Segundo levantamento realizado recentemente pela empresa estadunidense Alpha Data, publicado na revista especializada em música Rolling Stone, nas plataformas de streaming de música 90% das audições são de músicas de autoria de apenas 1% dos artistas. Isso significa que apesar do catálogo musical ser maior do que nunca, o acesso à diversidade refluiu ao invés de aumentar. Nunca tantos músicos publicaram seu trabalho, e nunca foram tão pouco ouvidos.
As plataformas de streaming, das quais as mais conhecidas são o Spotify e o Deezer, converteram-se no último período no lugar central do mercado musical, para onde confluiu o grosso da audiência. Hoje, ao lançar um trabalho, o essencial para o artista não é a venda de CD’s, mas a publicação nas plataformas de streaming. No entanto, a centralização do mercado musical em poucas plataformas digitais, ao invés de democratizar o acesso à arte, simplesmente amplificou o poder dos monopólios.
A empresa Alpha Data analisou as principais plataformas de streaming, contabilizando 1,6 milhões de artistas e 293,8 bilhões de audições, no período de janeiro de 2019 a julho de 2020. Segundo o levantamento, apenas 1% dos artistas (160 mil) receberam 90% das audições (264,4 bilhões), numa média de 1, 652 milhão de audições por artista, enquanto os restantes 99% dos artistas (1,58 milhão) receberam 10% das audições (29,3 bilhões), resultando em uma média de 18 mil audições por artista, um número 100 vezes menor.
Enquanto nas plataformas de streaming se verifica essa desigualdade (1% dos artistas – 90% da audiência), em outros meios a desigualdade é bem menor. Nos serviços de vendas online de faixas e discos, o 1% dos artistas mais populares tem 83% da audiência, enquanto na venda física de CD’s esse percentual cai para 53%.
É certo que nas plataformas de streaming ficou muito mais fácil para os artistas divulgar seu trabalho, mas isso não significa que alguém vá ouvi-lo. Diariamente, são adicionadas 40 mil novas músicas nas plataformas, porém, mais de 50% dos artistas tem menos de 100 audições em suas músicas. O streaming só é menos diverso que o rádio, que concentra 99,996% da audiência no 1% de artistas mais populares.
O que fica claro é que a “popularidade” dos artistas, como se pode verificar pelo já consolidado modelo do rádio, advém de considerações puramente comerciais, e não culturais. Os grandes monopólios de produção musical, à semelhança das grandes redes de TV ou dos grandes estúdios de cinema, não produzem praticamente nada pelo valor artístico que tais produções possam adquirir, isto é, pela contribuição ao desenvolvimento da humanidade que uma obra artística pode ter. Para essas empresas, trata-se apenas e tão-somente de um setor de acumulação capitalista, de um produto para ser comercializado e gerar enormes lucros.
Aos artistas que não correspondem aos padrões comerciais dos grandes monopólios, resta a dura via da marginalidade cultural, uma condição inclusive cada vez mais difícil por conta dos ataques fascistas ao setor cultural, com o desmonte de praticamente todo o sistema de financiamento da cultura popular. Esta pesquisa vem à tona para esclarecer que, ao contrário do que se propaga muitas vezes, as plataformas de internet são grandes monopólios capitalistas, e não espaços democráticos de difusão cultural.