A pandemia de COVID-19 aprofundou a crise econômica e impactou negativamente as condições de vida dos mais pobres. Assim como os demais grandes centros urbanos do Brasil, a capital paranaense conta com uma enorme população desprovida de um teto e majoritariamente desempregada. Nesse cenário de crise humanitária, voluntários se organizaram para distribuir marmitas no centro de Curitiba e agora têm que lidar com a reação da prefeitura comandada por Rafael Greca (DEM).
Greca encaminhou um projeto para a Câmara de Vereadores onde propõe multas para quem distribuir alimentos para a população abandonada pelo poder público. Os valores da punição variam de R$150 a R$550. Como bom representante da direita brasileira, o prefeito de Curitiba não abre mão da demagogia e batizou o projeto de “Mesa Solidária”, com o objetivo declarado de organizar e aumentar a eficiência da distribuição dos alimentos.
Não deixa de ser irônico ver Greca falando atualmente em preocupação com o acúmulo de resíduos orgânicos e rejeitos nas vias públicas, com a potencial proliferação de vetores de doenças e com os riscos trazidos por esses fatores à população sem teto. Nas eleições de 2016, ainda filiado ao PMN, o atual prefeito acidentalmente expôs um episódio da sua juventude que diz muito sobre o tipo de pessoa que é.
Questionado sobre a situação dos moradores de rua em Curitiba, Greca declarou “Nunca cuidei dos pobres, não sou São Francisco de Assis. Até porque a primeira vez que tentei carregar um pobre para dentro do meu carro eu vomitei por causa do cheiro”. Ainda no mesmo relato, o atual prefeito conta que, ao chegarem ao albergue, uma freira o perguntou “lavo o doutor primeiro ou ele”?
Não é por acaso que a prefeitura só resolveu se mexer para travar as ações coordenadas por movimentos populares. Se tivessem alguma preocupação com a vida dessa população marginalizada, nem existiria essa demanda por algo tão básico quanto a alimentação. Se a preocupação é com as condições sanitárias, por que não construíram abrigos ou financiaram moradias?
Como a foto em destaque mostra, a demanda pelas marmitas é muito alta. Alguns entravam na fila mais de uma vez para ter o que jantar à noite ou para levar para algum familiar que não estava no local. Obstaculizar a doação de alimentos em meio à atual crise social é um ato digno de um nazista. Para evitar o risco de sujar as ruas, Greca prefere que o povo morra de fome.
Esse tipo de embate expõe a falsidade da oposição entre bolsonaristas e o resto da direita brasileira. Rafael Greca faz parte do DEM, um dos partidos envolvidos na frente ampla e que parte da esquerda insiste vergonhosamente em aceitar. O que separa PSDB, DEM, MDB, PDT e PSB do também nazista Bolsonaro são interesses pontuais de cada um dos envolvidos. No fundo, todos nutrem um profundo ódio pelo povo e tornam a vida dos mais pobres cada dia mais difícil.
O mito de que existe uma direita “civilizada”, em contraposição à extrema-direita, precisa ser derrubado dentro da esquerda. É por acreditar que existem divergências ideológicas profundas entre esses setores que temos visto recentemente esquerdistas propondo que a esquerda se una aos “civilizados”, e que essa seria a única maneira de derrotar Bolsonaro. Dentro dessa lógica, perseguir quem distribui marmitas aos mais pobres faria parte do espectro dos “civilizados”.
Assim como os tucanos João Dória e Bruno Covas em São Paulo, Greca tem na repressão e na demagogia sua forma padrão de agir. Recentemente, o prefeito de Curitiba proibiu o uso de fogos de artifício com estampido na cidade. A partir de medidas punitivas sem qualquer custo para a prefeitura, Greca fez demagogia com ativistas que defendem os animais de estimação. No combate à pandemia, a mesma coisa. Para tentar intimidar militantes do PCO que realizam atividade na Feira do Largo da Ordem, a Guarda Municipal ameaçou com a aplicação de multas, estipuladas pelo prefeito entre R$150 e R$150 mil. A lei que embasaria a aplicação das multas foi sancionada no final de 2020 por Greca e caberia a quem descumprisse “medidas de prevenção e combate ao coronavírus”.
Este diário denuncia frequentemente que as leis repressivas são uma arma para a perseguição da direita. O alvo é sempre o mesmo, a população pobre e em especial seus setores organizados. No caso citado, os militantes seriam enquadrados como se estivessem descumprindo as supostas “medidas de prevenção e combate ao coronavírus” numa feira livre! Vale destacar que todos os militantes estavam com suas máscaras e que sua tenda tinha sido montada mantendo mais distância do que as demais tendas e barracas que participavam da feira.
É obvio que não se tratava de fazer cumprir quaisquer medidas de prevenção devido a pandemia, mas de impedir a manifestação política contra Bolsonaro, contra o governador do estado Ratinho Jr. e em defesa da candidatura de Lula. Essa direita, mesmo mantendo disputas internas, é farinha do mesmo saco e não deve ser considerada como potencial aliada em hipótese alguma. Qual a diferença entre Dória, Bolsonaro ou Rafael “vomita com o cheiro de pobre” Greca?
