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Reforma da Previdência: lutar contra Bolsonaro ou chantageá-lo?

O jornal imperialista da Espanha, El País, tem se dedicado a “dar conselhos” para a esquerda. Dessa vez, em matéria intitulada Qual deve ser o voto de uma esquerda fiscalmente responsável na reforma da Previdência?, colocaram um acadêmico de Havard para aconselhar o “espectro ideológico mais polêmico para a ocasião: o de deputado de (centro-) esquerda que acredita piamente na necessidade de uma reforma significativa.”

Segundo o acadêmico Raphael Martins, “examinando o projeto concreto em votação, é óbvio que em muitas medidas ele representa um avanço importante para o país, como a implementação de uma idade mínima e alterações na previdência do setor público. Além disso, ele encarna um ímpeto reformista que é muito bem-vindo em um país que vinha evitando tais debates espinhosos.” 

Além disso, para Martins, “no auge de seu capital político Lula perdeu a oportunidade de encaminhar reformas nos termos da esquerda”. Quer dizer, a Reforma é boa, e o PT deveria ter aproveitado seu período no poder para aprovar uma parecida. Lula teria perdido a oportunidade.

Porém, Martins também procura apresentar alguns fatores ruins da previdência. 

Por outro lado, ele possui problemas graves. O mais importante deles deriva de um destaque, o último votado na comissão especial, e na calada da noite. O destaque preservou a isenção da contribuição previdenciária de produtores rurais que exportem pelo menos uma parte de sua produção, e tornou possível outra vez a renegociação da dívida previdenciária dos mesmos.

Ou seja, ruim para o jornal que se dá uma aparência de esquerda é simplesmente o fato de que os latifundiários não foram inclusos na Reforma, caso contrário a reforma seria perfeita e a esquerda deveria apoiá-la. Como o texto tem o objetivo de aconselhar a esquerda, fica claro que, não fosse isso, a esquerda deveria apoiar integralmente a Reforma: o aumento do tempo de contribuição, o roubo da aposentadoria etc.

Mas aí ele argumenta, que tal injustiça – de incluir apenas o povo na Reforma – é o modus operandi da sociedade brasileira, e portanto, seria preciso se conformar com isso. Pois “ainda assim, o argumento a favor de votar uma reforma, ainda que bem imperfeita, é forte. Dado o dilema, é necessário então pensar o voto para além dos termos imediatos da dicotomia responsabilidade fiscal x justiça social presente no projeto, e pensá-lo em termos de qual deve ser a estratégia e o papel republicano de uma esquerda no Brasil de Bolsonaro.”

Quer dizer, cria uma “dicotomia” falsa para favorecer seu argumento. O debate em questão não é entre “responsabilidade fiscal” e “justiça social”, mas entre se somos a favor do roubo da aposentadoria dos trabalhadores e da população ou não. Se somos a favor de que o povo pague pela crise capitalista ou se deveriam ser os próprios capitalistas.

Mas o jornal deixa claro que o voto da esquerda não vale nada, pois a Reforma já está encaminhada. E portanto, a esquerda deveria cumprir um papel “republicano” 

Esta postura pragmática permite que a esquerda se volte para o papel que deve cumprir qualquer oposição em uma democracia representativa, que é o de vender caro seu voto a fim de pressionar o Governo a se aproximar de sua pauta. 

A esquerda deveria, então, “esquerdizar” a reforma, vendendo caro seu voto para Bolsonaro, seja lá o que isso significar. Caso contrário, “se o Congresso votasse levando em conta apenas a (justa) urgência dada pelo comentarista liberal médio à questão fiscal, podemos imaginar um mundo em que a reforma passaria com todos os votos a favor.” Claro, pois ela é praticamente perfeita, segundo o analista.

Para ele, a polêmica da esquerda seria entre duas posturas que levariam ao mesmo fim: apoiar a Reforma da Previdência; ou a esquerda “responsável” nega seu papel de denunciar as injustiças da Reforma – de não incluir os latifundiários -, e aprova-a. Ou se não a esquerda deveria dar um “não” “simbólico” para a Reforma de forma de denunciar esta injustiça, mas “reconhecendo sempre a necessidade da reforma e se colocando a disposição para negociar”, que em outras palavras significa pedir a inclusão também dos grupos da burguesia que ficaram de fora, mas sem denunciar o roubo gigantesco feito aos trabalhadores.

Quer dizer, até na possibilidade “não” a esquerda deveria “negociar” para expandir a Reforma. Desta forma, a solução política para a esquerda seria uma chantagem ao governo: ou se inclui todos os grupos, em nome de uma suposta justiça social, ou não votaremos a Reforma.

Por isso, o jornal afirma: “O voto ‘não’ que evita a lógica do ‘quanto pior melhor’ e a retórica isolante da esquerda tradicional, mas que cumpre o papel da esquerda de ser um contrapeso no sistema, é o voto ‘não’ de uma esquerda que o Brasil precisa.”

Ou seja, a esquerda deveria escolher pelo voto “não” que na verdade não é “não”, e isso seria o voto de uma esquerda que o Brasil precisa. Fica muito claro, a “esquerda que o Brasil precisa” é uma esquerda que não denuncia a Reforma da Previdência, não denuncia o roubo cometido contra toda a população. “O Brasil precisa” de uma “Esquerda responsável”, que saiba a necessidade de roubar os trabalhadores pela crise gerada pelos golpistas.

Na verdade, o que o Brasil precisa é de uma esquerda que seja efetiva na luta contra os golpistas e todas suas medidas de esfoliação da população. O Brasil precisa de uma esquerda que denuncie, de fato, todas essas medidas e coloque claramente que são os capitalistas que devem pagar pela crise, não o Estado ou muito menos o povo. Uma esquerda que defenda mais impostos para os capitalistas e nos artigos de luxo para se contrapor à política dos golpistas de usar o Estado para salvar os capitalistas da falência. Em resumo, sobre a questão da previdência, uma esquerda que lute contra Bolsonaro e a Reforma, não que chantageie o governo para votar o roubo da população.

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