“O Trabalho do Ator Sobre Si Mesmo” será publicado pela editora 34 no início do próximo ano, mas a tradução já está em estágio avançado. A obra é referência para interpretação não só no palco, mas no cinema e na televisão.
A questão importante sobre a publicação de sua obra no Brasil é que as traduções anteriores eram de edições americanas e sem a totalidade da obra, com publicação apenas da primeira parte do livro, que aborda os elementos internos da interpretação. Sem a segunda parte, que trabalha mais os aspectos externos, a obra ficava incompleta.
Konstantin Sergueievitch Alekseiev (1863-1938), que usava o pseudônimo Stanislavski, foi diretor, ator e crítico teatral russo nascido em Moscou, em 17 de janeiro de 1863. Ele permaneceu por muito tempo relutando em escrever um livro que pudesse eternizar seus métodos e inspirar outros artistas, mas escreveu Moia jizne v isskusstve (1924), obra autobiográfica, e três obras fundamentais sobre o método de interpretação que criou, que nas edições brasileiras chamaram-se “A preparação do ator” (1968), “A criação de um papel” (1972) e “A construção do personagem” (1976).
Filho de um industrial e neto de uma atriz francesa, desde cedo foi atraído pelas artes interpretativas e freqüentou circo, ópera e balé. Ator desde os 14 anos participou da criação da Sociedade de Arte e Literatura (1888), onde se destacou como ator e diretor. Aos 25 anos, Stanislavski passa a ser um dos fundadores, junto com Fiédotov dentre outras personalidades, da Sociedade Literária de Moscou, pois havia a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre a arte teatral.
Quase dez anos mais tarde, após inúmeras trocas de correspondências com o escritor e professor Vladímir Dântchenco, no dia 22 de junho de 1897 ocorre um encontro histórico que influenciaria até os dias de hoje o teatro mundial. Stanislavski e Dântchenco resolvem fundar o Teatro de Arte de Moscou, do qual tem como objetivo a busca de uma unidade teatral, inovando na forma de interpretação dos atores e proporcionando à platéia uma apresentação da realidade nos palcos, quebrando paradigmas pré-impostos, baseando-se em sérios e aprofundados estudos sobre expressão corporal, vocal e técnicas de preparação do ator. Sua vontade não se limitava a querer construir um sistema com verdades absolutas, mas sim criar a acessibilidade aos atores, indagá-los a respeito da capacidade de cada um e de como o trabalho do ator era capaz de atingir o público.
Assumiu a direção do Estúdio de Ópera do Bolshoi (1918) e ali criou seu estilo de encenação que ele chamou de memória afetiva e que divulgou numa tournée internacional (1922-1924), mundialmente conhecido como método Stanislavski.
No Sistema Stanislavski, como ficou conhecido o método do autor, o objeto central da arte teatral são as ações humanas, o artista central é o ator. O ator é autor/instrumento/matéria prima desse processo artístico. Seu corpo e seu simbólico (chame de intelecto, espírito ou como quiser) devem ser preparados e depois mantidos permanentemente treinados para que ele possa exercer sua função central no teatro. Essa preparação e esse treinamento têm, nos ensinamentos de Stanislávski, uma base incontornável. Por outro lado, o que Stanislávski procurava era o mesmo que se procura sempre: respostas cênicas para as questões humanas – morte, poder, sexo, amor.
Com o Teatro Popular de Arte de Moscou, realiza montagens memoráveis após a Revolução Russa, como O Trem Blindado (1927) e Otelo e Almas Mortas (1932). Após sofrer um ataque cardíaco (1928), deixou de atuar e se dedicou a dirigir e formar atores e diretores.
Stanislavski morre no dia 7 de agosto de 1938, na mesma cidade onde nasceu, Moscou, deixando como legado seus métodos, mais tarde publicados em 7 volumes com tradução em inglês, espanhol, francês, italiano, russo e português e em diferentes títulos.