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Polêmica com Patrícia Valim

É preciso levar uma luta política contra a capitulação da esquerda

A luta contra a as posições reacionárias da esquerda não podem se limitar ao terreno da disputa eleitoral

Em artigo intitulado “Por quem os sinos dobram na esquerda petista?“, publicado no sítio brasil247, a professora de História do Brasil Colonial da Universidade Federal da Bahia, Patricia Valim, procura responder ao sociólogo  e ex-dirigente do PSOL, Vladimir Safatle, particularmente ao seu artigo publicado no El País (10/02/19) intitulado “Como a esquerda brasileira morreu”, no qual apresenta – o que ela chama de “provocação” – a idéia de que a “esquerda nacional não morreu porque ela nunca existiu”, reforçando teses tradicionais da esquerda pequeno burguesa e da direita contra a esquerda brasileira.

O ponto de partida do artigo da companheira Patrícia seria um acordo com Safatle porque o mesmo teria feito uma “uma dura crítica à política dos governadores petistas no Nordeste, especialmente ao governador da Bahia, Rui Costa”, contra a qual também se insurge a professora e boa parte da militância do PT, na Bahia e em todo o País, nesse momento, diante das posições abertamente reacionárias assumidas pelo governador.

A autora diz pretender “analisar” o que ela considera “essencial da crítica de Vladimir Safatle no artigo”. No afã de tratar de temas locais que lhe são caros e diante dos quais aparentemente milita, acaba por requenta a tese de boa parte da esquerda, alimentada também pela imprensa golpista, da existência de um suposto “cinturão progressista do Nordeste”, que seria uma região de resistência petista e oposição ao bolsonarismo, formado na eleição de 2018″, o qual segunda ela, “está agonizando e corre perigo de morte em 2020 em razão da política dos próprios governadores petistas com equívocos de mérito e de método, que tem vários pontos em comum com o bolsonarismo”.

A tese inteiramente falsa seria a de que esses governadores teriam sido eleitos com um programa de esquerda e estariam comentando “equívocos”, quando a própria eleição desses governadores foram feita tendo como base alianças com tradicionais partidos de direita, dos setores mais reacionários da oligarquia nordestina, como “carlistas” (instalados no PP, PSD e outros partidos na Bahia), como o PSDB (como no Maranhão), “ciristas” e, portanto, tucanos, e dos mais diversos matizes (no Ceará) e outros setores profundamente reacionários, que se dependuraram no prestígio eleitoral de Lula na região para continuar, de fato, no comando dos Estados, mantendo uma política profundamente reacionárias contra o povo desses estados. Esse chamado “cinturão progressista” equivaleria, por exemplo, a uma possível vitória eleitoral do PT, em São Paulo tendo como candidato um elemento reacionário oriundo do tucanato, como Geraldo Alckmin, no caso dele estar filiado a um suposto partido “progressista” como o PSB (que integrou seu governo) ou mesmo tivesse entrado no PT, como fizeram cristãos e outros velhacos.

A companheira, busca apresentar a política reacionária atual do governador da Bahia, principalmente, e de outros estados, como sendo uma novidade, uma reviravolta. Segundo ela, Rui Costa, estaria cometendo “equívocos de mérito” supostamente por  “não politizar o enorme legado dos governos petistas de Lula e Dilma no Nordeste e avançar com ele, tem implantado parte significativa da agenda do bolsonarismo na Bahia: a militarização da educação pública do estado, o fechamento de escolas e a venda de seu terreno em área com o metro quadrado mais caro da cidade, o fechamento de períodos noturnos em vários colégios, a reforma da previdência sem esclarecimento e diálogo com a categoria, a colaboração pouco transparente com a polícia do Rio de Janeiro em uma operação para prender uma testemunha fundamental no esquema da “rachadinha” (se provada seria um duro golpe no bolsonarismo) e que resultou em um homicídio que até a imprensa mainstream tem chamado de queima de arquivo. E o mais grave, a militarização da política e o esvaziamento da própria política como consequência”.

Os casos citados são verdadeiros mas nem de longe expressam o centro da política direitista do governador e de toda a ala direitista do PT que ele integra. Deixa de lado,  por exemplo, o fato importante de que – junto com Jaques Wagner – Costa vem se destacando como um dos chefes da direita do PT que, já em 2018, defendeu e tentou impor o “plano B”, de substituição do ex-presidente Lula (duramente perseguido pela direita) por outra candidatura, até mesmo de fora do PT, como Ciro Gomes e outros abutres, como o próprio Jaques Wagner reconheceu recentemente.

Pressionaram pela capitulação diante da direita, já antes das eleições. Depois do processo eleitoral se juntaram às alas reacionárias da direita que desejaram “sucesso” e “boa sorte” para o fascista Bolsonaro. Não moveram uma palha, de fato, na campanha pela liberdade de Lula.

Não se trata apenas de Rui Costa e demais governadores, tenham – nos últimos meses – imposto a reforma da Previdência contra os servidores estaduais.

