Biden, o candidato do imperialismo norte-americano, se declarou presidente eleito da República dos Estados Unidos da América. Isso, estranhamente, causou uma euforia em diversos setores da esquerda. Além de praticamente toda esquerda pequeno-burguesa norte-americana ter festejado nas ruas, com danças, coreografias, e uma “mobilização” de dar inveja ao PSOL, as ruas se viram tomadas com uma euforia que está em contraste com a realidade extremamente pálida. O ânimo histérico de uma massa de classe média norte-americana chegou aos ares brasileiros. E evidentemente que não foi pelo vento, mas pela intensa propaganda em prol do genocida Biden destacada em todas as páginas dos jornais burgueses pelo mundo, e não seria diferente nas filiais do imperialismo Globo, Folha de S. Paulo, Veja e todo bloco da imprensa golpista no Brasil.
Afinal, o que está em jogo com Biden é a mesma manobra que tenta, a passos largos, ser organizada pela burguesia que impulsiona a frente ampla.
O que vimos na eleição norte-americana foi uma crise total do imperialismo mundial para impor o seu bloco político. Biden foi a figura onde todos os monopólios se unificaram, do petróleo aos bancos internacionais. A propaganda de toda imprensa capitalista em favor do democrata é um demonstrativo nesse sentido. Biden não era apenas candidato do imperialismo norte-americano, mas da imensa maioria dos grandes capitalistas internacionais. E mesmo assim, com um currículo banhado de sangue, tortura e guerra, Biden foi o candidato não só da direita, como de toda esquerda pequeno-burguesa norte-americana. Para que?
Para derrotar Trump. O “demônio” dos jornais burgueses.
Claro que Trump não poderia ser presidente dos Estados Unidos se não fosse um presidente que representasse alguma parcela da burguesia; mas para o pesadelo do imperialismo, e um alívio momentâneo dos povos oprimidos de todo mundo, a ala da burguesia que o apoiava era a da construção civil e outros setores mais débeis do imperialismo norte-americano e, portanto, mais frágeis no mercado mundial. Trump representava diretamente um setor secundário da burguesia norte-americana. Um setor até mesmo oprimido por outros setores do imperialismo, dentro de todas as alas da burguesia. Porque a política do imperialismo é sobrepor o mercado internacional sobre o mercado interno dos seus respectivos países de origem.
Diante desse conflito de interesses, a conturbada eleição norte-americana se deu em um impasse. E nesse impasse a esquerda norte-americana deu um “grande exemplo” de frente ampla: para derrotar Trump, o candidato praticamente isolado da direita, se aliou a Biden, o candidato do imperialismo mundial. Um dos pontos de apoio foi a capitulação de Bernie Sanders, que sofreu um golpe interno dentro do partido Democrata e foi retirado em meio a uma enxurrada de dinheiro que saía de Wall Street diretamente para a candidatura de Joe Biden. O interesse da esquerda pequeno-burguesa que defende a frente ampla não é de denunciar um carrasco como tal, mas de usar a tática Biden, ou melhor, o golpe Biden, para fazer a mesma coisa nas eleições presidenciais de 2022.
Flávio Dino (PCdoB) foi o primeiro a destacar essa vitória da burguesia. E Luciano Huck, o potencial candidato da Rede Globo, que se encontrou com Sergio Moro para lançar sua chapa, o primeiro a concordar.
Está mais que claro que a manobra antidemocrática da burguesia em relação a Biden impulsionou, sem precedentes, o golpe da frente ampla. Se é possível aliar a esquerda norte-americana com o imperialismo mundial, em meio a uma crise gigantesca, por que não unir a esquerda brasileira atrás da direita golpista?
É preciso combater essa manobra. Denunciar que ela é absurdamente antidemocrática e que não deve ser aceita em nenhuma condição. É preciso lutar pela candidatura de Lula, pois é a candidatura não aceita pela burguesia, por isso deve-se ter uma dura mobilização para impor essa candidatura, que como disse já uma colunista do Estadão: “a frente ampla é sem PT na cabeça”, colocando diretamente a orientação da burguesia na imprensa burguesa e golpista. Lula é a única candidatura da esquerda capaz de derrotar Bolsonaro, sendo a única saída favorável para os trabalhadores; a frente ampla, por sua vez, é apenas para manter estável o regime político golpista e colocar em marcha o plano de Biden, de destruição das condições de vida do povo.