O Peru passa por uma crise política intensa pelo menos desde a destituição do ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018) que renunciou um dia antes do Congresso peruano votar seu impeachment pelas acusações de lavagem de dinheiro no caso Odebrecht.
PPK, como ficou conhecido, é um economista liberal que foi eleito em 2016 derrotando a candidata de extrema-direita Keiko Fugimori, filha do ex-ditador Alberto Fugimori. Ela também está presa acusada de corrupção.
No lugar de PPK assumiu seu vice, Martin Vizcarra que acabou destituído recentemente com quase dois anos de mandato, acusado de “incapacidade moral para governar”. Um pedido de impeachment foi apresentado em outubro pela oposição parlamentar logo após a divulgação de depoimentos de delatores junto ao Ministério Público que acusavam Vizcarra de receber propina da construtora Obrainsa que ganhou uma licitação de uma obra em Moquegua, região Sul do Peru, quando ele era o governador do estado.
Mesmo com as denuncias sobre Vizcarra, uma pesquisa divulgada pela Agência France Presse indicou que 75% dos peruanos não queriam sua saída. Já o Congresso foi desaprovado por 59% da população.
O sucessor natural de Vizcarra seria Manuel Merino, presidente do Congresso, que acabou ficando apenas seis dias no cargo e resolveu se demitir quando surgiram denuncias de violência policial excessiva utilizada justamente para reprimir os protestos no país contra a destituição de Vizcarra, presidente constitucional. Durante os protestos ao menos dois jovens na casa dos vinte anos foram mortos pela polícia na capital Lima.
Agora o Congresso dominado pela direita realizou nova eleição para recompor a mesa diretora e como presidente da casa legislativa assumiu Francisco Rafael Sagasti Hochhausler.
Sagasti é nada menos do que um ex-funcionário do Banco Mundial, onde foi consultor e chefe da Divisão de Planejamento Estratégico da reconhecida instituição imperialista que junto com o Fundo Monetário Internacional (FMI) aplica os criminosos programas neoliberais nos países atrasados. Ele é, portanto um homem dos banqueiros, uma espécie de Luciano Huck com mais influencia.
Apesar de idoso, Sagasti, 76, é um outsider, um sujeito que entrou há pouco tempo na política eleitoral ao fundar sua própria legenda, o partido Morado (centro-direita), por onde elegeu-se deputado federal. Possui formação em engenharia industrial pela Universidade Nacional de Engenharia de Lima, e doutorado em ciências sociais nos Estados Unidos pela Pennsylvania State University. Ele também foi professor na Universidade do Pacífico, na Pontifícia Universidade Católica do Peru, no Instituto de Negócios de Madri e na escola de Negócios de Wharton, na Pensilvânia.
Toda a formação do golpista que assume agora a presidência interina do Peru está vinculada ao imperialismo. É, portanto a pessoa ideal para aplicar toda uma série de atrocidades contra a classe a trabalhadora peruana que convive com uma crise social, econômica e sanitária abissal.
O Peru é um dos recordistas em mortalidade pelo covid-19, registrando mais de 934 mil casos positivos da doença e 35,1 mil mortes, para uma população de apenas 32 milhões de habitantes.
Em abril de 2021 seriam realizadas as próximas eleições gerais do país, o pleito, porém não está confirmado, uma vez que a direita quer se utilizar estrategicamente da pandemia para impulsionar um movimento direitista pelo adiamento das mesmas.
