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PSOL na frente com Bolsonaro? David Miranda quer trabalhar junto ao governo pelo fim do foro especial

A manchete nos jornais de direita parecia contraditória: “David Miranda propõe trabalhar com Bolsonaros pelo fim do foro privilegiado”. O futuro substituto de Jean Wyllys (PSOL) na Câmara Federal sequer assumiu o mandato e já encampa a tradicional política de seu Partido, construída não a partir de uma análise objetiva das forças concretas, à luz da luta de classes, mas sim a partir de uma visão individualista e portanto moralista da política.

Parecia um flerte inocente. Miranda postou em sua conta do Twitter:

Carlos tem razão. Sempre estarei pronto pra trabalhar, com civilidade, com qualquer político que queira o melhor da nossa nação. Por exemplo, eu adoraria trabalhar com seu partido e sua família, logo na primeira semana do Congresso, para eliminar o foro privilegiado. Vocês topam?

O fascista, filho do presidente golpista Jair Bolsonaro, aquiesceu prontamente:

Conheço o vereador David Miranda (PSOL) e sempre tive um convívio pacífico na Câmara do Rio, mesmo sendo contrário aos seus posicionamentos e estratégias. A exploração midiática criada em torno deste assunto é absurda e extremamente tendenciosa! Que seja feliz!

Deixemos por hora a parelha em seu cortejo para uma breve caracterização desse fenômeno escatológico.

Cumpre lembrar ao menos o papel que o PSOL vem desempenhando desde os alvores dos movimentos golpistas. Desde a oposição resoluta ao governo legitimamente eleito do PT, passando pelo apoio às Jornadas de junho de 2013 que deram origem a grupos fascistas como o MBL ou o Vem pra Rua, passando pelo movimento colonizado golpista Não vai ter Copa, pelo ataque implacável ao governo do PT até as vésperas da deposição de Dilma Rousseff, quando então criaram a Frente Povo sem Medo para “lutar contra o golpe sem defender o PT”, seguindo o comando de Luciana Genro que dava vivas à Lava-jato.

Sempre mais da velha demagogia centrista: enquanto a deputada Erundina “tomava de assalto” o plenário da Câmara, o também Chico Alencar beijava a mão de Aécio Neves num convescote na imprensa golpista. Ainda em 2016, o psolista Marcelo Freixo, defensor da ocupação policial de comunidades denominada UPP, tornara-se já o candidato preferencial da Rede Globo frente à candidatura de Crivella.

Em meio a esse turbilhão, o deputado Jean Wyllys, que cuspira na cara de Bolsonaro durante a votação do impeachment de Dilma, não apenas apoiava a política genocida do imperialismo executada Israel no Oriente Médio, como declarava calmamente numa palestra que a luta de classes e a mobilização da classe trabalhadora era uma posição da “velha esquerda”, já que hoje há novas forças em ação como os movimentos feministas e LGBT. A política desse parlamentar, nesse sentido, sempre se aproximou mais do Partido Democrata norte-americano – o mesmo que promoveu o golpe no Brasil – que do socialismo.

Mas a realidade da luta de classes e das forças políticas em jogo logo bateria às portas do PSOL. O Imperialismo investe sobre a América Latina numa marcha implacável de destruição de todas as organizações populares, de perseguição de todas as lideranças de esquerda – inclusive os pequeno-burgueses como Wyllys. Implementada a intervenção militar no Rio de Janeiro, as forças de segurança – constituintes fundamentais da base política da família Bolsonaro – assassinaram barbaramente a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e seu motorista. Os demais líderes do partido – sobretudo os homossexuais – passaram a ser alvos preferenciais da investida da extrema-direita em seu processo de mobilização fascista.

Acuado, Wyllys optou por desistir do mantado parlamentar – dando mostras de fraqueza aos seus inimigos políticos e tornando sua base de ativistas LGBT especialmente vulnerável aos ataques da extrema-direita. Mas não o fez sem antes reeleger-se, de modo a garantir sua sucessão por seu correligionário, o então vereador David Miranda – também homossexual e defensor preferencial da causa LGBT. Talvez por um medo não infundado de ter o mesmo destino que Marielle, o futuro deputado apressou-se em flertar num acordo centrista com os carrascos de seu partido e de toda a esquerda: a família Bolsonaro.

É possível que os ingênuos argumentem que se trata de uma causa “nobre”: o fim da impunidade para políticos. Ao contrário. Como se sabe, o foro especial – também chamado pejorativamente de foro privilegiado – destina-se a reduzir a vulnerabilidade de lideranças políticas desprovidas de apoio e proteção econômica para custear processos judiciais. O fim do foro especial beneficia somente à burguesia – que sempre vai comprar rábulas e magistrados no atacado. Os grandes atingidos pelo fim do foro especial serão justamente os políticos de esquerda, como o próprio Miranda – que aparentemente se acha imune ao processo de perseguição que atingiu até mesmo Luiz Inácio Lula da Silva.

Ao fim e ao cabo, Miranda flerta com os Bolsonaros em defesa de uma pauta direitista, moralista e comprovadamente golpista no cenário atual: está ajudando a cavar a vala comum com que a direita pretende enterrar não apenas seu partido mas toda a esquerda.

A única racionalidade visível neste flerte macabro é o instinto de sobrevivência oportunista típico de esquerdistas aboletados em cargos da institucionalidade burguesa. Acreditam que, fazendo acordos de camarilha com a direita, garantirão uma boa visibilidade na imprensa golpista e poderão trocar um ou outro apoio em projetos de lei de interesse paroquial. Nada de defender a classe trabalhadora e nem a própria esquerda frente ao feroz avanço do imperialismo sobre a América Latina. Trata-se aqui de uma tentativa de garantir a reeleição e o cargo, mesmo que à custa da miséria do povo, mesmo que à custa do esmagamento de toda a esquerda sob os coturnos dos militares que se apossam cada vez mais do poder a serviço do imperialismo estrangeiro.

É um comportamento oportunista, primo daquele praticado por Ciro Gomes em seu ataque ao PT e apoio a Bolsonaro, parelho do apoio do PCdoB ao golpista Rodrigo Maia (DEM) em sua candidatura à presidência da Câmara, vizinho do servilismo demonstrado pelos governadores do PT no nordeste ao governo golpista, filho do desejo de “sucesso” de Fernando Haddad a Bolsonaro após as eleições. É uma política irmã da praticada por seu correligionário Guilherme Boulos em toda a campanha presidencial e até hoje, quando submete-se de bovinamente não apenas ao processo eleitoral fraudulento conduzido pelos golpistas, e quando mostra-se um empedernido defensor da legitimidade do governo Bolsonaro.

Não apenas a história mas também a experiência recente aqui e alhures – como em Honduras ou no Paraguai – mostram o destino funesto dessa política de capitulação. Não há acordo de bastidores possível diante da atual crise do capitalismo global. O imperialismo em sua marcha de opressão dos povos da América Latina só será detido quando se deparar com a única força política popular real: a mobilização da classe trabalhadora. A estreia de Miranda no mandato federal poderia ter sido épica, mas foi apenas burlesca. Ela serve como indicativo claro da inutilidade parlamentar na atual conjuntura.

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