Acreditar na idoneidade de instituições como as polícias brasileiras e o Poder Judiciário já se compara a crenças tão absurdas quanto o terraplanismo.
Em setembro, a Polícia Civil do Pará havia indiciado quatro soldados da brigada de incêndio e um aluno em treinamento por queimadas ocorridas na reserva Alter do Chão, em Santarém. Segundo a acusação, eles teriam participado na propagação do incêndio, visando promover internacionalmente fotografias da trajédia para ganharem doações financeiras.
O indiciamento ocorre sem sequer terem se encerrado as investigações da perícia técnica. A justiça tampouco aceitou ouvir duas testemunhas chamadas pela defesa. A acusação da polícia é feita sem apresentação de provas, prática que tem se tornado padrão nos julgamentos brasileiros. Há apenas depoimentos de pessoas ligadas a fazendeiros e oficiais militares. Estas pessoas sequer são testemunhas oculares dos incêndios, e forneceram apenas suposições.
Um dos depoentes é Jean Carlos Leitão, presidente do Instituto Cidadão Pró-Estado do Tapajós (ICPET), organização que pretende criar um estado independente dentro do Pará. Este instituto também é conhecido por produzir laudos contrários ao reconhecimento de terras indígenas. Numa oportunidade, o ICPET organizou um ato pedindo a retirada das ONGs de Santarém. Um dos organizadores era o militar da reserva Coronel Tomaso, pré-candidato a prefeito do município e presidente do partido Patriota, que estuda fechar coligação com Bolsonaro para 2020.
Os incêndios são uma prática corrente dos latifundiários. Com as instituições aparelhadas até os dentes, os golpistas deitam e rolam usando o Estado brasileiro para reprimir e perseguir opositores. Além do mais, a pressa para concluir o processo visa manter os órgãos de imprensa ocupados com o caso, desviando a atenção para longe dos verdadeiros responsáveis e interessados nestes crimes ambientais.