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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Por que defender o futebol brasileiro

É comum na esquerda a torcida contra a seleção brasileira e o ódio visceral ao maior craque da atualidade, Neymar. Isso não passa de moralismo barato, totalmente avesso ao pensamento marxista.

As críticas? As mesmas que a direita costuma utilizar para tudo: a CBF é corrupta, Neymar é sonegador e estuprador… ou aquela frase que dá vontade de vomitar: “enquanto você grita gol, eles te exploram”. Como se, enquanto o povo está assistindo a uma partida, essa esquerda estivesse arriscando a vida em alguma guerrilha maoísta no meio da Amazônia. O máximo que faz, no entanto, é uma ciranda ou um bundaço.

O que não entendem é que o futebol é a maior paixão do povo brasileiro. É uma das maiores expressões da nossa cultura popular. O futebol é uma invenção de um país imperialista que no início era praticado apenas pela burguesia no Brasil, mas se transformou em patrimônio do povo, esse mesmo povo pilhado de todas as riquezas que produz. E, como tal, é uma das únicas fontes de alegria desse povo tão sofrido.

Isso a esquerda não entende, porque é afastada do povo. Mas a burguesia e o imperialismo entendem muito bem.

Um golpe de Estado nunca se resume puramente a questões estritamente políticas e econômicas. Não basta o imperialismo controlar a política e destruir a economia de um país. Precisa dominar todos os aspectos da vida da população do país controlado. E a cultura é um aspecto fundamental. No Iraque, os EUA devastaram boa parte do patrimônio milenar da cultura mesopotâmica. No Brasil, o futebol é um dos principais alvos.

Isso porque o imperialismo sabe que o futebol, por ter um caráter tão proletário e apaixonante, tem um potencial de mobilização popular que, em um cenário político tão polarizado como o que vivemos, pode ajudar a dar impulso à luta contra a direita, contra o golpe, contra a burguesia e o imperialismo. Vide as torcidas organizadas e a perseguição que elas sofrem no Estado. Ou a tentativa de coxinhização dos estádios, com ingressos a preços estratosféricos para afastar os pobres das arquibancadas. A direita não admite nenhuma concentração popular, porque sabe que isso pode sair de controle. E os estádios de futebol são locais propícios para essa concentração. A ditadura militar sabia disso. Aliás, todas as ditaduras da América do Sul, como a uruguaia, a chilena ou a argentina. 

Mas o Brasil se destaca, aqui isso é mais evidente. Os ataques ao futebol brasileiro estão inseridos em meio a ataques ao futebol sul-americano como um todo, por sermos o único continente que consegue fazer frente ao futebol europeu, da burguesia imperialista que criou e tentou monopolizar o esporte. Porém, como o Brasil é o mais importante país da região, ele é o principal alvo dos ataques. O imperialismo sabe que é preciso controlar rigidamente todos os aspectos da vida do maior e mais desenvolvido dos países da região. O Brasil é o país mais importante estrategicamente para o imperialismo e, para onde o Brasil for, tem a capacidade de levar os outros países. Por isso o controle tem que ser total.

E é por isso também que afirmamos tanto a superioridade do futebol brasileiro. É uma forma de resistência à tentativa de controle brutal do imperialismo. A rivalidade é outra forma pela qual o futebol sobrevive. A rivalidade entre os clubes movimenta a paixão dos torcedores, proletários. A rivalidade entre os países movimenta essa mesma paixão. 

Alguns sectários, do outro lado, podem exagerar nessa rivalidade entre países e cair no chauvinismo barato. Tal é o caso da rivalidade Brasil x Argentina. A torcida para o Brasil, ao contrário de significar um desprezo e um ódio pelos argentinos, é um propulsor para essa paixão futebolística. Para manter acesa a rivalidade saudável, inerente ao futebol. Falar que o Brasil é melhor (como é melhor do que qualquer país) é apenas constatar a história e o estilo de jogo, do gingado e malandragem do futebol brasileiro, maiores do que do argentino, e fruto das influências sociais e econômicas no futebol nacional, em que os pobres têm que se virar de qualquer forma e inventar algo diferente para desfrutar minimamente os momentos de lazer – daí vem o malabarismo de Neymar, que segue a tradição dos favelados e humildes que cresceram jogando a famosa “pelada”, descalços, tendo de improvisar para conseguir jogar futebol.

Alguns podem dizer que a Argentina também é um país oprimido pelo imperialismo e, portanto, entre os países oprimidos, não se deve haver rivalidade ou a esquerda – que, tradicionalmente, é internacionalista – não deve tomar lado. Novamente, a rivalidade saudável movimenta o futebol, paixão do povo. Sem rivalidade, não existiria futebol, ou ao menos ele se tornaria um esporte impopular. 

Mas isso vai mais além: primeiro, como explicado acima, o Brasil é o país mais importante estrategicamente para o imperialismo. Logo, é o principal alvo dos ataques. Ao dominar o Brasil, fica mais fácil para o imperialismo dominar a Argentina. Por outro lado, mesmo dominando a Argentina, não seria tão fácil para o imperialismo dominar o Brasil. Por isso precisa atacar mais o Brasil que a Argentina, incluindo o futebol.

Em segundo lugar, é preciso levar em conta o real tamanho do apelo popular que tem o futebol no Brasil, maior do que na Argentina. Explico: embora não haja dúvida que os argentinos são fanáticos por futebol, eles não têm somente o futebol como esporte de massas. Na Argentina, o basquete, o tênis e o rúgbi, por exemplo, são populares. Isso está relacionado com o maior nível cultural dos argentinos em um âmbito mais geral, consequência direta de seu desenvolvimento histórico. Os argentinos, diferente dos brasileiros, não viveram a chaga que foram os séculos de escravidão, que castraram qualquer possibilidade de desenvolvimento cultural amplo do Brasil nesse período e que até hoje tem consequências nefastas. 

No Brasil, os outros esportes não são permitidos ao povo, somente o futebol, que o povo teve de arrancar das mãos da burguesia, graças à facilidade de praticá-lo. Por isso o povo ama o futebol. Esse amor, essa paixão, portanto, também tem um caráter de classe. É uma conquista do povo contra a burguesia. O futebol não é apenas o esporte do povo, é uma propriedade coletiva. E valiosa. E o imperialismo sabe disso, por isso seus ataques, para desmoralizar o povo, para privatizar e finalmente aniquilar a cultura popular, que, como dito, tem o potencial de mobilização contra a direita e o domínio imperialista. 

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