Em sua coluna no jornal O Globo, o porta-voz das organizações Marinho e do imperialismo, Merval Pereira, comemorou na terça (18) a subida de Haddad nas pesquisas. Ela poderia estimular o “voto-útil” de direita:
É possível que o voto útil da centro-direita vá em direção a Bolsonaro, pelo receio da volta do PT … os assessores de Alckmin veem na subida acelerada de Haddad um estímulo aos eleitores do voto útil de centro. Os 10% que hoje estão com Amoêdo, Meirelles e Alvaro Dias, nessa análise tucana, migrariam para o candidato do PSDB, além de indecisos e os hoje dispostos a votar nulo ou em branco, tudo para barrar a ida do PT ao segundo turno.
Não se trata de uma análise, mas de uma diretriz. Afinal, como diz o próprio anúncio no paywall, quem assina O Globo vota “sabendo” qual a orientação política dos golpistas.
Conforme analisamos, trata-se da confirmação de que a estratégia da direita é operar com dois candidatos “espantalhos”, supostamente com grande índice de rejeição: Bolsonaro/Mourão e Fernando Haddad (PT). Na reta final, no dizer de Merval, a direita pode se agrupar em torno de um candidato alinhado com o golpe, concentrando os votos e levando-o a uma disputa com Bolsonaro/Mourão no segundo turno. Com isso, o PT estaria fora das eleições.
Também segundo Merval, “os votos de direita que forem para Ciro, se ele for o que tem mais condições de impedir que o PT cresça, podem migrar novamente para Bolsonaro no segundo turno”. Ou seja: Ciro – e por extensão Boulos – desempenha o papel de desagregar os votos de esquerda até o fim, impedindo a chegada de Haddad no segundo turno. Seria o papel de candidatura abutre que denunciamos há meses: à semelhança da campanha de 1989, o candidato do PDT serviria para diluir e enfraquecer a candidatura de esquerda.
Todos esses prognósticos confirmam a leitura de que os golpistas dominam com facilidade todo o processo eleitoral, e que qualquer vitória da esquerda só pode ser conseguida mediante uma mudança das forças políticas reais em jogo. Se hoje a direita tem o mando de campo, dominando a imprensa, a Justiça Eleitoral, o Poder Legislativo e o Poder Executivo, a esquerda não tem a seu dispor a via eleitoral, mas a mobilização real da população, organizada por uma pressão duradoura sobre a burguesia. Para tanto, a classe trabalhadora dispõe de seus instrumentos tradicionais de luta: os atos, as paralisações, as greves.
Sem lançar mão a priori de tais recursos, a esquerda termina por iludir a população com a promessa de uma vitória milagrosa nas urnas, retardando a capacidade de reação diante do avanço do imperialismo no país, que vem destruindo o Estado, vem entregando o nosso patrimônio, vem destruindo nossos direitos enfim. Além disso, há o plano B dos próprios golpistas: o golpe militar já anunciado pelos generais – na possibilidade remota de uma vitória do PT. No bojo das mobilizações de caráter meramente eleitoral, deve-se impulsionar a população rumo a essa necessária organização, reivindicando a liberdade para Lula, e denunciando o caráter fraudulento das eleições, que têm como premissa o encarceramento do principal candidato.