“Pra que serve isso?” perguntou Kaia Rolle, de 6 anos, ao ver as algemas que o policial americano Dennis Turner levou à sua escola para prendê-la. Sem constrangimento, o policial respondeu: “São para você”. Algemada e chorando, a menina é levada à viatura como uma criminosa que merece ser presa por mal comportamento escolar.
A menina que havia sido levada junto à outro menino, foi liberada logo depois, mas ainda assim o policial – após liberá-los – fez questão de abrir uma ficha policial contra ela. Kaia Rolle é uma criança negra – por sinal, a avó ressalta que ela tem distúrbio de sono – e que aos seis anos já adquiriu a consciência do que significa incorporar – pela sua nacionalidade, pela sua cor, pelo seu gênero – a opressão do imperialismo.
O caso aconteceu em setembro do ano passado, em Orlando, na Flórida, mas só agora veio a público depois da família de Rolle divulgar as imagens das atrocidades que poder ditatorial americano pratica, inclusive, com crianças. Essa não é uma exceção, outros casos já haviam ocorrido da mesma natureza. Em 2015, uma outra situação que viralizou foi o da cidade de Covington, na Virgínia. As duas crianças que sofreram a violência policial, também na escola por mal comportamento, tinham TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), e sofreram com as dores e traumas causados pelos policiais.
Em grande medida, são casos que chocam pela publicidade, ainda que por vezes a regra possa ser o costume não divulgado.
No Brasil, crianças também são mortas pela polícia. Um relatório do Fogo Cruzado, de 2019, mostra o quanto a ascensão da repressão policial mira a infância de brasileiros. No Rio de Janeiro, o caso de Ágatha Félix é emblemático: uma criança negra, de 8 anos, que cujo o rosto representa o racismo e a dor da morte causados pelos regimes da militarização.