Após intensos protestos que marcaram o território chileno nos últimos meses e que impulsionaram a forte crise no governo de Sebatian Piñera, está marcado para 25 de outubro o plebiscito constitucional do país, que decidirá na prática se os chilenos pretendem substituir ou não a Constituição de 1980, elaborada ainda durante a ditadura militar de Augosto Pinochet. O plebiscito é um dos eventos políticos mais importantes da América Latina nos últimos anos, e a pandemia do coronavírus está sendo utilizada para atacar o direito dos cidadãos chilenos de votarem sobre algo tão importante no país.
Isso porque o governo de Piñera pretende impedir que cidadãos infectados com a Covid-19 possam votar e chegarem aos lugares de votação, podendo até mesmo ser presos e pagando altíssimas multas por saírem de suas casas. A ação do governo de Piñera é ditatorial e não tem nada a ver com a pandemia. Primeiramente, a pandemia chegou ao país há meses, assim como em todos os países da América Latina, e em nenhum momento se foi pensando medidas alternativas de voto caso ocorresse uma votação nessas condições, onde o que se restou foi apenas a “solução” de impedir os infectados de votarem. A situação gera grandes problemas, pois no Chile as pessoas têm o direito irrestrito ao voto quando estiverem nos locais de votação, mesmo se estiverem infringindo outras regras, até mesmo se cometerem algum crime, o cidadão só é encaminhado à uma delegacia após exercer seu direito ao voto, ou seja, as pessoas só poderão ser abordadas e impedidas de votarem se estiverem a caminho do centro de votação. Esse tipo de medida abre margem para que qualquer pessoa seja abordada na rua e seja impedida de votar, afinal como será o controle daqueles que estão infectados? Outro fator que também abre margem para esse tipo de conduta é que a restrição de circulação não é exclusiva para os infectados, mas também para aqueles que estiveram em contato com o infectado, ou seja, dentro do processo eleitoral pessoas que talvez nem estejam contaminadas poderão ser impedidas de participar do plebiscito.
As medidas do governo de Piñera para a votação do plebiscito que pode mudar os rumos de várias políticas neoliberais do país é claramente uma forma de impedir os cidadãos chilenos de votarem e exercerem seu direito de manifestação contra a constituição vigente com o pretexto da pandemia. Não se foi pensada anteriormente nenhuma alternativa de voto para os infectados justamente para que se houvesse alguma forma de justificar a repressão a população e impedi-los de votarem. Segundo o governo, somente poucas horas antes da votação é que os Carabineros que trabalharão no plebiscito deverão saber quem são os infectados e onde se encontram, numa forma de controlar e impedir que os mesmos cheguem aos locais de votação, onde as informações são completamente confidenciais, o que poderá ser usado também contra outras pessoas numa forma de reprimi-las, e disso o governo Piñera entende muito bem, afinal foram vários os casos de agressões, mortes e mutilações durante os levantes da população contra o governo.
O caso chileno é mais uma demonstração de como a extrema direita tenta minar os direitos dos trabalhadores em todas as situações, e a pandemia está sendo amplamente utilizada para justificar os ataques a população.