Existe uma clara tendência ao enfrentamento das massas contra o governo Bolsonaro no sentido de sua derrubada. Já chamamos a atenção nestas páginas para as inúmeras demonstrações espontâneas contra Bolsonaro. Sem contar – e talvez seja isso o mais importante – a enorme adesão à palavra-de-ordem de “Fora Bolsonaro” nas manifestações de massas que aconteceram nos últimos meses, contra a política das direções desses movimentos que se recusam a defender a queda do governo.
Junta-se a isso tudo, a crise dentro da própria burguesia, causada pelas declarações controversas do presidente fascista e por uma política constantemente se choca com setores importantes da burguesia golpista, que tem dificuldades de colocar “Bolsonaro na linha”.
Diante desse cenário favorável, a maior parte da esquerda pequeno-burguesa adota uma política ao mesmo tempo parlamentar e parcial. É uma mistura de dois erros graves.
Parlamentar porque procura fazer uma oposição de baixa intensidade cujo objetivo é “desgastar” o governo com vistas às eleições de 2022. Logicamente que na conta dessa oposição não está a possibilidade de que, até lá, os golpistas tenham destruído tanto o País que nem eleição haverá. Ou, conforme estamos assistindo nesse momento na Argentina, a política de apostar nas próximas eleições não dá nenhuma garantia de que a esquerda será vitoriosa. Pelo contrário, a consolidação da direita pode resultar em eleições ainda mais fraudulentas do que foram as de 2018.
Essa oposição é parcial pois não ataca o governo no conjunto de sua política, mas procura se movimentar de acordo com cada uma dessas medidas. Se é privatização, faz-se um ato contra a privatização apostando que o Congresso irá barrar a política de Bolsonaro. A mesma coisa vale para a Previdência, a Educação e por aí vai. Como o Congresso está dominado pela direita golpista, pelos bolsonaristas declarados ou disfarçados, essa política de oposição parcial leva o movimento a andar de derrota em derrota, até que o governo seja definitivamente vitorioso.
A política dessa oposição parlamentar e parcial é inócua. Não traz resultado e mais ainda leva o movimento a colecionar derrotas. A direita golpista e o governo Bolsonaro não estão no poder para colocar em prática medidas parciais. A direita quer acabar com o País, quer destruir todos os direitos do povo, ou seja, ela tem um projeto político claro. Contra isso, os movimentos e os trabalhadores só podem opor uma política que coloque no centro a luta pelo poder, que em primeiro lugar derrube o governo Bolsonaro.
Mas não para por aí. É preciso exigir novas eleições, a liberdade de Lula e que ele seja candidato. Essa é a vontade do povo. Para isso, é preciso uma mobilização permanente, não parcial nem a conta-gotas. Uma mobilização que generalize a luta contra o governo e o regime golpista. Essa generalização está sintetizada pela palavra-de-ordem de “Fora Bolsonaro”. Não é uma ideia saída da cabeça de ninguém em particular, é o povo que já está reivindicando nas ruas, é preciso então dar uma expressão consciente àquilo que o povo já está dizendo.