Rússia, China, Índia e até Cuba, todos estes são países mais pobres que o Brasil, contudo já desenvolveram suas vacinas. A Rússia por exemplo foi o primeiro país a conseguir colocar no mercado uma vacina, passando na frente das principais potências imperialistas que supostamente estariam atuando em conjunto para desenvolver uma solução para a pandemia.
Cuba é outro bom exemplo. A pequena ilha que vive sob constante ameaças de seus vizinhos, os EUA, a maior potência imperialista do planeta, conseguiu ter um programa de desenvolvimento de vacina muito mais rápido do que o gigante da América do Sul. Cuba chegou a desenvolver outros medicamentos que amenizam as consequências de quem pegava a doença.
China e Índia tem uma situação muito parecida com a Rússia. ambos são países mais pobres que o Brasil, mas que conseguiram agir mais rapidamente no desenvolvimento nacional de vacina. Em todos esses países citados as condições materiais de combate à pandemia eram muito menores do que as brasileiras e mesmo assim o número de infectados, e mais importante, o número de mortes foi infinitamente menor, com exceção talvez da Índia, que sejamos honestos, tem mais de 1 bilhão de habitantes e metade dos nossos mortos.
O desastre da Covid-19 não tem paralelos nos outros países do BRICS. É um desastre causado pelo golpe.
O Brasil, portanto, já foi referência mundial em vacinas. O PNI (Programa Nacional de Imunizações) criado em 1973 e o SUS (Sistema Único de Saúde) são dois dos pilares do Brasil ter conseguido se alçar internacionalmente como referência em vacinas. O país chegou a distribuir 25 tipos de vacinas de maneira gratuita, exportando para mais de 70 países além de ser autossuficiente na produção de insumos imunobiológicos (matérias prima na fabricação de vacinas). Mesmo nos primeiros anos do governo Temer, o país ainda tinha a capacidade de aplicar, por ano, 300 milhões de imunobiológicos nas mais de 36 mil salas de vacinação espalhadas pelo país.
É estranho imaginar que em menos de uma década o país, mesmo após um ano inteiro de pandemia, não consiga dar uma resposta rápida para a pandemia. Morreram mais de 300 mil pessoas (na verdade sabemos que o número é muito maior e que o governo trabalha com a subnotificação dos números) e o país só começou a falar em produção própria de vacina ontem. Teria-se condição de começar a produção de vacina junto ou até antes da Rússia, por exemplo, que é um país menos desenvolvido industrialmente e mais pobre. O problema obviamente é a subserviência dos golpistas.
O maior culpado é obviamente o governo Bolsonaro, mas junto a ele estão os golpistas encastelados nos governos Estaduais. O corte de saúde, o teto de gastos e, em geral, a política neoliberal de destruição nacional em benefício do imperialismo, são as razões pela qual o Brasil conseguiu retroceder mais de meio século em questões de combate à pandemias.
O máximo que foi feito até agora não passou de uma política entre Doria e Bolsonaro, dois setores da direita em disputa para as eleições de 2022. Doria prometeu uma campanha de vacinação ano passado, porém até agora praticamente ninguém, nem sequer a terceira idade e os funcionários essenciais foram vacinados.
Outro fator que piora a situação é o número exorbitante de doses desperdiçadas. Estima-se que o Brasil tenha perdido no mínimo 1,16 milhão de doses de vacina, acima dos 5% previstos pelo governo. O número pode ser muito maior pois muitos municípios não seguem à risca o SI-PNI (Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações) até hoje, o que torna impossível acompanhar o destino e as condições de todas as vacinas distribuídas pelo Brasil. Muitas vacinas perderam o prazo de validade para serem aplicadas, foram mal armazenadas ou simplesmente sofreram algum acidente físico (frasco quebrado etc.).
A ButanVac, projeto da Fiocruz e do Butantã, começará os testes para seu desenvolvimento em abril deste ano. Para que o projeto desse certo os institutos precisam de um esforço de guerra. Nossa necessidade é imediata, o governo deveria montar um sistema para produzir muito mais de 40 milhões de doses para ontem com as permissões que já temos (a produção da CoronaVac e vacina de Oxford), além de comprar todas as vacinas disponíveis no mercado.
Se já tivéssemos uma vacina nacional não dependeríamos dos parques industriais dos outros países, que estão mais focados no próprio pescoço ou estão tendo suas doses roubadas por outros países. A Inglaterra por exemplo está sendo pressionada com sanções pela União Europeia a ceder mais doses. O Estados Unidos, a França e a Alemanha estão furando a fila para receber as vacinas primeiro. Quando não estão impedindo outros países, como o Brasil, de comprar vacinas concorrentes. Basta lembrar que o governo Trump pressionou Bolsonaro a não comprar a vacina russa. Trata-se de um verdadeiro crime contra a humanidade.
A crise da Covid-19 se apresenta além de econômica, política e de saúde, como uma crise da soberania nacional, o golpe e os governos Temer e Bolsonaro estão liquidando a pouca independência nacional que tinhámos.
