Os grupos ou ativistas que se reivindicam stalinistas ou “ neostalinistas” procuram atuar com bastante truculência, pelo menos com uma verborragia marcada por agressividade e insultos contra os oponentes, no estilo bolsonarista nas redes sociais.
Especialmente contra os trotskistas são apresentadas piadas prontas sobre o uso de picaretas, em referência ao instrumento usado pelo assassino de Trotsky em 20 de agosto de 1940, bem como ameaça de deportação para um Gulag russo , local onde eram deportados os oposicionistas ao regime stalinista.
Qual o objetivo político para a utilização recorrente de ameaças e deboche contra opositores por aqueles que se reivindicam de “esquerda” ? Em linha geral, o mesmo usado pelos bolsonaristas, a interdição do debate e a intimidação do adversário para evitar o contraditório.
Curiosamente que os autodenominados “stalinistas” procuram transformar a completa falta de argumentos e no recorrente uso de ataques como sendo uma expressão de “ combatividade” e mesmo de “superioridade”. Mais uma vez uma característica bolsonarista de antecipadamente negar a possibilidade de questionamento, e demostrar que não admitem nenhum tipo de contestação.
Em geral, os “ neostalinistas” apresentam a truculência com um sinônimo de “ marxismo ortodoxo”, e “ bolchevismo”, como se discutir, argumentar, debater seria sinal de “ fraqueza”. Na realidade essa imitação dos métodos stalinista não tem nada a ver com marxismo nem muito menos com bolchevismo.
O stalinismo foi a expressão política da dominação da burocracia na URSS, que impôs o desmantelamento do Partido Bolchevique através de uma força bruta, um mecanismo de Termidor soviético contra os revolucionários.
A ação truculenta de Stálin não foi um método de força no sentido da defesa da revolução, mas pelo contrário representou o uso contra revolucionário da violência, por isso Trotsky denominou Stalin como o “coveiro da revolução russa”.
Neste sentido, ao utilizar da intimidação dos adversários, os neostalinistas não demostram superioridade, mas exatamente o contrário, indicam um desespero político de um setor da esquerda pequeno burguesa, que procuram imitar o stalinismo, na verdade o bolsonarismo para escamotear a completa fraqueza das suas posições políticas.
Não podemos nos impressionar com a agressividade dos “ neostalinistas” nas redes sociais. Não se trata de nenhuma retomada do stalinismo, pois do ponto de vista histórico, ele está morto e enterrado, pois foi um fenômeno política relacionado com a degeneração da URSS, e que, portanto, hoje não há base material da burocracia estatal russa para sua existência.
Além do mais, o stalinismo ideológico é uma farsa, pois o próprio stalinismo quando existiu nunca teve uma coerência ideológica, e o chamado “ marxismo leninismo” do aparato de propaganda da URSS sob o comando de Stalin era uma deformação consciente do marxismo, com uso escolástico das citações de Lênin para justificar uma política anti lenista de Stalin.
Mas, então o que motiva o aparecimento de “ neostalinistas” no contexto brasileiro em 2020? Por que a utilização de métodos de intimidação tão característicos dos bolsonaristas por gente que se reivindica de esquerda?
Um ponto central nesta questão é defesa de frente ampla de colaboração de classe com a burguesia golpista por essa esquerda “ neostalinista”, na medida que, essa posição foi sendo exposta politicamente, a moda de impedir o livre debate foi sendo realçada nas redes sociais.
Precisamente nesta operação de encobrimento da aliança com a burguesia em nome da “ democracia” e contra o “ bolsonarismo”, que os neostalinistas se valem das ameaças e das piadas prontas contra os adversários, imitando não o stalinismo mas o bolsonarismo para traficar na esquerda a capitulação política à direita golpista.