritando “ei, Kerensky, vai tomar no c*, a insurreição bolchevique nunca viria”. Durante todo o resto daquele ano, os xingamentos contra o governo se tornariam cada vez mais populares, enquanto as teses contra a mobilização pela derrubada do governo foram se tornando mais reacionárias.
O carnaval de 2020, no entanto, está trazendo mais um problema para as teses dos ideólogos da esquerda pequeno-burguesa. Os xingamentos contra Bolsonaro têm se propagado ainda mais do que no ano passado. No entanto, as mesmas pessoas que xingam Bolsonaro, hoje também se mostram a gritar “Fora Bolsonaro”. Visivelmente, em todo o país. o “Fora Bolsonaro” está se tornando uma palavra de ordem frequente no carnaval.
Se até no carnaval, a população quer a queda do governo, não é necessário mais nenhum indício de que está na hora de organizar sua queda. Por isso, é preciso, já, partir para um amplo movimento que se coloque claramente com o objetivo de derrubar, na marra, o governo ilegítimo do fascista Jair Bolsonaro.