Odiado pelo establishment estadunidense por ter ousado divulgar algumas de suas façanhas as quais prefeririam que não tivessem vindo a público, Julian Assange encontra-se há mais de seis anos e meio confinado num pequeno apartamento de cerca de 180 metros quadrados onde funciona a embaixada do Equador em Londres, na Inglaterra. Ao confinamento, condição insalubre por si só, juntou-se o fato de que o governo equatoriano que desde meados de 2017 tem à frente o presidente Lenín Moreno lhe é hostil. A condição de saúde do jornalista está cada vez mais precária.
Julian Assange, 47 anos, é um jornalista e ciberativista australiano cujo destino foi selado quando em 2006 ele fundou o Wikileaks. Esta é uma organização transnacional sem fins lucrativos, sediada na Suécia, que publica, em sua página, postagens de fontes anônimas, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis. Apesar do seu nome, a WikiLeaks não é uma wiki ─ leitores que não têm as permissões adequadas não podem editar o seu conteúdo. A página, administrada por The Sunshine Press em meados de novembro de 2007, já continha 1,2 milhão de documentos.
Frequentemente acusado de maneira inapropriada de ser um hacker, a grosso modo, encarado pelo aspecto jurídico de suas ações, Assange não cometeu nenhum crime pois não violou nenhuma base de dados ou acessou por qualquer outra forma documentos públicos protegidos por sigilo. Ele publica apenas aquilo que outras pessoas fazem chegar às suas mãos. A perseguição a Assange teve o mérito de pôr a nu mais uma vez a farsa que são as chamadas democracias ocidentais. Estados Unidos, Reino Unido e Suécia se esmeraram na perseguição e terão mais uma vez suas mãos sujas de sangue se ele vier a falecer em cativeiro.
Com relação ao Brasil a revelação mais famosa feita pelo Wikileaks foi a de que o Ministro da Defesa no governo Dilma, Nélson Jobim, trabalhava para a empresa produtora de equipamentos militares, Raytheon. A comparação de Assange com Lula forçosamente nos ocorre pois são dois prisioneiros de consciência cujos únicos crimes foram, cada qual a seu modo, trabalhar em prol de um mundo mais justo, jogados em masmorras por meio de farsas judiciais.
Exemplo do trabalho do Wikileaks é o vídeo denominado Collateral Murder (Assassinato Colateral). O vídeo de 2007 foi vazado em 2010 pela militar estadunidense Chelsea Manning (nascida Bradley Manning) e mostra militares ianques atirando em civis que se dedicavam às suas rotinas diárias um bairro de Bagdá, no Iraque. Cerca de doze pessoas morreram, inclusive dois jornalistas da Agência Reuters.