Na semana que antecedeu a escolha da chapa Guilherme Boulos-Luiza Erundina para a disputa da prefeitura de São Paulo pelo PSOL, a corrente interna do partido, Resistência, formada por egressos do PSTU, publicou matéria em seu sítio na internet, Esquerda online, com o título: “Cinco motivos para votar em Boulos e Erundina nas prévias do PSOL-SP”. Ali, o grupo se apresenta como mais um dentro do partido a defender a chapa que efetivamente foi a escolhida no último domingo, dia 19. Vejamos quais são esses “motivos”.
O primeiro ponto levantado pela matéria é o de que a chapa Boulos-Erundina tem “as melhores políticas e iniciativas diante da conjuntura política que atravessamos” e quais seriam essas políticas? O Resistência responde: Boulos está “coordenando uma das maiores campanhas de solidariedade do país”. Para entender o que é isso, basta lembrar que a chapa Boulos-Erundina tem como plataforma de campanha a “Revolução Solidária”. Trata-se, portanto, de uma versão desbotada de esquerda para a boa e velha política demagógica e oportunista em busca da caça aos votos. A tal da “solidariedade” não é nada além disso: uma política de tipo eleitoreira, que inclusive qualquer partido de direita poderia lançar.
A política eleitoral de tipo burguesa fica clara ao ponto de na matéria estar dito que um dos grande feitos de Boulos e Erundina foi uma “ação no Ministério Público, apresentada em parceria com o padre Julio Lancellotti, que permite à prefeitura requisitar quartos de hotel para abrigar a população em situação de rua, os profissionais de saúde e as mulheres vítimas de violência.” Projetos inócuos, que procuram fazer com que as instituições direitistas tomem determinada ação em defesa dos moradores de rua, ou seja, uma mera ação de propaganda eleitoral.
Por fim, outra política que Boulos teria levado adiante segundo a matéria da corrente Resistência foram as manifestações contra o fascismo nas ruas, junto com os torcedores. Aí já adentramos à falsificação completa da realidade. Primeiro porque Boulos não teve absolutamente nenhuma participação direta nessas manifestações, tendo sido um dos defensores do “Fique em Casa” e segundo que, ao contrário do que afirma a matéria, a presença de Boulos nesse movimento cumpriu apenas e tão somente o papel de desmobilizar a luta. Boulos, sem ter nenhuma participação real na mobilização, interveio no movimento para sentar à mesa com as fascistas e fazer um acordo que serviu para deixar a Paulista livre para a direita.
Outra falsificação do que a matéria chama de “motivos” para votar em Boulos é a de que ele teve papel na luta contra o golpe que derrubou Dilma. Aí, a própria matéria nos esclarece sobre o verdadeiro teor dessa luta afirmando que “Boulos é um dos impulsionadores da frente Povo Sem Medo, que organizou atos e manifestações desde 2015, resistindo ao ajuste fiscal aplicado por Dilma e, depois, combatendo o golpe que a retirou do poder injustamente e deu base para a retirada de mais e mais direitos da nossa classe.”
A “resistência” contra os ajustes de Dilma foi na realidade uma política que atrapalhou a luta contra o golpe. No momento em que a direita investia de maneira decidida contra o governo do PT, Boulos se recusava a unificar a esquerda em torno de uma palavra de ordem única e que hoje está muito claro qual deveria ser: “não ao golpe”. Inclusive a própria constituição da Frente Povo Sem Medo foi uma manobra para dificultar a unidade em torno dessa luta, dividindo as forças políticas que se unificavam em torno da Frente Brasil Popular. Boulos, ao invés disso, insistia em “denunciar os ajustes de Dilma”, sem denunciar a direita responsável pelos ajustes e que naquele momento preparava o golpe. Somente depois que o golpe estava consumado, Boulos aparece como “grande lutador” contra o golpe, ou seja, uma farsa completa.
Outra falsificação da matéria é a caracterização feita sobre Luiza Erundina e aí, a corrente Resistência entrega seu objetivo meramente eleitoral. Segundo a matéria: “Erundina é lembrada na cidade por governar ao lado de figuras como Paulo Freire e por seus mutirões para a construção de casas populares em diversos bairros periféricos, especialmente na zona leste.” A ex-prefeita de São Paulo é lembrada por sua suposta popularidade por ter sido prefeita cerca de 30 anos atrás,isso mostra que o mais importante de tudo é “ser popular e ter votos”. Mas a Resistência do PSOL curiosamente esquece outros importantes feitos de Erundina como por exemplo ter entrado no ministério de Itamar Franco, rompido à direita com o PT e entrado no PSB, partido burguês direitista, sido candidata ao governo de São Paulo tendo Michel Temer como vice. E mesmo quando foi prefeita, Erundina, à parte os elogios – verdadeiros ou não – da corrente Resistência, pode também ser lembrada por ter esmagado a greve dos condutores e por ter colocado em prática a tão criticada pelo PSOL “política de conciliação de classes do PT”.
No final das contas, a corrente Resistência quer mesmo o que todos os oportunistas querem nas eleições: votos e de preferência, cargos. E isso fica muito claro na matéria: “nas últimas semanas, tivemos uma nova prova disso com a divulgação de duas pesquisas de diferentes institutos nas quais Guilherme pontua entre 7% e 10% das intenções de voto.” Vale a pena falsificar a realidade e esquecer algumas coisas por 10% das intenções de voto, não é mesmo? A imprensa golpista, ao apresentar a candidatura de Boulos como promissora estava nitidamente orientando as prévias do PSOL, a Resistência não nos deixa dúvidas disso.