Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Qual deve ser a política da esquerda para combater a ditadura do regime golpista?

A eleição da chapa militar de Jair Bolsonaro (PSL) e Hamilton Mourão (PRTB) constituiu uma vitória política institucional dos golpistas rumo ao aprofundamento da política de privatização irrestrita, da entrega de nosso patrimônio natural ao estrangeiro, do desmonte do Estado brasileiro, do ataque aos servidores e ao serviço público em geral, da extinção de direitos da população, da perseguição judicial e criminalização das organizações e lideranças populares. Se por um lado os Poderes Executivo e Judiciário já são controlados respectivamente por Sérgio Etchegoyen e por Fernando Azevedo e Silva, por outro lado – e talvez dentro da política de “aproximações sucessivas” anunciada por Mourão há pouco mais de um ano – o imperialismo necessita de um ritmo mais intenso de ataque à população – como a tramitação da reforma da previdência ou da Lei da Mordaça – elaborada pelo movimento nazista Escola sem partido.

Como lutar contra esse progresso da direita? A experiência internacional de Honduras e Paraguai, que tiveram golpes semelhantes há mais tempo, mostra que grande parte do que a esquerda vem chamando de Resistência é completamente ineficaz: dispõem-se a empreender uma espécie de oposição parlamentar apoiada por recursos jurídicos contra os golpistas. Ocorre que se habitualmente as instituições ditas “democráticas” são impermeáveis à pressão popular, após o impeachment de 2016 produziu-se uma tal quebra do pacto firmado com a Constituição de 1988 que não se pode contar absolutamente com as instituições do Estado para dirimir os conflitos políticos resultantes da luta de classes.

A estratégia do cretinismo parlamentar, limitada a indignados protestos inscritos aos plenários do Poder Legislativo, já se mostrou inócua não somente no exterior, mas também em todo o processo de luta contra o golpe no próprio Brasil tal como vem ocorrendo desde 2016. Se o Estado está completamente a serviço da burguesia, não serão discursos de deputados nas tribunas ou as chicanas judiciais nos tribunais os verdadeiros instrumentos de mobilização por nossos direitos.

A esquerda nacional acreditou que derrotaria o impeachment de Dilma nas votações do Congresso Nacional, e Dilma foi deposta. Depois acreditava-se que a justiça seria feita, e que Sérgio Moro – o Mussolini de Maringá – não teria coragem de condenar sem provas Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente não apenas foi condenado, mas foi encarcerado e impedido de participar nas eleições. As eleições eram a grande bandeira de “luta” daqueles que abandonaram de saída a luta pela anulação do impeachment, lançando-se à campanha por votos e opiniões desde 2016 – como no caso das malfadadas Diretas Já.

Nas eleições presidenciais em 2018, com Lula preso, o Psol, o PCdoB e o PDT lançaram candidaturas alternativas, como se o processo conduzido pelos golpistas com o impedimento do ex-presidente fosse legítimo. Tamanha foi a pressão exercita por esses setores e pela direita do próprio Partido dos Trabalhadores, que em setembro a coligação outrora encabeçada por Lula capitularia e lançaria a candidatura alternativa de Fernando Haddad (PT) e Manuela D’Ávila (PCdoB) – evidentemente destinada ao fracasso nas eleições mais fraudadas da história nacional. A campanha da chapa Haddad/Manuela rumou ladeira abaixo: vestiu-se de verde-e-amarelo, retirou a constituinte popular de seu programa, abriu mão do direito fundamental ao aborto legalizado. Haddad declarou apoio a Sérgio Moro (“fez um bom trabalho na Lava Jato” e “ajudou o país”), e que os dirigentes de esquerda deveriam ser presos.

Agora o mesmo Guilherme Boulos que fora candidato à Presidência pelo Psol, e o mesmo Fernando Haddad que capitularam vergonhosamente para o golpe advogam a “resistência institucional” ao fascismo anunciado de antemão por Bolsonaro e seus asseclas. Haddad desejou “sucesso” ao fascista, e afirmou – num acesso de infantilidade política – que não vai “torcer contra” seu governo. Boulos diz que vai lutar pelo reconhecimento da legitimidade da eleição de Bolsonaro, para não “fazer como o Aécio em 2014”. Os governadores reeleitos do PT no Wellington Dias (PI), Rui Costa (BA) – adeptos de primeira hora da capitulação ao golpe – apressaram-se em juntar-se a outros governadores numa vergonhosa carta publicada no dia 16 de novembro em que defendem, entre outras barbaridades, o fim da estabilidade de servidores públicos concursados.

A tendência a não empreender a luta mostra o oportunismo da prática desses setores direitistas que grassam em nossa esquerda, em que em prol de pequenas vantagens e negociações circunstanciais abandona-se a luta pelas demandas mais fundamentais da classe trabalhadora. A experiência mostra, em todo caso, que o imperialismo não se apieda de capituladores. Ao contrário: estão entre os primeiros a serem perseguidos, condenados e criminalizados.

Desnecessário lembrar aqui dos inúmeros discursos do próprio Jair Bolsonaro em sua vasta carreira de bizarrices políticas. Para ficarmos apenas nas “promessas de campanha” do militar, recordemos de sua promessa de “fuzilar a petralhada do Acre” e de seu célebre pronunciamento por celular aos manifestantes da avenida Paulista em que ameaçava:

a faxina agora será muito mais ampla. Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão pra fora ou vão para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria. (…)

E seu Lula da Silva, se você estava esperando o Haddad ser presidente para soltar o decreto de indulto, eu vou te dizer uma coisa: você vai apodrecer na cadeia. E brevemente você terá Lindbergh Farias para jogar dominó no xadrez. Aguarde, o Haddad vai chegar aí também. Mas não será para visitá-lo, não, será para ficar alguns anos ao teu lado.

Pretalhada, vai tudo vocês para a ponta da praia. Vocês não terão mais vez em nossa pátria. (…) Será uma limpeza nunca vista na história do Brasil.

A nomeação de Sérgio Moro para o Ministério da Justiça confirma o tom da caça às bruxas que um eventual governo Bolsonaro pretende empreender. Recentes “denúncias” já adiantam as linhas de ataque: não apenas Fernando Haddad tornou-se réu em nova investigação, como também o foram o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, o ex-secretário do Tesouro Arno Augustin, o ex-presidente do Banco do Brasil Aldemir Bendine – por conta do mesmo argumento ilegal das supostas “pedaladas fiscais” que teriam motivado o impeachment de Dilma Rousseff, ela própria ameaçada de prisão. A acusação de formação de quadrilha que se imputa a Haddad não dá margem a dúvidas: o objetivo é colocar na ilegalidade todo o PT, os sindicatos, os movimentos populares como o MST e o MTST.

Por isso, a luta pela liberdade de Lula ainda é central, tanto por seu poder de agregação e mobilização quanto por suas consequências reais na defesa das organizações populares e de suas lideranças. Tal luta não pode ficar a reboque das lideranças partidárias, mas deve pressioná-las pela base em comitês de luta contra o golpe articulados nacionalmente. Somente um amplo movimento de massas pode exigir a liberdade imediata e incondicional de Lula. Somente a classe trabalhadora organizada em atos, trancaços e greves pode se opor resolutamente à legitimação do governo direitista, criminoso e assassino que pretende ascender ao poder por meio de um processo eleitoral conduzido no seio do golpe de Estado demandando: Fora Bolsonaro e todos os golpistas.

 

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.