A situação da pandemia no país está totalmente fora de controle, seja por culpa da direita civilizada e ”científica”, como o governador João Doria (PSDB), que até então só fez demagogia sobre a crise e não tomou nenhuma medida eficaz para ajudar a população.
Ou mesmo culpa do governo federal – o chamado negacionismo do vírus personificado na figura do presidente ilegítimo Jair Bolsonaro (sem partido) mas que na verdade são dois lados da mesma moeda, setores da burguesia que não dão a mínima para os cerca de 350 mil mortos vítimas dessa doença.
Prova disso é o que acontece nos cemitérios do Estado de São Paulo. Enquanto as vagas nos hospitais são escassas ou quase mínimas, o cemitério de Vila Nova Cachoeirinha, o segundo maior da cidade de São Paulo, está “fechado para balanço”.
De acordo com reportagem da UOL, já não há covas para enterros, a administração montou uma força-tarefa para exumar 1.056 corpos no menor prazo possível. “Metidos em uniformes brancos de poliuretano, 11 funcionários circundam sepulturas abertas. Este não é o time completo. Dentro da terra, três homens limpam jazigos com quatro ‘andares’ para caixões, uma profundidade quase igual a altura de duas pessoas,” afirma o artigo.
Com dois turnos diferentes, o serviço de exumação começa pela manhã na retirada de ossos e depois do almoço é hora da tarefa de retirar a sujeira das covas. Cada buraco tem quatro camadas e comporta oito corpos — dois por “andar”. Com tanto serviço, numa tarde três caçambas são enchidas com terra misturada a pedaços da madeira podre dos caixões e roupas que viraram trapos.
Todo este trabalho degradante é feito para permitir que as sepulturas sejam reutilizadas, declarou o secretário de Subprefeituras da cidade de São Paulo, Alexandre Modonezi. O homem de João Doria e Bruno Covas cinicamente explica que a lógica de suspender os enterros no Vila Cachoeirinha precisa ser vista no contexto dos 22 cemitérios do município. É uma espécie de ”reciclagem de sepulturas”.
Com intenção de terminar a exumação em até 20 dias, até lá somente famílias que possuem túmulos privados poderão enterrar seus mortos no Cemitério Vila Cachoeirinha. Quem é pobre vai ter que se virar até pra morrer, tamanha a crise do capitalismo em que se expressa a crise da covid-19.
O sistema funerário de São Paulo experimenta uma pressão nunca vista, nem na primeira onda de covid-19. No ano passado, o recorde foi de 262 sepultamentos diários, registrados em 14 de julho. Na última terça-feira (30), ocorreu o maior número de enterros desta onda, 420. Com estatísticas tão altas, março terminou com 9.728 enterros, número 63% maior que os 5.964 de fevereiro.
Da mesma forma como em um ano de pandemia, os governos não organizaram nem planejaram a assistência a população doente, agora as consequências disso aparecem nos cemitérios. A incompetência da gestão dos governos burgueses se reflete em como eles lidam não somente com os vivos, mas também na forma como se livram dos mortos em um período de tanto descaso.