Desde o último dia 18 a Nicarágua tem sido sacudida por violentos protestos contra a reforma previdenciária que está sendo proposta pelo governo daquele país. O saldo de vítimas até agora varia, segundo a fonte, de seis a mais de 30 mortos. A reforma que suprime uma série de direitos é uma exigência do FMI que nesta semana envia ao país uma delegação para avaliar a suficiência das medidas propostas pelo governo para que a eliminação do deficit das contas do Instituto Nicaraguense de Seguridade Social (INSS). As reformas incluem um aumento da contribuição previdenciária paga pelos trabalhadores de entre 6,25% a 7%, aumento para os empregadores do percentual de contribuição para entre 19% e 22,5% do salário pago além da instituição para os aposentados de contribuição de 5%.
A maioria dos manifestantes é composta por estudantes e aposentados. A reforma também encontra firme oposição do setor privado e um de seus líderes, José Adán Aguerri, presidente do Conselho Superior da Empresa Privada, afirmou que as medidas preconizadas pelo governo não só não garantirão a sustentabilidade da previdência como também acarretará aumento do desemprego e queda do consumo e da competitividade.
As manifestações antigovernamentais foram convocadas pelas redes sociais e se confrontaram com outras manifestações a favor do governo. Acusações de responsabilidade pela violência são trocadas pelos dois lados. Foram registradas ocorrências de saques a lojas e também ataques a hospitais e a prédios do governo. O presidente do país, Daniel Ortega, denunciou a atuação de pequenos grupos financiados pelos Estados Unidos para a derrubada de seu governo. Tanto o governo quanto a liderança do setor privado se declararam abertos ao diálogo e este último convocou uma “marcha nacional pela paz e pelo diálogo” para segunda-feira.
Para os que estão acompanhando a política latino-americana nos últimos anos, não surpreende a chegada à imprensa internacional de notícias relativas a instabilidade na Nicarágua. Como já ocorreu em outros países da região (e ao redor do mundo) um governo reformista capitula diante as pressões da banca internacional e adota medidas impopulares. Rapidamente as ruas são tomadas por manifestações capitaneadas por pessoas decididas, bem equipadas e apoiadas pela imprensa corporativa e pelas entidades representativas do setor privado, criando um clima de instabilidade. Isto parece ser o que ocorre na Nicarágua e uma rápida leitura do jornal direitista “La Prensa” é bem ilustrativa.