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'Democracia' dos ricos

Primárias democratas: EUA à beira da polarização nas eleições

O esforço da imprensa e dos próprios pré-candidatos democratas em caracterizar Bernie Sanders como extremista e fora da realidade, procura esconder a crescente polarização nos EUA.

Os Estados Unidos vivem um clima de tensão em face do processo de escolha de seu candidato às próximas eleições presidenciais. Na realidade, Donald Trump vai se candidatar à reeleição pelo Partido Republicano, portanto a tensão maior fica do lado dos Democratas que faz muito tempo já não esconde que não se trata exatamente de um partido muito diferente do seu tradicional oponente.

Como se sabe, os partidos fazem uma escolha entre pré-candidatos que disputam a escolha de delegados, por estado, que são os que, de fato, escolherão o candidato do partido nas eleições presidenciais. São as denominadas prévias[1], que ficam a cargo da direção do partido no respectivo estado.

Em fevereiro, foram realizadas quatro prévias (duas primárias e dois caucus), nos estados de Iowa, New Hampshire, Nevada e Carolina do Sul, das quais, o senador Bernie Sanders obteve maioria nos três primeiros estados[2] e ficou em segundo no último, atrás de John Biden.

Março é o mês com a maior concentração das prévias, sendo bastante esperada a chamada a chamada Super-Terça (Super Tuesday), ocorrida ontem, quando ocorreram simultaneamente prévias nos seguintes estados: Alabama, Samoa Americana, Arkansas, Califórnia, Colorado, Maine, Massachusetts, Minnesota, Carolina do Norte, Oklahoma, Tennessee, Texas, Utah, Vermont e Virginia, cujos resultados começavam a ser divulgados quando fechávamos, ontem, esta edição.

As primarias seguirão até maio e a convenção do Partido Democrata será realizada entre os dias 13 e 16 de julho em Milwaukee, Wisconsin, quando confirmarão o candidato do partido para as próximas eleições presidenciais[3]. Já é certo que Donald Trump deve ser confirmado candidato à reeleição pelo partido Republicano na convenção do partido em Charlotte, Carolina do Norte, entre os dias 24 e 27 de agosto.

Assim como aconteceu nos quatro primeiros estados, repete-se nesse momento em todos os demais estados, há um ataque coordenado entre os pré-candidatos democratas contra o senador Bernie Sanders. A imprensa também participa ativamente da campanha para caracterizar Sanders como um extremista sem noção e cheio de ideias e projetos inviáveis ou inexecutáveis.

No entanto, além de isso não parecer estar surtindo o efeito desejável de reduzir o apoio de setores populares a Sanders tem deixado cada vez mais clara uma divisão entre os norte-americanos, que rejeitam as políticas que os democratas e os republicanos tem insistido executar no país, aprofundando a desigualdade, protegendo e privilegiando os ricos e os muito ricos, eliminando qualquer proteção aos trabalhadores, inviabilizando o acesso aos serviços de saúde pelos mais pobres, discriminando os cidadãos de origem latina e os negros, apesar das máscaras que os discursos de igualdade e de um país de oportunidade para todos continuar sendo proferido.

Além disso, a percepção de que a democracia norte-americana é uma farsa, uma vez que o sistema é completamente dominado por bilionários e por empresas, cujos lobbies atuam contra os cidadãos mesmo em casos escandalosamente claros, e que os partidos que dominam o sistema eleitoral não são, em si, democráticos.

A insatisfação com a política externa do país também é motivo de divisão entre os cidadãos, em particular o financiamento para guerras intermináveis e que assassinam milhões de pessoas de forma continuada mundo afora.

A polarização é uma realidade nos EUA faz tempo. Hoje está comprovado que houve fraude na escolha do candidato do Partido Democrata nas últimas eleições presidenciais de 2016, em que Hilary Clinton, numa campanha milionária ainda usou de subterfúgios para garantir sua indicação como a candidata do partido. E perdeu, de toda forma, para Donald Trump.

Uma parcela considerável da juventude, de cidadãos negros e latinos, e das mulheres, apoiam explicitamente Bernie Sanders e suas propostas, incluindo a de um sistema de saúde de acesso universal, aumento do salário mínimo, fim do endividamento dos estudantes universitários. Ou seja, dentro do país coração do capitalismo, a população se coloca contra a perversidade do sistema e aposta em mudanças.

Até aqui, Sanders se mantem à frente da corrida e o resultado consolidado da esperada Super Terça[4] deve confirmar essa posição, e uma polarização que não deve acabar tão cedo.

 


NOTAS:

[1] Na realidade, o sistema de escolha, bem como de decisão nos partidos norte-americanos é complicado. Existem basicamente dois tipos de possibilidade para decisão sobre políticas a apoiar e escolha de candidatos, o mais antigo se denomina Caucus que, sinteticamente, seria a decisão por comitês, e as primárias que seriam por participação direta dos eleitores. Aliás, há ainda uma possibilidade de que mesmo os que não sejam filiados possam participara da escolha de delegados, o que torna o processo ainda mais complexo (e sujeito a manipulação, claro). Por isso, há estados em que ocorrem cáucus e outros em que ocorrem primárias propriamente ditas, no caso da decisão por um candidato (na realidade, se escolhe delegados que vão participar da convenção do partido para a escolha do candidato).

[2] No caso de Iowa, até o momento não houve revisão (prevista) que as pesquisas mostram que colocariam Bernie Sanders na frente. Ele é o vencedor de fato, embora os resultados ainda vigentes ainda indiquem Pete Buttigieg à frente, com dois delegados a mais que Sanders.

[3] Os pré-candidatos, ao longo das prévias, conforme sua votação, ganham delegados, proporcionalmente e conforme regras que definem limites mínimos de votos para garantir os delegados. Qualquer membro do partido pode se candidatar a delegado, que geralmente são ativistas do partido ou líderes políticos locais.

Nas primárias do Partido Democrata, há 3.979 vagas para delegados e está definido que qualquer candidato que ganhe mais de 50% desses delegados durante a fase das primárias (ou seja, 1.990 delegados), se torna o indicado do partido na convenção.

No entanto, se até a realização da convenção, ninguém tiver mais de 50% dos delegados, ocorreria o que se denomina de convenção “contestada” ou “intermediada”. Nesse caso, como é certo que nenhum candidato teria maioria, uma segunda votação ocorrerá, mas, além dos 3.979 delegados, que votariam novamente, a eles se juntariam um número estimado de 771 “superdelegados”. Estes são altos funcionários, do passado e do presente, e que teriam liberdade para votar em quem quiserem. Se um candidato ganha 50% ou mais nesse voto – 2.376 delegados -, ele se torna o candidato à corrida presidencial pelo Partido Democrata.

[4] Até o fechamento desta edição, nenhum dos Estados que realizaram prévias na chamada Super Terça haviam concluído em definitivo a apuração e apresentado os vencedores. No entanto, a maioria das pesquisas realizadas, indicam que Sanders aparece à frente de Biden (o candidato que a imprensa tenta turbinar).

 

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