Passados pouco mais de 10 dias do trágico acontecimento de Paraisópolis que resultou na morte 9 jovens entre 16 e 24 anos, denúncias feitas por moradores do bairro dão conta de que o que já era bárbaro foi ainda muito pior. Na madrugada de sábado para domingo (30 de novembro para 1 de dezembro), supostamente, a polícia teria revidado um ataque com tiros disparados de uma moto por dois “meliantes”, no jargão policial, contra a corporação. Ao serem perseguidos, “os meliantes” se misturaram aos mais de 5 mil jovens que participavam de um tradicional baile funk da região. Obviamente a polícia não teve dúvidas. Em nome da “lei e da ordem e do combate a criminalidade” acuou os participantes da festa nas vielas sem saída da região e “tome bomba”. No desespero, os jovens que morreram teriam caído e sido pisoteados pela massa desesperada.
Como dito, isso já seria bárbaro e não muda o resultado final dos objetivos que estavam por traz da operação policial de conjunto, salvo porque não deixam margem a dúvidas de que as denúncias que estão surgindo é o massacre da polícia militar é uma política consciente de Estado.
As denúncias da população confirmam o que as evidências já apontavam de que os jovens não haviam morrido pisoteados como alegava a polícia, mas como resultado de uma ação de aniquilamento físico pela própria polícia militar.
A gravidade da ação da polícia e o sentimento de ódio que gerou na comunidade fez com que políticos de todas as matizes saíssem a condenar a operação policial. Seria até mesmo motivo de uma comédia caso o fato não fosse de uma tragédia sem limite ver Bolsonaro, o fascista, defensor de assassinato de pobres, negros e “bandidos” nas grandes cidades, aquele mesmo que é apologista da “licença para matar” por parte da polícia e dos órgãos de repressão, solidarizar-se com as famílias das vítimas. A hipocrisia é uma atitude corriqueira da direita brasileira e de seus filhos diletos, a extrema direita. Os witzels, os dórias, os zemas, assim como Bolsonaro, assim como a PM, o PSDB, o DEM, o PMDB, todos, mais ou menos conscientes, isso pouco importa, cumprem o papel historicamente determinado pela classe dominante em manter sob permanente controle a população pobre brasileira.
Essa que é a questão fundamental. É por isso que o discurso da “banda pobre da PM” “denunciado” pela própria burguesia e “comprado” por boa parte da esquerda é tão nocivo para a luta contra essa política genocida e que, no final das contas, só cumpre o papel de “reciclar” esse instrumento de guerra permanente contra o povo.
A dominação do capital no Brasil sempre esteve ancorada em um estado policial de permanente repressão. A condição da esmagadora maioria da população brasileira não é de hoje. Pode-se até considerar que o golpe de 2016 teve como um dos seus resultados uma intensificação dos assassinatos e repressão nas periferias das cidades, mas essa é uma regra histórica.
Manter a população acuada no Brasil é o objetivo fundamental dos órgãos de repressão, em particular a PM. É a perpetuação da política escravagista. Terror como método para impedir revolta. Não é por outro motivo que a “sucursal do inferno” tem a sua outra ponta no sistema carcerário brasileiro.
Não existe banda podre. Tudo é podre. No máximo, caso os “excessos” da polícia provoquem uma reação muito grande da população e, por conta disso a direita tenha a necessidade de manipular a “opinião pública”, é oportuno “entregar um boi de piranha” e nada mais.
Com uma instituição programada para matar e reprimir “legalmente”, falar em estado democrático de direito no Brasil é uma grande piada. A polícia no Brasil não tem nada haver com segurança de ninguém. É uma polícia que remonta ao Estado colonial escravagista. É uma polícia para conter as massas e impedir a revolta popular por meio de uma violência extrema.
É por isso que a única reivindicação séria, consequente, democrática, é a defesa incondicional da dissolução da PM e, em contrapartida, para cumprir o verdadeiro papel de proteger a população, é necessário criar e estabelecer milícias sob o efetivo controle da população, milícias populares eleita pela comunidade e por bairros.