O maior erro que se pode cometer em política é não avançar, ocupar posição diante do recuo e fragilização do adversário. Torna-se ainda muito mais grave, quando se trata de uma vacilação, de uma falta de atitude diante da derrocada de um adversário da extrema-direita fascista, um presidente ilegítimo, eleito pelo golpe e pela fraude, preposto do imperialismo, dos banqueiros e do grande capital nacional a eles associados, verdadeiras aves de rapina, que aí estão para devastar o país e todo o seu povo.
A derrubada da presidenta Dilma em 2016, a campanha de calúnias contra a esquerda, a campanha de perseguição e prisão de Lula, o seu banimento das eleições, a operação de fraude para eleger Bolsonaro e um séquito de golpistas que tomaram conta dos executivos e dos legislativos brasileiros, foram iniciativas do golpe de Estado no Brasil, foi uma orquestração, que visa promover uma profunda alteração do regime político brasileiro.
Obviamente, tamanha operação de desmonte do regime político não poderia passar incólume à luta de classes. O resultado foi a polarização política estabelecida no país e que vem se acumulando durante todo o período do golpe e que as gigantescas moblizações ocorridas no último 15 de maio indicam uma mudança de um crescimento quantitativo, portanto de crescimento gradual da polarização, para um movimento qualitativo, uma mudança de estado, como da água em vapor, em que se abre o caminho para a reversão total do golpe através de uma ação ofensiva dos trabalhadores e de todos os explorados contra o conjunto do regime golpista.
O governo Bolsonaro está à deriva, sem motor, sem remo, sem vento. A base de sustentação do governo ruiu ou está à beira disso. Os trabalhadores e a juventude foram às ruas e o que se ouviu em esmagadora maioria foi o grito pela sua deposição. Bolsonaro é da extema-direita que quer esmagar os trabalhadores e suas organizações. Pode haver alguma dúvida sobre qual deve ser o eixo da luta contra esse governo?
Não existe vazio em político. Caso a esquerda não se apoie no sentimento popular expresso desde o carnaval no grito de guerra pelo Fora Bolsonaro e que tomou um rumo de aberto confronto com os atos do dia 15, abre caminho para que o regime político se recomponha seja em com o próprio Bolsonaro, seja com um governo Bolsonaro sem Bolsonaro, como um governo com seu vice general Mourão. Esse filme, já vimos na história recente do país com Collor de Mello, com um detalhe crucial, Mourão é tão ou mais de extrema-direita que Bolsonaro.
Na presente situação política, existem duas alternativas: Fora Bolsonaro ou Fica Bolsonaro!
A primeira alternativa, necessariamente, tem de estar baseada na mobilização popular, na luta por derrubar todo o regime golpista a partir de uma ação ampla das massas.
A segunda alternativa é deixar nas mãos do regime golpista uma saída para a crise do país. Caso isso ocorra, o regime vai encontrar essa saída aprofundando mais ainda o golpe, o que só pode se dar pelo esmagamento de toda a classe trabalhadora e pela destruição do país, verdadeiros objetivos do golpe de Estado realizáveis por uma ditadura.
A primeira opção é a reversão do golpe e a abertura de um período de avanço dos trabalhadores não apenas para reverter tudo que o golpe roubou da população, mas em avançar em direção a luta pelas reivindicações imediatas e históricas da classe trabalhadora.
Por sua vez, a segunda opção significará um erro capital da esquerda, que poderá abrir caminho para um longo período tenebroso para os explorados brasileiros com implicações para outros países, particularmente os da América Latina.