Indígenas da tribo indígena Tupinambá de Olivença, no sul da Bahia, juntamente com pequenos agricultores, assentados e sem-terra da região, decidiram se organizar para que a contaminação pelo coronavírus não chegue até eles, desde que o governador do estado decretou estado de emergência e quarentena.
Outra razão para que os Tupinambás tomem providências para proteger sua população é o fato de já haver casos confirmados de coronavírus nos municípios de Porto Seguro e Itacaré e suspeitos em Itabuna e Ilhéus, todos eles próximos à aldeia. Esses casos de coronavírus no sul da Bahia foram trazidos por ricos empresários do Sudeste que, sob suspeita de contaminação, foram se “isolar” na região, como foi amplamente divulgado pela mídia. De acordo com G1, em 22 de março, a polícia baiana investigava o caso do advogado e empresário Carlos Henrique do Vale Vieira que, após se submeter ao teste no Hospital Albert Einstein de São Paulo, viajou para sua propriedade em Porto Seguro, antes mesmo de receber o resultado que dera positivo para coronavírus, lá recebendo vários convidados e empregados.
Frente a essa situação, os indígenas, para se protegerem durante a quarentena, decidiram restringir com barreiras o acesso a duas rodovias estaduais que cortam a reserva, a BA 668 e 669, além de outras providências visando o controle de entrada e saída de pessoas e mercadorias na tribo. Todas essas medidas foram negociadas com os munícipios que ficam no entorno, como São José da Vitória e Una. Porém, houve resistência por parte de alguns policiais civis e militares e cidadãos bolsonaristas de Buerarema.
Segundo relato dado à Mídia Ninja, o cacique tupinambá Babau afirma que: “A cidade de Buerarema é a única que foi contra. Vieram policiais de Una e concordaram com o que estamos fazendo; vieram policiais de São José da Vitória e falaram que é desse jeito mesmo que é para agir, inclusive eles mesmo fecharam todas as saídas e entradas da cidade, deixando só uma, para ter controle de quem entra e sai da cidade; só o município de Buerarema, que não tem povoado dentro do nosso território, não tem ninguém dentro da aldeia, que está contra a nossa quarentena. Então, qual é o interesse de Buerarema de querer abrir a BA 668 se eles não têm nada dentro de nossa aldeia? O povoado deles fica a 7 km de nossa aldeia, não chegamos nem perto. Falamos que não é para virem, nós nem os pequenos produtores da região e os sem-terra estamos permitindo que as pessoas da cidade venham e se instalem agora aqui dentro nesse período delicado. Mas alguns insistem querendo vir, e quando chegam nas barreiras falamos para voltar. E eles não querem. Dizem que estaríamos impedindo o ir e vir. Mas o ir e vir agora está suspenso pois é para cada um ficar na sua casa e não vir para a minha casa”.
A aldeia foi alvo de ataque de seis policiais, três militares e três civis, vindos de Buerarema. “Chegaram na barreira, não conversaram com ninguém, e tentaram arrastar a barreira dando tiros de metralhadora para nos intimidar. Foram os únicos policiais da região que agiram contra. Eles falaram que iriam abrir a força. Como é que pode? Eles querem descumprir a lei que eles mesmo criaram”, relata o cacique.
Babau denunciou também um plano de policiais, civis e militares, ano passado, que pretendiam matá-lo e a outros indígenas, forjando, inclusive, crimes de tráfico de drogas.