Na última sexta-feira (15/01) a capital do Haiti, Porto Príncipe foi palco de violentas manifestações antigovernamentais. Em outras cidades (Cap Haïtien, Saint Marc, Gonaives, Petit Goave, les Cayes, Hinche, Léogane, Mirebalais, Wanaminthe), também manifestantes foram às ruas para exigir que o presidente do país, Jovenel Moïse deixe o cargo no próximo dia 07 de fevereiro, data na qual a oposição considera que legalmente seu mandato se encerra. MoÏse alega que seu mandato somente se iniciou no começo de 2017, quando ele realmente assumiu o cargo no início daquele ano. Um presidente provisório exerceu o cargo durante um ano após um processo eleitoral tumultuado. Os manifestantes reivindicam também a reabertura do parlamento que se encontra fechado há mais de um ano. Uma grande manifestação está sendo convocada pela oposição para o próximo dia 07 de fevereiro. A data de 07 de fevereiro tem um significado simbólico, pois marca o fim de trinta e cinco anos de ditadura da família Duvalier sobre o Haiti.
A convocação está sendo encabeçada pelo Movimento Popular Dessaliniano (MOPOD), Setor Democrático e Popular e pela Direção da Oposição Democrática. Tais setores da oposição buscam um acordo político entre os diferentes setores da vida nacional que permita uma estabilização do país. O presidente atual convocou um referendo relativo a uma nova constituição para 25 de abril próximo e o primeiro turno das eleições presidenciais para 19 de setembro. Esta ação recebeu apoio da Organização dos Estados Americanos (OEA). Em um outro desenvolvimento, no dia 2 de janeiro último, um setor da oposição (Direção Política da Oposição Democrática) enviou uma carta ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, com acusações ao governo. A despeito das manifestações nas cidades haitianas e das chamadas à mobilização popular por parte da oposição, setores da esquerda haitiana denunciam que nos bastidores personagens se movem para obter o apoio de Washington onde o jogo será decidido realmente. Acrescentam que o que está ocorrendo é na verdade uma luta pelo poder entre facções da burguesia haitiana todas subservientes aos interesses imperialistas. Aquela que obtiver as boas graças dos atuais detentores do poder nos Estados Unidos, a nova administração Biden, será a vencedora do confronto.
O Haiti, nação situada na região do Caribe que Alexander Hamilton, um dos fundadores da República estadunidense, chamou de “o Mediterrâneo estadunidense” sempre foi um alvo preferencial do imperialismo. Foi a mais rica colônia francesa e após a sua independência passou a ser considerada pelos Estados Unidos como de importância estratégica e assim, sua área de influência. Desde então, as intervenções imperialistas, militares e outras, não só por parte dos Estados Unidos que é o árbitro final, mas também por parte da França e do Canadá, foram uma constante. Como ocorre por toda a América Latina, atualmente há disputas entre os diversos setores da burguesia que tentam manobrar as massas em seu proveito. Estas não podem contar a não ser com elas próprias para abrir uma perspectiva progressista para o Haiti.
