A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nesta terça-feira (11) levantamento sobre o comportamento da indústria no primeiro trimestre de 2021, onde informou que a produtividade do trabalho caiu 2,5% nesse período em relação ao último trimestre de 2020. De acordo com a CNI houve um aumento de 1,9% de horas trabalhadas e uma queda de 0,5% na produção. Trabalhou-se mais e produziu menos, é o que a entidade dos patrões quer dizer.
A produtividade do trabalho costuma ser um dos indicadores mais importantes utilizados pelos economistas burgueses para mostrar a competitividade de uma economia em relação as demais. Dentro do conceito de produtividade difundido pala economia burguesa está o quanto um trabalhador pode produzir em determinada jornada de trabalho. Se produz mais trabalhando menos horas, a produtividade aumentou. Se trabalha mais e produz menos, como informa a pesquisa que a CNI divulgou, isso significa que a produtividade diminuiu.
Em geral, quando a produtividade aumenta, aumentou também a exploração da mão-de-obra e o capitalista teve lucro maior. Isso quer dizer que o capitalista pagou menos para o trabalhador para que ele produzisse mais. Contudo, não é só assim que funciona a exploração capitalista. Os donos dos meios de produção, para aumentar a capacidade de produção e manter-se na concorrência, procuram aumentar essa produtividade instalando máquinas mais modernas e mais rápidas, processos de trabalho mais eficientes e uma série de outros mecanismos que barateiem a produção e circulação das mercadorias produzidas pelos trabalhadores.
Nesse caso, a produtividade está relacionada à capacidade da indústria em produzir mais usando menos horas de trabalho se valendo de métodos e máquinas mais modernos e mais eficientes, que ajudem a tirar o máximo de lucro do trabalho realizado. Diante da crise capitalista no entanto, os industriais burgueses não tem condições de investir máquinas mais modernas e intensificam a exploração dos trabalhadores para tentar compensar a defasagem das máquinas, o que leva a este fenômeno de aumento das horas de trabalho e menor produtividade.
É por isso que a CNI ao informar a queda na produtividade comentou que a crise capitalista e a situação da pandemia interferiram muito nesse índice de produtividade menor: “Soma-se à elevada incerteza, o desarranjo das cadeias produtivas, associado a: estoques ainda baixos, alta dos custos e aumento da escassez de insumos e matérias-primas”, justificou a CNI dizendo que as questões momentâneas e conjunturais têm influenciado muito mais a produtividade que as mais duradouras “ como maior qualificação do trabalho ou inovações tecnológicas”.
A crise capitalista tem mostrado que a produção em um determinado país depende muito mais hoje das partes e componentes que são produzidos em outro país e dos arranjos produtivos de cada tipo de indústria. Conhecemos muito bem isso há bastante tempo com a situação das montadoras da veículos. Mas hoje em dia, quase todos os ramos, desde aqueles que produzem itens muito simples, até os que produzem mercadorias muito complexas e sofisticadas, dependem de partes, componentes e matérias-primas produzidos em várias partes do planeta. A crise provocou desarranjos nos processos de cada conjunto de empresas capitalistas e isso também interfere na produtividade do trabalho.
Na prática, o que tem acontecido nessa situação real é que os capitalistas têm se deparado com uma situação de crise que coloca em xeque a forma de produção atual e também se eles vão conseguir manter os altos lucros com os quais estavam acostumados. Com a queda nos lucros, os empresários pressionam os governos a aumentarem as vantagens e benefícios para as empresas, ao mesmo tempo em que exigem mais condições para explorar mais os trabalhadores e pagar menos.
Por isso, vimos que um dos pontos principais do golpe de 2016 foi a destruição dos direitos dos trabalhadores, a fragilização dos sindicatos e o aumento do poder dos patrões. Isso tudo unido a uma forte pressão pela privatização das empresas estatais, desnacionalização das empresas brasileiras com capacidade de competição internacional e destruição de parte considerável do parque industrial brasileiro (indústria aeroespacial, indústria naval, indústria petroquímica, indústria eletrônica, empreiteiras etc.)
Assim, na prática, a informação da CNI sobre a produtividade, se for considerada somente ela, não significa muita coisa para mostrar a situação dos empresários e dos trabalhadores no Brasil. Os salários têm sido reduzidos, as horas trabalhadas a mais não são sempre pagas, os direitos dos trabalhadores têm sido negados ou esquecidos sem que os sindicatos possam reclamar ou interferir, quer porque não podem mais fazê-lo porque a legislação trabalhista foi alterada, quer porque perderam a capacidade de mobilizar os trabalhadores.