Pior do que isso, apoiaram – de fato – a reforma de Previdência de Bolsonaro: os deputados dos partidos “aliados”, integrantes de seus governos votaram em massa (com raras exceções) a favor da Reforma da Previdência de Bolsonaro, o maior roubo de todos os tempos dos trabalhadores brasileiros, que pretende expropriar quase R$ 1 trilhão de dezenas de milhões de trabalhadores. Sabotaram, junto com outros “aliados” a luta contra a reforma. Só os deputados petistas e dos demais partidos da esquerda votaram contra, diante da posição fechada pela direção do Partido em torno da questão.

Se houvesse alguma dúvida de que estavam contra, basta ver a pressa com que se lançaram a aprovar a reforma nos seus Estados, fazendo-o mais rápido até do que governos da direita, como no caso do Maranhão, em que a PEC enviada pelo governo “comunista” de Flávio Dino foi votada em menos de 24 horas, ou nos casos do Ceará e do Piauí, onde a PM foi colocada para reprimir os servidores, coisa que já havia sido feita no ano passado, quando o governo Rui Costa aumentou o desconto previdenciário dos servidores baianos, de 11 para 14%, em votação realizada com os deputados cercados pela Policia e longe d qualquer manifestação dos servidores que foram impedidos de entrar na “casa do povo”.

O problema está longe de estar circunscrito como afirma a autora a “ações efetivadas nos primeiros dias 2020” que segundo ela, é “um ano absolutamente central para as esquerdas brasileiras para garantir que as eleições municipais sejam o ponto de partida para a derrota da extrema-direita no Brasil”, com o que evidencia comungar da ilusão da maioria da esquerda de que a direita golpista possa ser derrotada no terreno eleitoral e, mais ainda, sem a luta do povo nas ruas pelo fim do governo Bolsonaro, que essa esquerda não está minimamente disposta a encaminhar.

Para ela a questão central se resume em auferir (ou imaginar) “se as semelhanças entre a política do governador da Bahia e o bolsonarismo se sobrepõem às diferenças, por que a população do cinturão progressista no Nordeste continuará votando no PT em 2020 se é tudo a mesma coisa – ainda que não seja no conjunto? Por que a população das principais cidades do Nordeste, predominantemente negra e pobre, continuará votando no PT com a extrema-direita levando vantagem significativa sobre nós por acolher e proteger, ainda que de maneira questionável, um contigente imenso praticamente ignorado pelas esquerdas de mulheres-mães solo pobres e negras cujos filhos são as principais vítimas do genocídio da população negra?”

O problema vai muito além de se o PT e demais partidos da esquerda, com candidatos direitistas e aliado a partidos da direita golpista, vai manter seu êxito eleitoral. A questão é que o partido está endossando a politica da direita e se opondo às tendências de mobilização e luta contra os ataques do governo e pelo “Fora Bolsonaro” que se expressam das mais variadas formas em todo o País, particularmente – neste momento – na combativa greve dos petroleiros e nas manifestações espontâneas contra Bolsonaro, no carnaval, shows, estádios etc. etc. etc.

A professora petista se indigna e pergunta “como pedir que a militância do PT saia às ruas defendendo o Plano Emergencial de Emprego e Renda (PEER) se as dez diretrizes desse Plano não são adotada nos estados e municípios governados pelo PT? Como exigir que essa população tivesse ido às ruas protestar contra a reforma da previdência bolsonarista se ela tentava abrir canais de negociação para evitar a aprovação da reforma da previdência do estado da Bahia?”

Mostra que sua indignação está centrada na questão eleitoral (as eleições acima de tudo!), destacando o fato que a pré-candidata à prefeitura de Salvador, que teria sido indicada por coletivos e movimentos sociais, a socióloga Vilma Reis, está sendo preterida, sem prévias partidárias por meio do que ela afirma ser a “a imposição da candidatura de uma policial militar”, na realidade uma oficial da PM, que sequer é filiada ao Partido dos Trabalhadores”., sobre o que faz várias considerações como a de que tal candidatura estaria sendo imposta pela “executiva estadual do PT/BA”.

Protesta contra a falta de prévias e pelas claras manobras no interior do PT baiano para a escolha da candidatura à prefeitura da capital quando a situação é muito mais grave e aponta no sentido de uma capitulação total de toda a esquerda diante da questão eleitoral.do abandono (dentro e fora dos partidos) de qualquer outra forma de luta política e o abandono, principalmente, de qualquer perspectiva de luta real, de classes contra o governo golpista.

Com esta visão estreita, centrada em questões eleitorais, a autora acaba por concordar com, Vladimir Safatle, e com a primazia das questões eleitorais do PSOL, da direita do PT, do PCdoB e de toda a esquerda burguesa e pequeno burguesa que tem nas eleições seu terreno fundamental “de luta”.  Na verdade a “luta” pelos seus interesses em oposição aos interesses e necessidade da esmagadora maioria do povo brasileiro.

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