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Os limites da ação individual

Qual o papel das organizações de esquerda na pandemia?

É preciso organizar os trabalhadores para tomar os meios de combater a doença

Continuando o debate sobre a política correta para a atual etapa de crise, decidimos, neste artigo, polemizar com uma propaganda que chegou até a nossa redação na última semana, veiculada pela assessoria da ex-candidata à Vice-presidência da República Manuela D’Ávila (PCdoB-RS). A propaganda pode ser lida logo abaixo:

A pandemia de coronavírus já causou dez mil mortes no Brasil e mais de 270 mil em todo o mundo. Trata-se portanto, de um acontecimento de grande envergadura e com consequências dramáticas para a classe trabalhadora em todos os continentes. Assim, é mais do que natural que, diante de tamanha destruição, as pessoas, imbuídas de um espírito humanitário, pratiquem ações de solidariedade, como a que Manuela D’ávila aparece fazendo.

A solidariedade, no entanto, não põe em evidência apenas o potencial letal do novo coronavírus. Põe, acima de tudo, a completa ausência de iniciativa por parte do Estado para combater a pandemia. As doações de alimento, as expedições nas periferias, os restaurantes comunitários, entre tantas outras iniciativas, escancaram que a doença está sendo combatida, sobretudo, por uma organização paralela da população, e não pelos seus governantes e pelas instituições que integram o regime político.

E o grande problema por trás disso é que, no final das contas, ações individuais, como a de Manuela D’ávila, não serão suficientes para dar um combate efetivo à doença. Os trabalhadores, por sua própria conta, são capazes de destinar parte de seus já escassos recursos para ajudar a salvar seus irmãos — no entanto, tais recursos não se comparam àqueles que estão trancafiados nos cofres dos grandes bancos, nas contas dos capitalistas que faturam centenas de milhares de vezes a mais que um operário. Na sociedade burguesa, as riquezas não estão no bolso do trabalhador — portanto, não poderá sair daí uma solução para a pandemia.

Não bastasse a carência de recursos, não são os trabalhadores que controlam as instituições, os equipamentos, os prédios públicos — em último caso, o patrimônio desse país. Estão nas mãos de seus inimigos de classe o controle dos hospitais, da importação dos insumos médicos, do aparato de comunicação e, finalmente, do orçamento do Estado.

Nesse sentido, é preciso ter claro que, se, por um lado, a solidariedade individual poderá ajudar um ou outro indivíduo para se manter vivo diante da pandemia, por outro, a sobrevivência dos trabalhadores enquanto classe — desde seu aspecto sanitário até mesmo ao seu aspecto econômico —, só pode se dar através de uma disputa para que o Estado atenda aos interesses do povo. E aí que deve ser aberto o debate com a propaganda veiculada pelo PCdoB — hoje também chamado de Movimento 65.

O PCdoB é um partido político, não um elemento avulso no meio da sociedade capitalista. Sua existência se justifica pela luta pelo controle do Estado: os partidos, acima de tudo, existem para disputar o controle do Estado. E, sendo um partido de esquerda, sua existência deve se justificar pela luta pelo controle do Estado para defender aos interesses dos mais explorados — os interesses daqueles que precisam se chocar com o regime político para terem sua sobrevivência garantida. Manuela D’Ávila, como integrante de tal partido, deveria, portanto, pautar a sua ação com base nessas concepções.

Se entendemos que o papel do partido político é lutar para que o Estado passe a servir os interesses dos trabalhadores, e não da classe dominante, parasitária, que, finalmente, é a responsável por todas as catástrofes que encontramos hoje na sociedade, somos forçados a concluir que a ação solidária puramente individual não pode ser colocada no centro da atuação do PCdoB. Se o partido político de esquerda abre mão da luta para que o Estado atenda aos interesses da classe operária, deixa de ser partido, passa a ser uma instituição de caridade ou qualquer outra organização da sociedade civil.

