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Política da paralisia

Povo grita “Fora Bolsonaro” e parte da esquerda acha que não é hora

Em novo texto, o psolista Valério Arcary afirma que não é hora da esquerda derrubar o governo Bolsonaro, contrariando a perspectiva de luta em toda a América Latina.

Na noite da última quarta-feira (7), o movimento de luta contra o golpe obteve uma vitória parcial contra a ofensiva da direita: o Supremo Tribunal Federal (STF), encurralado pela mobilização popular e pela instabilidade do regime político, se viu obrigado a rever a decisão de 2016 sobre a prisão após condenação em segunda instância. A decisão tornou ainda mais insustentável a prisão política do ex-presidente Lula, que, até o fechamento desta edição, estava ainda na sede da Polícia Federal, mesmo tendo sua liberdade decretada pelo juiz Danilo Pereira Júnior. Contrariando as condições favoráveis para o desenvolvimento da luta política, no entanto, o historiador Valério Arcary, coordenador nacional do Resistência/PSOL, escreveu mais um artigo incentivando a total paralisia.

No texto Lula Livre! Nem quietismo, nem ofensiva permanente, em defesa da frente única de esquerda, publicado pelo portal Esquerda Online no dia 8 de novembro do ano corrente, Valério Arcary caracteriza a situação brasileira da seguinte maneira:

Por último, estamos aqueles que consideramos que ocorreu uma derrota político-social grave, de tipo estratégico, avaliamos a situação como reacionária, e temos a expectativa de um período defensivo, em que a resistência precisa acumular forças para ter capacidade de contraofensiva, e não podemos vacilar.

A caracterização de uma situação reacionária é não só incorreta, mas reflete exatamente o oposto do que vem acontecendo no Brasil e no mundo. Essa é a avaliação da imprensa burguesa, que tenta propagar a tese de que haveria uma “onda conservadora” no mundo que estaria levando à ascensão da extrema-direita. O que os ideólogos da burguesia e Valério Arcary não explicam é o porquê de uma sociedade reacionária precisaria sofrer golpes de Estado para que a extrema-direita chegasse ao poder.

A situação no Brasil e no mundo não é reacionária – mas sim é uma etapa política em que o enfrentamento entre os trabalhadores e a direita tende a se aprofundar. O fator de desequilíbrio em todo o mundo não tem sido a extrema-direita, mas sim a revolta popular contra a política neoliberal, que está obrigando a burguesia a alterar profundamente o regime político.

O “centro” político, isto é, um regime estável, com eleições regulares e sem a chamada polarização política, é o ambiente normal para o desenvolvimento da política dos bancos. No entanto, a mobilização contra essa política, que vinha acontecendo em todo o mundo, ainda mais após a crise de 2008, está forçando a burguesia a dar golpes de Estado, impulsionar partidos de extrema-direita, estabelecer governos que entrem em guerra contra seu próprio povo e perseguir lideranças populares.

O que a situação exige, em todo o mundo, é que a classe operária se organize para ter condições de enfrentar a burguesia de maneira efetiva, com um programa de reivindicações claro e por meio de um movimento classista independente. A ofensiva através de ditaduras, golpes de Estado e métodos da extrema-direita não expressam uma vitória da direita nesse momento, mas apenas que a burguesia está procurando tomar a iniciativa diante da falência do regime político. É necessário, portanto, romper com o regime e, para tanto, romper com a burguesia, que sustenta o regime, apontando o caminho da mobilização revolucionária para os trabalhadores.

Quem, há poucos meses, olhasse para a situação do Equador, poderia dizer que o povo foi duramente derrotado, uma vez que a burguesia colocou o presidente da República, antes apoiado pelo movimento popular, no bolso. Contudo, isso não passou de uma solução desesperada para a crise do regime político equatoriano: naquilo que pareceu acontecer “de repente”, o povo se levantou de maneira violenta contra o governo de Lenín Moreno. Se a explosão social no Equador ainda poderia ser utilizada como uma “exceção”, como uma revolta sem grandes motivos, o Chile, o Paquistão, o Líbano, o Haiti e tantos outros países mostraram que os trabalhadores estão, sim, prontos para enfrentar seus algozes.

Na continuação de seu texto, Arcary expõe um argumento que mostra o abismo entre sua análise e a realidade:

“(…) na classe trabalhadora e no povo ainda prevalece o desânimo e a insegurança, quando não a confusão”.

Ao tratar da classe trabalhadora, no entanto, Valério Arcary parece se espelhar em si mesmo. O desânimo de sair às ruas para lutar contra a direita em meio a uma convulsão social continental e a insegurança de um resultado efetivo após uma importantíssima vitória parcial que foi a soltura do ex-presidente Lula não corresponde de fato ao movimento operário, mas sim a uma análise feita em um ambiente acadêmico, sem qualquer lastro na luta de classes real.

A continuação do texto do psolista deixa ainda mais claro a falta de sensibilidade que o professor de história apresenta em relação aos interesses e a disposição da população:

Nos atos dos últimos meses – ações de vanguarda com alguns milhares de abnegados ativistas – tem tido ampla adesão o ‘Fora Bolsonaro’, como expressão de ‘Basta’, ‘Chega’, e isso alimenta ilusões. Ao que parece teve repercussão no Rock in Rio, o que é ótimo.

Para Valério Arcary, portanto, não é o povo que está querendo derrubar o governo Bolsonaro, mas sim uma vanguarda de “milhares de abnegados”. Isso, no entanto, não corresponde aos fatos. A derrubada do governo não é o grito de um nicho específico do movimento de luta contra o golpe, mas sim de uma maioria. O apoio ao governo se encontra localizado apenas em sua restrita base social de extrema-direita – no restante da sociedade, o desejo é de derrubar o governo, conforme visto desde o carnaval desse ano.

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