Chegou à atenção da redação uma publicação feita em rede social pelo youtuber e militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), Jones Manoel. Nesta publicação ele traz à tona um assunto que, para muitos, estava completamente esquecido e a discussão dada como terminada, o da atuação do Partido Comunista da Alemanha (KPD em alemão) durante a ascensão do nazismo.
Diz ele: “Você pode se sentir muito sábio na política dizendo que na Alemanha os comunistas recusaram aliança com os socialdemocratas e por causa disso o nazismo chegou ao poder.
Só não esqueça que os socialdemocratas NÃO QUERIAM aliança com os comunistas, que até o final de 1932 perseguiam os comunistas e não os nazistas onde eram governo e que muitas milícias operárias que o PC tinha foram desmontadas pelos socialdemocratas.”
Este debate foi feito à época por Leon Trótski, que dedicou uma série de escritos ao tema, mas aparentemente ressurge agora de forma a reabilitar o KPD, e esconder os erros da direção do Partido, que dirigida de Moscou por Stalin e pela Internacional Comunista, levou a uma catástrofe sem precedentes na história do movimento operário mundial.
Em primeiro lugar, antes de entrar no debate posto pelo militante do PCB, temos que avaliar o resultado da política do KPD: a vitória do nazismo. Isso só pode nos levar a duas possibilidades: a) os stalinistas cometeram erros graves e facilitaram a ascensão de Hitler b) a situação era sem saída e não havia nada o que fazer. Obviamente a ascensão de Hitler era evitável, mesmo sem a cooperação dos líderes da Social Democracia.
A colocação de Jones, agora tratando efetivamente do debate, mostra um grande desconhecimento da tática de frente única e, se fosse para funcionar da forma como ele vê o caso alemão, seria quase impossível fazer uma frente única.
De acordo com Jones não seria possível aliar-se aos social-democratas, pois estes não querem acordo com os comunistas. Uma coisa é fato, os social-democratas não queriam acordo com os comunistas e também não estavam muito interessados em travar um embate consequente, mobilizando os seus operários, para derrotar Hitler.
Por essa lógica, se não é possível fazer frente única com quem não quer fazer frente com você, seria então impossível unificar o proletariado contra Hitler, a não ser que o SPD (Partido Social-Democrata Alemão) fosse ultrapassado, o que não era possível naquela pequena janela de tempo, era preciso unificar os trabalhadores. Portanto, fora um milagre, a situação estaria perdida.
Mas não é assim que funciona a tática de frente única. Qualquer um que entenda efetivamente como funciona uma frente única sabe que é possível unificar dois partidos mesmo que os dirigentes de um deles seja efetivamente contra.
Para tanto é preciso mostrar aos militantes, no caso do SPD, que os comunistas estão dispostos a defender os social-democratas mesmo a direção destes reprimindo os comunistas.
É preciso fazer apelos públicos ao SPD e à militância destes partidos, criar fóruns comuns reais. Nada disso foi feito pelo KPD, pelo contrário, durante todo esse período eles acusaram o SPD de ser “social-fascista”, seria similar a falar que o PT é “social-bolsonarista”. Com declarações como estas, que são inclusive infundadas, é inviável o estabelecimento de qualquer “aliança”.
Citamos aqui, o chefe desta operação desastrosa, Ernst Thaelmann, dirigente do KPD: “Todo camarada do SPD concordará conosco se dissermos que uma aliança entre o KPD e o SPD é impossível com base nesses fatos e também por razões fundamentais.”.
O texto citado é de 8 de julho de 1932, uma pessoa falar isso 6 meses antes de ser, previsivelmente, achatado pelo nazismo é pura canalhice ou incapacidade total de gerar uma política, ou até os dois. O comentário feito pelo pecebista, à luz destas colocações, demonstra falta de conhecimento da história dos acontecimentos e das mecânicas da frente ampla.
Mais a mais, seria como dizer: não é possível fazer uma frente de luta com militantes do PT, pois Lula e Dilma não querem lutar contra o golpe, algo que o PCO provou que não é verdade. A verdade é que mesmo se o SPD em 32, ou os dirigentes petistas agora, não quiserem romper os acordos com a burguesia fascista, é preciso reconhecer que a burguesia fascista quer romper os acordos com eles, e o sentimento de autopreservação das direções reformistas tem que ser usado para formar uma unidade na classe operária, mesmo contra a vontade dos dirigentes.