O incentivo a esse tipo de ação, que tem seu fim limitado a si mesma, conforme vemos na própria propaganda do PCdoB — isto é, no que a atitude de Manuela D’Ávila, por mais bem-intencionada que possa ser, contribuiria para a sobrevivência da classe operária de conjunto? —, acaba por ocultar uma outra face da política do PCdoB. O aplauso às ações individuais omitem, por outro lado, a ausência completa de uma política para combater, no atacado, e não no varejo, as mazelas que a pandemia está trazendo. Não se encontra, nas resoluções de suas reuniões, nem tampouco nos artigos de sua imprensa, qualquer menção a um programa de luta dos trabalhadores para conseguir combater o coronavírus.

Dito de outra forma, os elogios à ação individual de Manuela D’Ávila vêm desacompanhados da denúncia de que não há hospitais para os doentes, sequer testes para a população, que os capitalistas da indústria farmacêutica seguem lucrando horrores, que a população está empobrecendo rapidamente, que a direita está se aproveitando da situação para aprovar ataques aos direitos trabalhistas, que milhões de pessoas sequer conseguem sacar o auxílio emergencial prometido pelo governo etc. E mesmo que houvesse, o papel de um partido político não pode ser o de apenas denunciar: é preciso apontar meios concretos para reverter a situação. Se não há denúncia, nem muito menos uma proposta concreta de como lutar para que os trabalhadores tenham suas reivindicações atendidas, não há como esperar outra coisa a não ser um genocídio.

Verifica-se, portanto, que a política das ações individuais, sem serem complementadas com um programa de luta, não servem aos interesses da população em geral — o que nos leva a concluir, inevitavelmente, que serve aos interesses de seus inimigos, dos capitalistas. E, de fato, o é. Enquanto os partidos políticos de esquerda se negarem a fazer o seu papel de travar uma luta para que o Estado sirva aos interesses do povo, e não de meia dúzia de sanguessugas que estão acabando com o país, a burguesia não estará sob ameaça.

Não há qualquer vantagem para a esquerda seguir essa política. A evolução da situação de crise apenas levará ao fortalecimento da burguesia no regime político e a um retrocesso enorme para os trabalhadores. No entanto, não raramente, setores da esquerda nacional têm defendido essa política — a de não se chocar com o regime político. É a política da frente ampla, a política segundo a qual os trabalhadores não deveriam se mobilizar contra o Judiciário que não pune os especuladores, a Polícia que não prende os patrões super exploradores e os políticos corruptos que entregam o país em meio a uma pandemia, mas sim lutar pela “democracia” — isto é, o regime político que vem sempre dando as costas para as demandas do povo.

A frente ampla, por sua vez, se alimenta da ilusão desses setores da esquerda nacional de que esse tipo de aliança permitira um êxito eleitoral futuro. Não bastasse o crime que seria trocar a vida de milhares de trabalhadores pela eleição de alguns deputados no futuro, a frente ampla é uma farsa completa, pois não contribui para catapultar a esquerda, mas sim para liquidá-la. Ao abraçar-se com os inimigos do povo, a esquerda perde o povo, e ao perder o povo, pavimenta o caminho para uma ditadura dos capitalistas.

É preciso, assim, romper com essa política suicida. Às palavras de ordem paralisantes de frente ampla e de solidariedade individual, é preciso levantar a palavra de ordem de formar conselhos populares. É preciso organizar a classe operária em seus bairros para enfrentar os seus inimigos de classe da maneira que se fizer necessária: organizando manifestações, ocupando prédios públicos, denunciando amplamente a ditadura instaurada para financiar suas vidas medíocres. Com os conselhos populares, com os conselhos do povo, abre-se a perspectiva de uma ação coletiva, de classe. Abre-se a perspectiva de obrigar o Estado a agir, quando e onde deve agir, sob o risco de seus representantes perderem seus pescoços, e abre-se a perspectiva de o povo agir, quando e onde deve agir, ao invés de aguardar o cumprimento de promessas que já nascem apodrecidas.

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