Com a anulação dos processos contra o ex-presidente Lula no âmbito da Operação Lava Jato, a discussão sobre uma “frente democrática” ou sobre quem seria o “novo líder da esquerda” perdeu qualquer sentido. Por mais que a imprensa burguesa tente levantar essa discussão, Lula é, indiscutivelmente, a maior liderança popular do País, com tamanha força eleitoral que supera qualquer “frente democrática” imaginável.
Nada na política brasileira é como Lula, e a burguesia sabe muito bem disso. E sabe também que até setores muito oportunistas da esquerda, que outrora juraram fidelidade à campanha antilulista da burguesia, estão, como é o caso do PSOL, avaliando a possibilidade de apoiar o ex-presidente. E por motivos óbvios, de sobrevivência: não apoiar o maior líder popular do País poderá levar esses setores, já desmoralizados e impopulares, à falência total.
Com Lula na disputa — o que só será garantido por meio da mobilização dos trabalhadores, visto que a burguesia tentará impedir isso de todas as formas —, fica ainda a questão: de que maneira a esquerda deveria organizar a campanha eleitoral?
Ora, a força de Lula não é um fenômeno ocasional: é o resultado do desenvolvimento da própria luta de classes no Brasil. Lula conserva pelo menos 1/3 do eleitorado brasileiro há três décadas porque é uma liderança produzida pela luta contra a ditadura militar, o maior ascenso operário que o País já viu há, pelo menos, meio século. E hoje sua força cresce porque essa mesma base que o apoia é a base de um movimento contemporâneo, que é a luta contra o golpe de Estado, iniciada em 2014. Como a luta contra o golpe tende a se radicalizar cada vez mais, uma vez que os golpistas tendem a aumentar cada vez mais os seus ataques, Lula expressa uma tendência à radicalização.
Se Lula é a expressão da polarização política, a campanha que a esquerda deve fazer não pode ser outra a não ser a própria luta de classes. Garantir a candidatura de Lula e colocar Lula na presidência é tarefa do movimento operário e deve ter, na mobilização das massas, e tão somente isso, o seu método. Isto é, a campanha de rua, feita pelas organizações dos trabalhadores, com total e absoluta independência da burguesia.
A defesa de uma candidatura de um partido de esquerda, sem alianças com a burguesia, não é uma política restrita unicamente aos partidos revolucionários. Na história da América Latina, várias lideranças nacionalistas conseguiram impor uma derrota à burguesia nas eleições. Esses governos, finalmente, foram governos burgueses, de colaboração da esquerda com a “sombra da burguesia” — isto é, com um setor minoritário em relação ao imperialismo —, por causa das limitações de suas lideranças. No entanto, venceram as eleições sem fazer alianças com a direita, restringido a sua política equivocada de colaboração de classes ao período governista. São exemplos desse governo Getúlio Vargas, em 1950, Evo Morales e Hugo Chávez.
Os reformistas brasileiros — incluindo, ao que parece, o próprio Lula — partem da crença de que esse tipo de política é impossível, mas não é; o reformismo brasileiro é especialmente descrente, mais do que a média. Acabam, portanto, defendendo a aliança com a burguesia como única forma de eleger Lula. A candidata a vice da vez seria Luiza Trajano. Trata-se, contudo, de um erro fundamental.
Se a esquerda reformista considera que só é capaz de vencer as eleições se tiver o apoio da burguesia, isso significa que não precisa de apoio popular para ser eleito. Significa, no fim das contas, abandonar a luta contra o golpe em curso e passar a administrar toda a política reacionária que o imperialismo preparou para o próximo período.