O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli em recente entrevista à revista Veja, mostrou que mais uma vez, entre Abril e Maio, houve um movimento no interior de industriais e até militares para retirar o governo Bolsonaro.
O companheiro Rui explicou o tema na Análise Política da Semana desta sábado (10):
“Isso é interessante porque muita gente fala que o governo Bolsonaro é apoiado por toda a burguesia, que não há nenhum tipo de contradição e tal, e esse é um argumento usado para defender a permanência do governo. Mas eis que vem o Toffoli e declara que não, que uma parte expressiva da burguesia queria tirar o Bolsonaro. Aí ele mesma, grande heroi nacional, tomou a iniciativa de fazer um pacto entre o executivo, judiciário e legislativo para manter o governo Bolsonaro. Evidentemente que a revista não fala, é que isso foi mais uma espécie de golpe militar velado no Brasil. Já seria o 3º ou 4º golpe deste após 2016.
Por que golpe militar? Quem seria capaz de impedir que industriais, setores da burguesia, setores políticos, no mínimo tentassem tirar o governo Bolsonaro. A única coisa que poderia impedir isso seria um veto dos militares, pois não existe outra força capaz de produzir este efeito. Este é um dado muito importante da situação, que mostra que existe um governo nas sombras, o alto comando das forças armadas, que domina as instituições através da ameaça de intervenção das forças armadas abertamente no cenário político e que os líderes dessas instituições procuram encobrir. E tudo se processa através de alguma declaração militar ou de negociações subterrâneas.
O Brasil vive hoje uma situação de ditadura dirigida e controlada pelos militares, como na questão do Estado Democrático de Direito. Quem dá as cartas no país hoje sobre todas as questões fundamentais são eles. O Congresso vai votar a reforma da previdência, a gente não vê, mas com certeza os militares intervém, são as cartas, impedem um determinado movimento e tudo mais. Se há uma oposição muito forte ao Bolsonaro, eles fazem uso do seu poder de veto para evitar que o Bolsonaro caia.
Isso levou a uma outra declaração muito interessante, é meio difícil de dizer porque estão dando todas essas declarações, mas provavelmente é um recado para todo mundo ficar esperto e não querer levantar as asas. O presidente da câmara declarou, 1º que Bolsonaro não era o candidato principal da burguesia. “Bolsonaro foi um resultado dos nossos erros.” Ou seja, a velha história do aprendiz de feiticeiro, que tiraram o governo do PT e disseram “agora é nós”, aí entrou o Bolsonaro inclusive com o voto deles, por que chegou um momento em que eles decidiram apoiar o Bolsonaro uma vez que sem isso nem ele ganharia as eleições, dado o nível de crise política que existia no momento das eleições. Daí a importância da retirada do Lula e da operação política agora reconhecida pelos golpistas.
Maia ao dizer ‘temos que aguentar Bolsonaro até 2022’ mostra que o presidente da câmara participou do movimento para a retirada de Bolsonaro, afastado pelo veto dos militares. Provavelmente a colocação dos militares é de que o Bolsonaro irá cumpri todo o mandato, não adianta tentar impeachment, nada. Numa certa medida explica a posição da esquerda. Haddad por ex., falou que se a esquerda não se preparar Bolsonaro ficará 8 anos no poder. Quer dizer, 4 anos já estão garantidos. Não é difícil entender que em grande medida o medo da esquerda em levantar o fora Bolsonaro é um medo dos militares. Agora estão todos no fica Bolsonaro até 2022, a única expectativa é controlar o Bolsonaro, colocá-lo na linha, estabelecer limites. Maia expressou isso citando decretos do Bolsonaro que não irão passar na câmara. O próprio Maia deixou claro que a partir da pressão dos militares há um consenso de Bolsonaro 2022, e uma boa parte da esquerda participa desse consenso.”