Os protestos que se iniciaram no final da semana passada no Chile não são apenas contra o aumento das tarifas do transporte público. O governo reacionário do presidente Sebastián Piñera anunciou uma alta de 3,75% nas passagens do metrô, levando ao estopim de uma indignação popular que já dura muito mais tempo.
Isso tem sido comprovado com a continuação dos protestos que se seguiram ao anúncio. Foram tão intensos que Piñera teve de decretar o Estado de Emergência e o toque de recolher em Santiago, algo jamais visto desde a ditadura fascista de Augusto Pinochet (1973-1990).
Mesmo com os militares na rua, com tanques e uma repressão colossal que deixou até agora 11 mortos, o governo não conseguiu conter os protestos e teve de voltar atrás no aumento das tarifas.
A população confrontou o governo e os militares, permanecendo nas ruas e de maneira ainda mais radical, com saques de comércios e incendiando carros, prédios e estações de transporte.
Ontem (21), foi convocada uma greve geral por parte de sindicatos como os dos portuários e dos mineiros (um dos setores mais importantes da classe operária chilena), bem como de organizações estudantis e movimentos sociais. Os manifestantes gritavam “que saiam os milicos”. Novamente, houve mais repressão, e mais resistência da população. De acordo com os números governamentais, além das 11 mortes, mais de 2.100 pessoas já foram detidas desde o dia 17, quando se iniciaram os protestos.
O fato de as manifestações terem continuado e se radicalizado mesmo depois do recuo do governo em aumentar as tarifas de metrô revela que a população chilena não tem a intenção de lutar apenas contra uma medida específica de Piñera. Até porque o governo como um todo é um ataque frontal ao povo, com inúmeras medidas que destroem direitos fundamentais: o aumento das contas de luz em 10%, o fim da aposentadoria, aluguéis caríssimos, a gigantesca desigualdade social (o 1% é dono de um terço da riqueza e o 0,1% mais rico abocanha um quinto de tudo o que o país produz), educação privatizada, baixos salários comparados ao custo de vida, etc.
O que o povo chileno quer, no fundo, é a derrubada de Piñera, presidente neoliberal com características fascistas – expostas com a imposição dos militares nas ruas, no apoio a Bolsonaro no Brasil e em declarações que sugerem o apoio à ditadura pinochetista, por exemplo.
A palavra de ordem de Fora Piñera foi expressada por artistas e músicos em um vídeo nas redes sociais, destacadamente pela cantora Camila Moreno.
O que ocorre no Chile é a expressão clara da convulsão social que abala a América Latina. Menos de uma semana após a jornada radical de protestos no Equador, que quase derrubaram Lenín Moreno, o povo chileno também ameaça derrubar o seu presidente ilegítimo, fruto de um golpe de Estado branco que foi sua vitória nas últimas eleições, promovida pelo imperialismo para entregar o país aos grandes monopólios.
Peru, Haiti, Honduras, Brasil, e outros países da região vivem situações parecidas, em maior ou menor grau. A esquerda nesses países deve entender as aspirações populares e levantar a questão do poder, uma vez que é preciso retirar a direita golpista do governo por meio dessas mobilizações, colocando na ordem do dia a queda desses governos.