Está em destaque na política nacional o debate sobre os apoios à candidatura à presidência da Câmara dos Deputados. Os golpista se dividiram entre uma ala ligada à direita tradicional, liderada pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM), e Arthur Lira, do PP, apoiado por Bolsonaro e setores do chamado “Centrão”.
Trata-se aqui, obviamente, de uma divisão entre quem irá assumir as mesa diretora da Câmara para levar adianta os ataques contra o povo, dando continuidade ao processo golpista. Não há nada de essencialmente diferente entre um e outro grupo dos golpista.
A única saída para a esquerda parlamentar, mesmo do ponto de vista das manobras institucionais, seria apresentar um candidato próprio, no caso do maior partido na Câmara, o PT. Não cabe à oposição fazer parte e dar sustentação e nenhuma das alas do golpe. Tal política seria se colocar a reboque da direita e fortalecer qualquer uma das alas golpistas e assim os ataques contra o povo.
Mas a esquerda parlamentar está novamente buscando a adaptação ao regime golpista, discutindo o “mal menor” para a presidência do Congresso Nacional. Quem pressiona por essa política são os setores que defendem a frente ampla, que estão preparando a mesma capitulação política para as eleições de 2022.
Os jornais apresentam uma divisão interna do PT em torno desse debate. Uma ala esquerda rejeita o apoio a qualquer “mal menor”, a maior parte da ala direita do partido está pressionada a apoiar Rodrigo Maia, justamente um dos principais nomes da frente ampla. Há ainda um setor que flerta com o candidato apoiado pelo bolsonarismo, Arthur Lira.
O debate tem causado um crise interna no PT. O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) criticou o apoio de um setor petista ao candidato de Bolsonaro e chamou o lançamento de um candidato de oposição. A posição de Correia, no entanto, não deixa claro que candidato seria esse de oposição. Pressionado pelos setores que defendem o apoio a um candidato da burguesia golpista, a maior parte da direção do PT parecer sequer considerar a opção de um candidato próprio, que chamasse os demais partidos da esquerda a darem apoio. Uma candidatura que denunciasse o golpe e os ataques contra o povo.
Outra demonstração da crise no PT e da tendência de setores do partido a apoiarem Arthur Lira é a declaração do ex-presidente do partido, Rui Falcão nas redes sociais: “O PT não pode votar no candidato do governo”.
Um dos vice-presidentes do PT, Washington Quaquá, aponta para o apoio a Lira. El “é o candidato do centrão. O centrão tem um acordo com o Bolsonaro. Pode ter um acordo com a gente também”, afirma, segundo informa reportagem de O Globo de 15 de dezembro.
A pressão da frente ampla fica clara pelo posicionamento da revista Carta Capital, uma espécie de porta-voz da frente ampla, “Oposição terá que escolher o mal menor na eleição da Câmara”. Para a revista, a esquerda está obrigada a votar num dos golpistas porque não tem condições de lançar candidatura própria, pois não ganharia a votação.
A posição da revista deixa claro o real fundo do debate sobre a presidência da Câmara que é justamente a ação dos setores petistas que defendem a frente ampla para a escolha do “mal menor”.
Conforme avança o golpe e o controle cada vez maior das instituições pela direita, a esquerda foi sendo envolvida nas manobras e fraudes, se colocando a reboque das iniciativas da direita. As eleições municipais foram a mais recente demonstração dessa nulidade política da esquerda.
Diante da derrota acachapante, a esquerda partiu para a política do “mal menor”. Votaram, assim, na direita golpista como Eduardo Paes (DEM), para derrotar bolsonaristas; mas também votaram em bolsonaristas contra bolsonaristas. O “mal menor” revela-se uma política cujo único resultado é fortalecer qualquer uma das alas da direita, inclusive a política de Bolsonaro, já que são os setores considerados como “mal menor” são na realidade os pais do golpe e do bolsonarismo.
Na Câmara dos Deputados é exatamente a mesma coisa. A política do “mal menor” está levando a esquerda a votar num candidato da direita. Se for Arhur Lira, no candidato escolhido por Bolsonaro, se for no candidato de Maia, será aquele que dará continuidade à política de ataques levada adiante por Maia.
Qual seria, então, o “mal menor”? O bolsonarista ou aquele que levou adiante todas as políticas contra o povo ao mesmo tempo ignorou todos os pedidos de impeachment contra Bolsonaro?
Essa política submissa da esquerda visa à mesma manobra nas eleições presidenciais de 2022, a escolha de um “mal menor” em nome de derrotar Bolsonaro. E assim a situação vai cada vez mais à direita.