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Lula disse o que disse, não exageremos

O jornalista Mauro Lopes, editor do sítio Brasil 247, publicou nesse órgão artigo intitulado “Da cadeia, Lula dá o primeiro passo para construir frente antifascista”, buscando apresentar suas conclusões acerca da carta enviada pelo ex-presidente, de sua cela na Polícia Federal, em Curitiba, onde permanece preso ilegalmente, perseguido pelo regime político golpista.

Na Carta Lula se dirige, explicitamente, em bem poucas linhas, ao presidente e vice da Câmara dos Deputados, líderes e dirigentes de diversos partidos, que – no último dia 7 – “participaram no Supremo Tribunal Federal do ato contra mais uma arbitrariedade da Vara de Execuções Penais, no processo em que fabricam minha condenação sem provas de qualquer crime” e com a tradicional educação agradece ao que chama de “gesto de solidariedade”.(veja fac-simile abaixo).

A carta de Lula aos parlamentaresAlém de expressar a já inúmeras vezes manifesta crença do ex-presidente, que pode ser aceita ou não de que vamos “reencontra a Justiça, a prosperidade e a paz”, a Carta – nem de longe – nos permite deduzir, por si só, de como Lula entende que isso seja possível em uma situação cada dia mais dominada pela violação dos direitos democráticos não apenas dele mesmo, como de todo o povo brasileiro e na qual se intensifica – inclusive,  com a colaboração de muitos daqueles a quem Lula, educadamente agradece a entrega da economia nacional e a destruição das condições de vida da maioria do povo brasileiro, bem como um aumento do massacre da população pobre nas periferias da grande cidades, no campo, entre os indígenas etc.

Lula tem todo o direito de expressar aquilo que bem entenda. Em diversas oportunidades, tivemos que discordar dele publicamente e até ele se opôs da mesma forma às nossas colocações. Por exemplo, quando criticou (e há relato em livros) que se realizasse uma campanha pública contra sua prisão, o que ele e muitos outros dirigentes da esquerda diziam que não iria acontecer. Trata-se de algo perfeitamente natural na luta política, inclusive, entre setores que são alvos do golpe e buscam – por diferentes formas defender os interesses do povo brasileiro diante do regime golpista.

Nesse sentido, nos parece indevido querer atribui à missiva de Lula aquilo que ele não expressa claramente, como ao nosso ver o faz Mauro Lopes, em seu artigo, que além de destacar que  “a carta do ex-presidente Lula [se dirige] ao universo político-parlamentar”,  procura apresentar – sem nenhuma base material na própria Carta de Lula que a pretensão do ex-presidente seria “iniciar a costura de uma frente antifascista no país”.

Em meio a afirmações baseadas no documento assinado por Lula, como a de que “a carta tinha como objetivo explícito o agradecimento de Lula”, o autor da interpretação aponta que “duas expressões que devem ser lidas como as mais importantes do texto são “garantias individuais” e “Estado Democrático de Direito”, embora o próprio Lula não as tenha destacado no texto.

Lopes também conclui, apesar das nomeações explicitas do documento, de que mesma “foi uma carta a praticamente todo o espectro político do país, exceto a extrema-direita”, quando o fato citado pelo presidente explicitamente, contou com a participação de algumas dezenas de parlamentares, não recebendo a adesão – seja por que motivo for – da imensa maioria da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Mesmo assim, ele afirma que “quem ficou de fora? O PSL de Bolsonaro, alguns pequenos partidos satélites, o PTB, o Novo e o PSDB. Lula lançou-os num grande isolamento político”.

Ainda segundo o autor, “examinando-se com cuidado os destinatários, é imediata a lembrança da base parlamentar que sustentou os governos de Lula”. Mais uma dose de exagero uma vez que figuram também aí, inúmeros líderes da oposição, aliados dos tucanos e da direita contra Lula, primeiro, e que também votaram, em grande número, pela derrubada golpista da presidenta Dilma (como reconhece o próprio autor em seu artigo), que comandaram a aprovação das reformas contra a imensa maioria da população como a “PEC do fim do mundo” (que congelou os gastos públicos por 20 anos), a reforma trabalhista que acabou com o emprego de milhões de brasileiros e, mais recentemente, a famigerada reforma da Previdência, que rouba mais de R$ 900 bilhões dos trabalhadores para satisfazer os interesses dos tubarões do mercado financeiro e outros abutres. Esses e outros posicionamentos reacionários daqueles a que Lula (com sua comum polidez) agradece, nem de longe os coloca ao lado dos que defendem e lutam pelas garantiras individuais e pelo Estado Democrático de Direito.

Vale lembrar, para que não se exagere na dose, que os parlamentares do centrão e outros a quem Lula agradece, sequer se manifestaram pela exigência democrática e totalmente necessária de que o STF libertasse imediatamente Lula, diante do mais que comprovado caráter fraudulento dos processo lava jato que – tal como afirma Lula – “fabricam” sua “condenação sem provas de qualquer crime”. Da mesma forma que a maioria golpista da Suprema Corte, se omitiram ou se posicionaram por  manter o ex-presidente e maior liderança popular do País preso, justamente porque sabem do perigo que para eles representa liberdade de Lula em um momento de agravamento da crise econômica e política e quando os trabalhadores e suas organizações buscam reagir à política criminosa por eles imposta, não s’no que diz respeito à liberdade de Lula, mas também, em relação aos ataques contra os trabalhadores que Lula, vem condenando seguidamente, como é o caso da “reforma” da Previdência, que segundo o próprio Bolsonaro tem como “general” o deputado Rodrigo Maia (do DEM).

Segundo o autor, “Lula sinaliza qual é o espectro político que pretende unir para a saída da atual crise do país e na oposição a Bolsonaro”. Ainda que Lula, possa ter essa ou aquela idéia, reafirmamos, não nos parece legítimo dar a interpretação que melhor se encaixe na opinião de quem a lê. Deixemos que ele fale por si mesmo, como o faz na Carta.

E consideremos também que, infelizmente, nem sempre os caminhos da conciliação com a burguesia e até com a direita, defendidos e adotados por Lula e por setores que dele se aproximaram levaram aos melhores resultados diante da necessária e inevitável luta de classes irreconciliável e cada vez mais presente que coloca – muitas vezes independentemente da vontade dos autores – de um lado os defensores dos interesses do grande capital internacional internacional e “nacional” e do outro os que – com mesmo com muitas diferenças – se colocam ao lado da classe trabalhadora e dos seus interesses em cada etapa de sua luta.

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